Era uma vez uma pandemia, que obrigava a todos ficarem distanciados uns dos outros, a não sair de casa, não ir à escola e o pior: com medo de contrair uma terrível doença! Bem longe de ser uma história feliz, a quarentena ao menos tem nos levado a criar novos hábitos ou ampliar outros. É o caso da leitura de livros.
E os contos de fadas têm um papel importante nesse processo. Não só para as crianças, mas também àqueles que um dia já se aventuraram nas histórias de Rapunzel, Cinderela, O Gato de Botas, Barba Azul, Chapeuzinho Vermelho.. só para citar alguns títulos de nosso imaginário coletivo!
Isto porque os contos são um catálogo dos destinos humanos, do que pode acontecer aos seres humanos, como considera um dos mais importantes autores do século 20, o escritor e pesquisador italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Segundo a professora e pesquisadora Susana Ventura, Calvino foi o responsável por reunir contos de fadas italianos de muitas fontes e vertentes, no livro Fábulas Italianas (Companhia das Letras, edição de bolso) no começo dos anos 1950. “O tipo de trabalho feito aqui no Brasil pelo historiador Silvio Romero (1851-1914) e na Alemanha pelos Irmãos Grimm (século 19), lá foi feito pelo Calvino”, explica Susana, ao destacar que é o escritor italiano quem nos fala desse catálogo de destinos, que é uma lista do que pode nos acontecer durante a vida e é retratado nas histórias.
Como exemplos ela cita temas como orfandade (Cinderela, Gato de Botas, Branca de Neve), exploração Cinderela, Rapunzel), e medo (Chapeuzinho Vermelho, Grimm). “Veja o aprisionamento. O nosso é o mesmo de Rapunzel, presa na torre sem portas, trabalhando sem cessar e sem horizontes”, observa a pesquisadora, que reforça que as questões do que pode nos acontecer e como podemos atravessar isso (a pandemia) estão nos contos.
Mas se formos contar essas histórias clássicas para as crianças, devemos fazer a associação com a realidade, traçar um paralelo?
Susana responde que não é preciso. “O conteúdo (dos contos de fadas) é simbólico. Por isso tantos de nós, mesmo adultos, continuamos a gostar das histórias”, enfatiza. Especificamente com relação às crianças, a pesquisadora explica que elas elaboram os conteúdos de acordo com o que elas precisam psiquicamente.
Os livros ajudam a nossa mente a viajar, a nos distanciarmos um pouco dos problemas reais, mas, ao mesmo tempo, ajudam a elaborar questões, mesmo para os adultos. “Estamos em pandemia, um momento de exceção. Então, adultos: pensem no que vocês lembram desses conteúdos (vindos por livro, game, desenho animado, televisão, disco). Façam uma lista do que gostavam, perguntem aos amigos e parentes do que eles se lembram (é um exercício que pode fortalecer laços de afeto). Com a lista em mãos, veja se encontra os contos preferidos”, aconselha Susana
Variedade
Para as crianças, ela afirma que é preciso variedade. “Oferecer contos é como oferecer comida. Leia ou conte oralmente, de acordo com seu próprio modo de ser. Escolha alguns contos que podem ser bons para este momento e que você encontra facilmente.”
Além dos livros, a pesquisadora indica algumas produções on-line, que também podem ajudar as crianças e seus responsáveis a criarem momentos de puro prazer, juntos. É o caso das gravações de clássicos (já são 18) que os alunos do Colégio Miguel de Cervantes, da Capital, estão dispobilizando no seu canal no YouTube, algo como Histórias do Mundo, com boa sonoridade.
Há ainda a Coleção Disquinho – Histórias Completas, igualmente disponível no YouTube; e ainda as lives dos contadores de histórias – muitos aqui da nossa região – que nos embalam com sua magia.
Sugestões de livros
Para os pequenos
Para quem já cresceu um pouco (a partir de 9 anos)
Para os adultos que desejam ler e contar
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