Uma vovó com muitas histórias para contar

Aos 84 anos, Maryse Dalmaso tem mais de 200 na sua memória. Foi pela paixão que ela acabou dando nome ao troféu que homenageia aqueles que se dedicam à arte da narrativa dos contos

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  23/11/19  -  14:14
Para Maryse, encantamento das crianças pelos contos se dá pelo fato delas brincarem pouco atualmente
Para Maryse, encantamento das crianças pelos contos se dá pelo fato delas brincarem pouco atualmente   Foto: Carlos Nogueira/AT

Era uma vez uma senhora de 84 anos que encantava a todos com a contação de histórias. Todos os dias, a mulher circulava por Santos, indo até os locais mais distantes pelo prazer de entreter crianças, jovens e adultos com fábulas que sempre traziam uma mensagem positiva.


Esse poderia ser o início de mais um conto para crianças, mas é a realidade da contadora de histórias Maryse Dalmaso, cuja dedicação ao ofício voluntário fez seu nome virar troféu para homenagear quem se destaca na arte de narrar para entreter.


Com mais de 200 histórias guardadas na cabeça, ela, que sempre gostou de um relato, lembra que desde pequena ouviu muitas delas de sua avó e mãe e as compartilhou, ao longo da vida, com filhos, netas e bisneta. 


Mas foi há 13 anos que ela começou a se dedicar de fato à contação de histórias. “Por acaso, há 25 anos, estava em um coral, quando Alexandre Camilo e Fernando Pompeu foram dar uma aula para a gente de artes cênicas. Gostei, comecei a viajar e a apresentar peças em colégios. Em 2006, fiz um curso de contadora de histórias e não parei mais. Foi assim que comecei, sem querer, a contar história”.


  Foto: Carlos Nogueira/AT

Maryse faz parte do projeto Vovô sabe Tudo, da Prefeitura de Santos, vai a vários pontos da Cidade para levar suas fábulas para estudantes da rede pública, que ficam hipnotizados com as narrativas, cheias de interpretação que levam a imaginação longe. “Eu achava que os maiores a partir do 3º ano não iam querer, mas eles gostam e pedem mais histórias”.


Mesmo com grande repertório, a contadora recorre à busca do Google para achar um novo conto que prenda a atenção de seus espectadores. 


E quando o texto tem temas que podemser considerados pesados para os pequenos, Maryse dá um jeitinho de suavizar a história, como no caso da história de Ali Babá e os 40 ladrões. Nela, ela troca uma punhalada fatal que mata um ladrão, por um punhal que indica ao xerife quem deve ser preso pelo crime.


“Se contar a história em que matou e enfiou a faca, na hora que eles vão brincar, querem fazer igual. O lobo mau do chapeuzinho Vermelho, por exemplo, guarda e não come a vovó”.


Aliás, Maryse percebe que o encantamento das crianças com a fantasia se dá justamente pelo fato delas brincarem pouco nos dias de hoje. “Eles ficam muito tempo no computador, no celular, e não têm tempo de se sentirem crianças. A história permite isso”.


Prêmio


Foi por conta da paixão por histórias que Maryse acabou dando nome ao troféu que homenageia aqueles que se dedicam à arte da narrativa dos contos. O prêmio faz parte do 3° Encontro de Contadores de Histórias que neste sábado, a partir das19h, na Pinacoteca Benedicto Calixto, vai para o poeta popular, professor e folclorista Marco Haurélio. 


Ele recebe a honraria das mãos de Maryse pelo trabalho de pesquisa que vem desenvolvendo sobre a tradição da oralidade no interior do Nordeste, que resultou no livro Vozes da Tradição, que inclusive está sendo lançado no evento. No ano passado, na primeira edição da premiação, a contemplada foi a contadora de histórias Lenice Gomes.


Aos que pretendem se embrenhar nas narrativas, ela dá a receita do sucesso: “Para ser um bom contador de história tem que gostar de criança, de contar história de um jeito que não se vê hora e nem distância”.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter