Orgânico e pessoal, o novo James Blunt

Ao longo de seus 45 anos, o cantor britânico James Blunt enfrentou diversas batalhas. De uma família com forte tradição militar, o músico chegou a integrar uma missão no Kosovo, em 1999. Lá, conheceu o Médico Sem Fronteiras, projeto que ajuda até hoje com leilões. Viveu a alegria de emplacar um hit mundial, com You’re Beautiful, em 2005, fruto do debute.

De lá para cá, foram cinco álbuns de estúdio. Provavelmente nenhum tão pessoal e orgânico como o sexto, Once Upon a Mind, lançado na última sexta-feira (25), via Warner.

Em entrevista, por telefone, para A Tribuna, Blunt falou mais sobre o processo de composição. Segundo o inglês, no “último álbum só estava me divertindo”.

“Precisava fazer um álbum, então decidi colaborar com excelentes artistas e fazer estilos de músicas que eu mesmo queria ouvir e curtir. Fiz um álbum que amei demais”, comentou ele, ao lembrar que flertou com o eletrônico.

Posteriormente, o artista passou por uma fase pessoal meio difícil. “Senti vontade de voltar ao lugar onde meu coração se sente à vontade na música. Foi uma necessidade musical”. 

Para Blunt, Once Upon a Mind é um reflexo do período que esteve longe da família por conta das turnês. “Fiz isso pela minha paixão pela música, mas gerou consequências em casa”. 

A necessidade de mudança fugiu completamente do âmbito profissional. “Fui a um lugar onde precisava ir pela minha alma. Não fui por diversão, e sim uma urgência para capturar o que havia em minha mente para agradar as pessoas que amo. Por isso, esse álbum não é para o público, não é para você, é para minha família. E, por isso, também, o gravei de uma forma que achei mais honesta”.

Monsters, um dos singles divulgados antes do lançamento do álbum, é um exemplo desse momento mais pessoal de Blunt. O artista detalha como se sentiu após receber o diagnóstico do pai, que espera por um transplante de rim para sobreviver.

"Eu não sou seu filho, você não é meu pai. Somos apenas dois homens adultos dizendo adeus. Não há necessidade de perdoar, não há necessidade de esquecer. Conheço seus erros e você conhece os meus”, canta em um dos momentos mais emocionantes da faixa.

Na última quarta-feira (23), enquanto participava do programa de TV Good Morning Britain, Blunt fez um apelo por ajuda ao pai. “Meu pai não está muito bem. Ele precisa de um novo rim. Vim aqui para perguntar qual é o grupo sanguíneo de vocês”.

Comparação

O compositor chegou a declarar que Once Upon a Mind é o seu registro mais honesto desde o debute, Back to Bedlam (2004). Mas com algumas diferenças bem visíveis.

“No meu primeiro álbum, escrevia de forma ingênua, até que bonita, sem orientação nenhuma, mas era muito cru. Mas fiz You’re Beautiful, gravei o vídeo, cheguei no topo das paradas, então, tudo mudou para mim de alguma forma. Eu era visível, então precisava estar ciente de que tinha um público grande me ouvindo. Assim como o novo álbum, o primeiro não foi para o público, foi algo honesto demais, o que é muito arriscado de se fazer”.

Impacto militar

A vivência no exército tem impacto até hoje na vida de Blunt. De acordo com o músico, ser um soldado te faz ser “menos político e muito mais diplomático” (pelo menos no Reino Unido). 

“Você procura paz, estabilidade e quer que todos cheguem em casa vivos. Escrevo músicas com essa compaixão. Hoje em dia o mundo está muito polarizado. Ou você é esquerda ou direita. Eu não sinto que estou nem no meio. Eu estou fora dessa história”.

Ele acrescenta que não sabe se a música tem o mesmo efeito para os fãs como tem para si próprio. “Minha música é algo que me ajuda a lidar com pressões. Acho que a música tenta fazer o que os políticos não fazem. Ela aproxima estranhos e os faz virarem amigos, conecta as pessoas de alguma forma”. 

A nova turnê de Blunt, que deverá contar com várias versões acústicas de Once Upon a Mind, terá início no começo de 2020, com datas marcadas na Europa. O Brasil, no entanto, segue nos planos. “Eu amo o Brasil demais, espero com certeza passar por aí”.