Sem plateia, sem espetáculos: atores são afetados pelos efeitos do coronavírus

Em um momento onde plateia cheia é sinônimo de risco à vida, espetáculos teatrais tiveram que encerrar temporadas da noite para o dia e agendas aguardam o cenário da Covid-19 melhorar para a definição de novas datas de peças. 

O ator santista Ney Latorraca é um dos que estão à espera para a estreia de Seu Neyla, um musical escrito por Heloísa Périssé e dirigido por José Possi Neto. O texto conta um pouco dos 55 anos de carreira do artista, passando inclusive por sua infância e adolescência em Santos, na época em que ele estudou no Colégio Canadá e subiu ao palco pela primeira vez.

Agora não é a hora de pensar na minha profissão, no meu umbigo. Voltaremos quando pudermos. Esse é o momento de um ajudar o outro”, diz Latorraca, que fala de uma mobilização que está ocorrendo no Rio de Janeiro, onde mora atualmente,para ajudar artistas sem recursos pela paralisação dos trabalhos com doação de cestas básicas, além do Retiro dos Artistas.

A previsão era que a peça viesse para São Paulo em maio, o que também não deve ocorrer. “Talvez sigamos para outras capitais, que tinham agenda mais para frente e depois volte para Rio e São Paulo. Também tenho vontade de levar a peça para Santos”, conta o ator de 75 anos, que está recluso em sua casa.

Cenário Nacional 

De acordo com a Associação Nacional de Produtores de Teatro, atualmente, são cerca de 5,2 milhões de trabalhadores formais e informais no setor das artes e da cultura no Brasil. Antes do fechamento dos teatros, a entidade estima que estavam em cartaz 100 espetáculos no Rio de Janeiro e 240 em São Paulo.

Na semana passada, a secretária especial de Cultura, Regina Duarte, postou em suas redes sociais que vinha recebendo mensagens dos impactos provocados pelo coronavírus. Profissionais do setor afetados pela impossibilidade de prosseguir em suas atividades de produção cultural demandavam providências urgentes.

“Sensibilizada, venho me reunindo com minha equipe e construímos uma instrução normativa que se sustenta em três eixos: permite que o proponente possa movimentar recursos abaixo do limite previsto de 20% da captação prevista; permite que o projeto cultural possa ser alterado na fase de execução a qualquer tempo e ainda um formato de avaliação mais flexível na prestação de contas do proponente”, afirmou a secretária em vídeo em sua conta de Instagram, no último dia 20.

Antes da publicação, o texto deveria ser encaminhado ao Ministério da Cidadania, para análise e posterior prorrogação. A expectativa do setor é de que essa instrução normativa seja publicada em breve.

Desde o dia 19, Regina vem se reunindo também com secretários estaduais de Cultura, por meio de videoconferência, para traçar um diagnóstico sobre os impactos causados pela pandemia no setor cultural. Procurado, o Ministério do Turismo, ao qual a Secretaria Especial de Cultura está ligado, não respondeu até o fechamento desta edição.