Questões sociais entram em debate no longa-metragem 'A Casa'

Temática do longa espanhol, disponibilizado recentemente na Netflix, lembra e muito a abordagem de "Parasita", vencedor do Oscar

Por: André Azenha - Crítico de Cinema & Especial para A Tribuna &  -  02/04/20  -  11:31
Atualizado em 02/04/20 - 11:32
Filme mostra o drama de um publicitário veterano que fica desempregado mas não quer perder o status
Filme mostra o drama de um publicitário veterano que fica desempregado mas não quer perder o status   Foto: Reprodução

O sujeito se infiltra na casa de família de melhor condição financeira. Passa a conviver com essas pessoas. Em algum momento haverá violência. Grosso modo, tal sinopse nos remete a Parasita, o grande vencedor do Oscar 2020. A comparação é inevitável.


Tal qual o filme sul-coreano, a produção espanhola A Casa, disponibilizada recentemente pelo Netflix, também aborda diferenças sociais. Porém, a dinâmica é um pouco diferente. Se a obra de Bong Joon-ho nos apresentava duas famílias em situação social completamente diferentes, uma pobre e outra rica, aqui conhecemos Javier Muñoz (Javier Gutiérrez).


Publicitário veterano, respeitado, dono de campanhas memoráveis. Vive num apartamento com a esposa Marga (Ruth Díaz) e o filho pré-adolescente. Vida dos sonhos. Mas está desempregado. Os tempos mudaram. Os gestores das agências agora são jovens. Com ideias diferentes. Nas entrevistas de emprego, é humilhado. Não quer abrir mão do status.


Sua companheira, de bom senso, pede pela mudança a um bairro onde o custo de vida seja mais barato, ao menos até a situação melhorar. Precisariam, inclusive, vender o carro. O protagonista, inconformado com o novo estilo de vida, fica obcecado em saber quem ocupou a antiga residência luxuosa. Daí em diante veremos uma série de situações inusitadas, bizarras, envolvendo até o jardineiro do prédio.


Os cineastas irmãos David Pastor e Àlex Pastor são jovens e possuem no currículo vários trabalhos como roteiristas e alguns na direção, como o premiado Os Últimos Dias (2013). A juventude é perceptível na energia com que conduzem a trama. Estranha-se a falta de câmeras de vigilância no edifício onde a maior parte da história é desenvolvida. E a situação do jardineiro é encerrada meio ao solavanco. Não dá para entrar em mais detalhes. 


Ao mesmo tempo, o filme nos faz refletir questões importantes. Que têm a ver com o momento que passamos devido à pandemia da Covid-19: de revermos conceitos, códigos sociais, formas de viver e de nos relacionarmos e apresentarmos à sociedade.


Em A Casa, o status para Javier está acima do bem-estar, das relações humanas. Além de ter, é preciso mostrar que tem.


No filme espanhol há ainda o conflito de gerações, a maneira cruel como o mercado de trabalho trata os mais velhos. Momentos que ganham peso graças ao elenco competente, encabeçado por Gutiérrez (de vários prêmios) e Mario Casas (do ótimo thriller Um Contratempo, 2016, Netflix), que interpreta o novo morador do apartamento luxuoso.


Por sinal, vale ressaltar essa leva de produções audiovisuais da Espanha que, ao estilo da França, leva ao público histórias de mistério e adrenalina ao jeitão hollywoodiano: o próprio Um Contratempo, O Silêncio da Cidade Branca (2020) e as séries Toy Boy e a manjada La Casa de Papel, todos disponíveis na plataforma de streaming.


A Casa. Hogar. Espanha. 2020, 1h43. Direção de David Pastor, Àlex Pastor. Com Javier Gutiérrez, Mario Casas, Bruna Cusí, Ruth Díaz. 


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