Em depoimento, 'Maníaco da Peruca' diz que nunca utilizou apetrecho ou arma; vídeo
Dentista Flávio do Nascimento Graça também negou ter qualquer envolvimento com magia negra; acusado falou que sofre de "apagões" e que não lembra de crimes
O dentista Flávio do Nascimento Graça, de 39 anos, apelidado de 'Maníaco da Peruca' negou que utilizasse o apetrecho que possuía uma arma. O homem é acusado de ter assassinado os três irmãos proprietários da Clínica Americana: Agilson Corrêa de Carvalho, Aldacy Correa de Carvalho e Arnaldo Correa de Carvalho.
A afirmação foi feita durante depoimento do acusado na Justiça, em Santos. Graça foi interrogado, por cerca de uma hora, pela juíza, o promotor e os assistentes de acusação. "Não, nunca usei essas coisas", disse o dentista, ao ser questionado sobre possuir arma e a peruca.
O vídeo do depoimento de Flávio do Nascimento Graça foi obtido pela equipe de produção da TV Tribuna, afiliada à Rede Globo. Durante a audiência, o homem disse não lembrar de ter cometido os crimes. O acusado comentou "ouvir vozes" e que sofre "apagões" em sua memória, o que ele considerou um "turbilhão na cabeça".
"Tem alguns flashes e não sabe se aquilo é real, se é sonho, pesadelo", relatou o dentista. Ele ainda demonstrou ressentimento pelo primeiro crime, contra Agilson Corrêa de Carvalho, ao dizer que a vítima teria "acabado com a sua vida". No entanto, ele não soube justificar a afirmação.
Graça ainda falou não se lembrar dos disparos que fez contra Aldacy Correa de Carvalho e outras duas pessoas que estavam com ela. A defesa alega que o acusado, que está preso desde novembro do ano passado no presídio de Tremembé (SP), não pode responder por seus atos.
Vozes
Segundo o acusado, as vozes já o acompanham há muito tempo, mas não soube precisar uma data. Ele explicou que as vozes falam e mandam fazer coisas. Quando perguntado sobre que tipo de mensagens são ditas, o dentista disse, por exemplo, ter ouvido "ele vai te ferrar", mas sem se referir a quem.
As vozes variam entre masculinas e femininas. Graça afirmou não lembrar se alguma das vozes teria mandado ele cometer os crimes. O homem ainda contou que as vozes conversavam, em tom baixo, durante a audiência. Segundo ele, alguns dias são mais tranquilos, outros piores. "Elas atrapalham. Tem dias que é devastador", comentou o acusado.
Magia negra
Flávio do Nascimento Graça também foi perguntado sobre seu envolvimento com magia negra. No ato de sua prisão, policiais localizaram livros sobre a prática e um local que seria usado como uma espécie de templo para devoção.
De acordo com o acusado, os livros eram apenas para estudo. "Eu lia de tudo. Lia bastante. Lia todo tipo de coisa. Não tinha magia negra. Eram religiões. Eu estava estudando sobre religiões", tentou explicar Graça.
"Eu tinha vários livros. Magia negra era um livro de um tipo de religião. Não me atraía, nunca fui do tipo de praticar", completou o dentista, que afirmou ser católico e disse desconhecer qualquer local para devoção dentro de casa.
Relembre o caso
O dentista Flávio do Nascimento Graça é suspeito de ser responsável pelas mortes de três pessoas ligadas a uma clínica dentária em Santos. A motivação dos crimes foi vingança, já que o profissional não aceitava a concorrência de outro consultório odontológico na mesma rua, situação que teria levado o dentista à falência. O homem, considerado 'serial killer' pela polícia, ficou quatro anos foragido e foi detido em novembro do ano passado, em um apartamento no bairro Pompéia.
De acordo com as investigações da polícia, ele matou três irmãos proprietários da Clínica Americana: Agilson Corrêa de Carvalho, Aldacy Correa de Carvalho e Arnaldo Correa de Carvalho. As vítimas foram mortas a tiros por vingança, pois o dentista mantinha duas clínicas no Centro de São Vicente quando, em meados de 2007, os irmãos abriram um consultório ao lado e acabaram ficando com a clientela de Fábio, que veio a falir. Segundo o depoimento de uma ex-funcionária de Flávio na época, ele sequer assistia canais que divulgavam comerciais da clínica dentária 'rival'.
Durante as investigações, a polícia detectou que, após os crimes, o dentista apagava as pistas. Na época, a Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreensão na residência onde o dentista morava. No local, os agentes encontraram diversos livros de bruxaria e magia negra.
No dia 23 de dezembro de 2014, o empresário Agilson Corrêa de Carvalho, de 54 anos, foi morto com um tiro na cabeça quando saía da clínica. No dia 15 de julho de 2015, Aldacy Correa de Carvalho, de 56 anos, também foi assassinada ao sair de uma das unidades da clínica, que fica no Centro de Santos. Ela estava acompanhada por outras duas pessoas, que também foram alvos dos disparos. Uma delas era Arnaldo Correa de Carvalho, de 54 anos, que morreu após passar quatro meses internado.
