Obra-prima de Jorge Ben Jor completa 50 anos

Álbum A Tábua de Esmeralda ainda é um marco da MPB, ao unir samba e conceitos esotéricos

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  13/04/24  -  10:40
A Tábua de Esmeralda. Lançado em 1974, originalmente pela Phillips, apresenta uma costura de temas improváveis
A Tábua de Esmeralda. Lançado em 1974, originalmente pela Phillips, apresenta uma costura de temas improváveis   Foto: Reprodução

O tempo passa, as obras-primas não envelhecem, mas nem por isso deixam de completar meio século. É o caso do emblemático álbum de Jorge Ben Jor (então Jorge Ben), A Tábua de Esmeralda. Lançado em 1974, originalmente pela Phillips, apresenta uma costura de temas improváveis, como direitos civis, cristianismo, futebol, alquimia e filosofia hermética. Tudo isso em um álbum, basicamente, de samba e samba rock.


“Ele se tornou clássico pela força e pela claridade dele. Continua tendo um potencial de sedução sobre as novas gerações que é muito impressionante”, afirma o músico, professor de Filosofia da Arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo da Costa e Silva. Ele é autor de A Tábua de Esmeralda – Jorge Benjor, da série O Livro do Disco, da Editora Cobogó.


“Em outro sentido é difícil defini-lo como clássico. Quando a gente fala em clássico, parece que está falando de algo que se tornou domesticado, cuja forma foi tão consagrada que foi apreendida, aprisionada, equilibrada demais. O clássico já não tem muita estranheza e esse álbum é coalhado de ângulos inusitados e asperezas, coisas pontiagudas que continuam muito estranhas”, analisa.


À época, a alquimia em um álbum de MPB deve ter sido uma das estranhezas mais evidentes, a julgar por uma entrevista do próprio Benjor, de 8 de janeiro de 2022, ao W/Cast, podcast do publicitário Washington Olivetto. “Não sabiam o que era alquimista, pensavam que era alpinista. Em muita entrevista eu tive que esclarecer”.


Temas de uma vida
Paulo enfatiza que A Tábua de Esmeralda é uma obra temática. Mas com tantas vertentes, qual seria o tema? A resposta: o próprio Jorge Ben Jor. A história misteriosa desse artista que, aos 13 anos foi para o seminário São José do Rio de Janeiro, onde aprendeu latim e canto gregoriano. Talvez tenha sido nessa época o contato com a alquimia. Um artista que também chegou a integrar o time infanto-juvenil do Flamengo – outra paixão –, e cujo primeiro instrumento musical foi um pandeiro – o violão só chegou aos 18 anos.


“Ele misturou a batucada, música de rua, ponto de macumba com músicas modais do canto gregoriano”, analisa Paulo. “Essa reunião soa harmoniosa. O disco tem uma unidade estranha: há coisas muito diferentes nele, mas você não estranha essa diferença. Esse é um ponto crucial: como ele conseguiu criar uma unidade a partir de coisas tão diferentes?”.


Alquimia musical
Talvez a alquimia não esteja no álbum: talvez ela seja o próprio álbum. “A alquimia é o princípio da mistura. O Jorge Ben, num certo sentido, está fazendo uma descrição do que ele próprio é, de que ninguém é o somatório de partes isoladas: da mistura emerge algo novo, que não pode ser explicado pela mera adição das partes constituintes”.


A alquimia ganha outros contornos, como uma metáfora da própria força criativa de Jorge Ben Jor, e também um dos pilares que fazem de A Tábua de Esmeralda um álbum eterno. “É um ápice artístico. Minha certeza pessoal é de que esse álbum continua. Ele já passou pelo crivo do tempo: se viveu 50 anos, viverá outros 50”.


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