'Quem tem Medo do Lobo Mau?' e o politicamente correto

Livro de Luiz Felipe Pondé e Ilan Brenman aborda os impactos na formação das crianças

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  23/10/19  -  14:43
  Foto: Reprodução

Contar histórias de princesas para meninas pode desestimular a independência feminina e fazer com que, no futuro, essa mulher fique à espera do seu “príncipe encantado”, do homem que seja provedor de sua felicidade? E meninos que ouvem contos de piratas, com saques e lutas de espada, podem se tornar violentos? Essas e outras questões do politicamente correto no cotidiano das crianças são alvo de muita discussão e polêmica.


É esse o gancho do livro 'Quem tem Medo do Lobo Mau?' O impacto do politicamente correto na formação das crianças, onde o filósofo Luiz Felipe Pondé e o psicólogo Ilan Brenman debatem e desmistificamo tema.


Os autores concordam que evitar que os pequenos tenham contato com essas histórias antigas e o pensamento que está por trás delas, que passam de geração para geração, esvazia a linguagem e produz um enfraquecimento do mundo simbólico, o que interfere negativamente na formação e no desenvolvimento.


“O controle da linguagem põe em xeque o que pode e não pode. Não pode falar ‘matar cachorro a grito’, ‘pegar o boi pelo chifre’, ‘matar dois coelhos com uma cajadada só’? Se não se trabalha com metáfora, a criança vê o mundo de fora. Menos linguagem, menos pensamento e reflexão”, avalia Brenman.


Ele considera muito grave a proibição de determinadas histórias nesta fase de formação. “Ao negarmos às crianças brincadeiras e histórias por considerá-las estereotipadas, estimuladoras de violência, que reforçam papéis na sociedade, estamos rachando a infância. Elas ficam inquietas, revoltadas, angustiadas e, como consequência, temos o aumento de medicação e de indisciplina”, reforça o especialista.


Pondé, que também é professor universitário, afirma que já encontra os jovens “danificados” pelo que considera a patrulha do pensamento, que produz pessoas incapazes de lidar com emoções. “A minha impressão é que as pessoas que se reuniram um dia e decidiram fazer um mundo melhor estão acabando com o mundo, na verdade, porque os jovens estão muito piores do que eram há 15 anos: inseguros, frouxos, medrosos”.


Boas histórias


Para reverter essa situação – o que não acontecerá a curto prazo –, Pondé aposta na atuação direta dos pais de forma positiva: “Eles têm que ensinar seus filhos que são todos iguais e não se deve ter preconceito e não com uma censura e intervenção avançada”.


Brenman acredita na formação dos pequenos através das boas histórias que, mesmo tendo em seu contexto algumas situações do politicamente incorreto, trazem o pensamento crítico e criam a riqueza simbólica das coisas. “Histórias que emocionam há muitos séculos têm ISO 9002 de qualidade, ainda que repletas de bruxas, piratas e tragam medo para os pequenos. E os pais têm que ensiná-los a vencer o medo”, orienta Brenman.


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