Ambulantes se beneficiam de problemas estruturais da Ponte dos Barreiros

Trecho que interliga as áreas Continental e Insular está interditado para veículos desde 30 de novembro

Por: Matheus Müller  -  16/01/20  -  14:04
  Foto: Matheus Tagé

A Ponte dos Barreiros, em São Vicente, virou um grande comércio a céu aberto desde que foiinterditada pela Justiça, no dia 30 de novembro de 2019. Se aproveitando do intenso fluxo de pedestres e ciclistas, que atravessam os 600 metros entre as áreas Continental e Insular, ambulantes aproveitam para vender de tudo, como água, cerveja, milho, bolos e churrasco. Oportunismo? Para muitos, uma questão de sobrevivência.


Cassiano Silva, de 33 anos, é um desses exemplos. Recém-casado, com um filho e dois enteados, ele vende água pela Cidade, enquanto o veículo usado para trabalhar como motorista de aplicativo está no conserto. “Só não vou roubar e matar. Preciso trabalhar. É uma questão de sobrevivência”.


Foi o primeiro dia em que Silva trabalhou na Ponte dos Barreiros e, apesar da “grande concorrência”, o resultado foi positivo. Em menos de duas horas já havia vendido 24 garrafas de água por R$ 2,00 cada. “Esse agora vai ser meu ponto”.


Márcio Marotti Barros é outro que encontrou, na ponte, uma oportunidade de recomeçar e pagar as contas. “Estou desempregado desde novembro. Trabalhava com armação de óculos. Um amigo comprou esse carrinho (de milho) pra mim e, desde então, tenho trabalhado com isso”.


Por dia, Barros chega a vender entre 20 e 30 pratinhos de milho, por R$ 5,00, são quase 50 espigas consumidas. “Comecei a vender perto da estação do VLT, mas logo a ponte fechou e vim para cá. Tem bastante movimento, é melhor do que na praia. Dá para pagar as contas”.



Legenda: Barros tem pagado as contas de casa vendendo milho na ponte (Matheus Tagé)

Público agradece


A população que atravessa os 600 metros agradece a presença desses trabalhadores. “Não dá para aguentar esse sol na cabeça. Temos que parar e comprar uma água. É muito quente”, disse a aposentada, de 75 anos, Claudete de Paula Lima, moradora do Humaitá.


Ela ressalta, no entanto, que não pretende ter que comprar água todos os dias ou atravessar o trecho a pé. “Quero saber se vão recuperar a ponte ou é só jogo político”.


Assim como Claudete, muitos outros pedestres consumiam nas barraquinhas. Tinha churrasquinho, bolos, gritos de chup-chup e até um ciclista com um cesto repleto de sonhos de padaria.


A comerciante Eliane Viana Moraes, de 32 anos, preferiu comprar bolos para a família. “É bom porque ficamos com fome durante o trajeto. Melhor que tenha isso aqui. É uma oportunidade também para nos distrairmos”.


Histórico


A Ponte dos Barreiros está interditada desde 30 de novembro por decisão do juiz Fábio Francisco Taborda, da Vara da Fazenda Pública de São Vicente. Recentemente, a Prefeitura conseguiu junto ao Governo Federal um repasse de R$ 57,3 milhões para a restauração de toda a estrutura. A princípio será feita a reforma de 50 vigas em estado crítico.


O objetivo é conseguir a liberação parcial do trecho após a conclusão dessa primeira fase, o que está previsto para acontecer até abril. No momento, a empresa PHD Engenharia Ltda., realiza um projeto executivo dos serviços que precisam ser realizados, o que deve levar 30 dias. Depois será aberta licitação para contratar quem ficará responsável pela obra – mais 90 dias.


O juiz decidiu interditar a ponte após ter acesso a um relatório preliminar do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em que consta: “A condição estrutural é considerada crítica. Há danos gerando grave insuficiência estrutural na OAE (obras de arte especiais). Há elementos estruturais em estado crítico, com risco tangível de colapso estrutural”.


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