'Música de Quebrada' retrata cena autoral periférica da Baixada Santista

Minidocumentário reúne quatro histórias de artistas de vários gêneros musicais, todos residentes da Baixada

Por: Bia Viana  -  17/11/21  -  09:52
Atualizado em 29/11/21 - 06:59
Minidocumentário 'Música de Quebrada' retrata cena autoral nas periferias da Baixada Santista
Minidocumentário 'Música de Quebrada' retrata cena autoral nas periferias da Baixada Santista   Foto: Divulgação

Em incentivo à música popular, o minidocumentário Música de Quebrada foi lançado este mês apresentando quatro artistas da cena autoral da Baixada Santista. O filme conta com produção do MAIS Música Autoral Independente Santista, em parceria com o Sesc Santos. Ugo Castro Alves assina a direção, com roteiro coescrito com Lua Marina.


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Os quatro músicos escolhidos para protagonizar o curta são o sambista Alexandre Branches, a rapper Mary Pozzett, o funkerio MC Kbeça e o rapper Carlos Tatu, do grupo Art Radical, de Santos. O mapeamento de artistas autorais da região já é uma função conhecida do MAIS, mas pelo curta, consegue explorar de forma mais detalhista o trabalho dos quatro músicos, que representam diferentes nichos musicais.


Segundo Ugo, a ideia surgiu de ilustrar como o mercado da música foi transformado durante a pandemia. "Todos os artistas e trabalhadores da cultura foram impactados. E dentro das periferias, pra quem tá fazendo arte na quebrada, como foi? A gente queria contar histórias reais de quem, além de todas as dificuldades da vida, ainda quer e ama fazer música".


A curadoria de artistas foi feita pela dupla, que buscava entender os principais obstáculos de carreira dos músicos de comunidades periférias antes e durante o período pandêmico. "Dentro da perspectiva da diversidade, procuramos encontrar vozes que representassem com qualidade outras linguagens musicais da periferia. São as vozes que nós procurávamos", afirma o diretor.


Lua conta que o filme é só o começo. "É fruto, e ao mesmo tempo, semente. É mais uma iniciativa que fomenta a música da região. O filme contribui na propagação e reconhecimento desses artistas".


Nas entrevistas, os realizadores abordam os sonhos e objetivos de cada um dos artistas. Os olhos brilham enquanto cada um disserta sobre o que vê para o futuro, com um sentimento em comum: viver de música. "Foi emocionante ver o filme no mundo", descreve a roteirista, "mas agora queremos ver o filme numa verdadeira telona de cinema".


Preconceito

A luta contra a discriminação latente na indústria musical é uma fala comum entre os convidados no filme. Mesmo que tenha aumentado sua visibilidade, a música periférica ainda sofre com o preconceito.


O principal problema é a falta de investimento. "Muitas das produções musicais são financiadas pelos próprios artistas, o que compromete a frequência e distribuição das produções". Para solucionar a questão, o caminho se inicia na via pública. "A ampliação de políticas públicas direcionadas às periferias, à igualdade social e à cultura periférica contribuiria muito para amenizar essas dificuldades", explicam os realizadores.


Fora os obstáculos já existentes para fomento da carreira artística, a pandemia agravou o desafio. Impedidos de trabalhar, muitos foram privados do básico, seja a comida na mesa ou as contas pagas. "A cena musical precisou se adaptar de forma muito brusca ao mundo digital para tentar sobreviver. Muitos músicos passaram por momentos muito, muito difíceis", conta Ugo.


Os criadores ressaltam, diante das adversidades, a mensagem principal do filme. "O filme apresenta quatro histórias de amor e luta, artistas reais e grandes sonhos. O tema é inspirador porque, mesmo na adversidade, mostra que é possível: é possível ser artista na quebrada, é possível fazer música e arte na quebrada, é possível viver o sonho. E isso é combustível pra novas floradas".


Projeções

Ainda não é possível planejar os caminhos do filme ou definir cronogramas de exibição, rodas de conversa ou debates, mas segundo a equipe, tudo isso está em pauta para o futuro próximo. Aguardando a liberação para eventos nessa fase final de pandemia, o grupo promete que muito ainda está por vir. Enquanto isso, Música de Quebrada está disponível no YouTube do Sesc Santos.


O que caracteriza a música de quebrada?

"Música de quebrada é tudo o que é popular nas periferias, mas o filme oportunizou a fala de artistas que cantam suas quebradas, para além do entretenimento e da diversão; são aqueles que criam no dia a dia uma realidade diferente nos seus territórios por meio da voz e da conscientização" - Ugo e Lua


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