Livro "À Cidade" ganha o 60º Prêmio Jabuti 2018

Interessados em ler as poesias de Mailson Furtado terão que esperar nova tiragem

Por: Vinicius Holanda  -  13/11/18  -  15:07
  Foto: Divulgação

Se você está curioso para ler os versos de À Cidade, obra que na quinta-feira venceu o 60º Prêmio Jabuti nas categorias Poesia (R$ 5 mil) e Livro do Ano (R$ 100 mil), terá de esperar. Seu autor, o cearense Mailson Furtado, distribuiu os últimos 40 exemplares do total de 300 que bancou de forma independente na noite da premiação. “Preciso pensar numa nova tiragem”, brincou o poeta, em entrevista ao Galeria, no sábado (10), horas antes de retornar para sua Vajota (CE), município de 18 mil habitantes.


“Ainda está passando a anestesia”, disse o servidor público municipal, sobre o fato de ter conquistado o mais tradicional prêmio literário brasileiro. O feito é digno de comemoração: ao contrário de outros concorrentes que dispunham da estrutura fornecida por grandes editoras, ele foi o responsável por diagramar, projetar a capa e montar a estrutura do livro, de 60 páginas.


“Não tive tempo ainda de pensar em tudo o que está acontecendo, nem sei o que vou fazer daqui para frente”, admitiu. O vencedor do prêmio, entregue no Auditório do Ibirapuera, na Capital, afirma que já recebeu convites para eventos e foi sondado por algumas casas editoriais.


A obra, concluída no final de 2015 e publicada em abril último, traz um único e extenso poema, algo inédito na produção do autor – ele havia lançado, antes, os livros Sortimento (2012) e Versos Pingados (2014), de poesia, e Conto a Conto (2013), de, claro, contos.


“Foi algo muito pontual. Meus poemas anteriores eram curtos. Esse, escrito em torno de 20 dias, me apareceu de forma orgânica”, explicou Furtado. “Eu comecei com um pequeno trecho, que acabou me ‘pedindo’ mais coisas. Uma experiência visceral”.


Mestres


Para se aventurar no poema de grandes proporções, o autor se apegou a três nomes bem conhecidos nessa tradição, todos também nordestinos – o pernambucano João Cabral de Melo Neto, o maranhense Ferreira Gullar e o cearense Gerardo Melo Mourão.


“Foi coincidência mesmo, não busquei nada nesse sentido”, afirmou o poeta – que faz questão de reivindicar a luz que os mestres jogam sobre sua produção. “O (compositor) Hermeto Pascoal diz que não temos que ter vergonha de sofrer influências. Somos compostos de influências. Tenho muito orgulho de todos os artistas que me construíram”. Além de trabalhar com literatura, Furtado escreve dramaturgia para a Companhia Criando Arte, com 12 anos de estrada.


A obra é dividida em quatro partes — Presente, Pretérito, Pretérito-Mais-que-Perfeito e Futuro do Pretérito — e traça cenas cotidianas de uma cidade semelhante à sua pequena Vajota. “Um amigo diz que meu livro não tem título, Começa pela dedicatória”, se diverte.


“Traz experiências bem pessoais, vividas nas cidades em que cresci na região norte do Ceará. Mostro o cotidiano, a história, as características geográficas das localidades banhadas pelo Rio Acaraú”, comentou. “A experiência é válida para qualquer outro município sertanejo. Não é uma cidade rural, mas também não é urbana. Fica entre ambos”.


Novo Olhar


Ao desbravar um território antes restrito àqueles vinculados a editoras, Furtado pretende que sua conquista marque uma mudança de comportamento. “Torço para que o mercado editorial enxergue um pouco mais. Não só: o público leitor e os próprios autores se enxerguem mais. Porque a gente, muitas vezes, se nega uns aos outros e só procura o que nos convém”, analisa. “Acho que é um momento de reflexão para esses três eixos”.


Logo A Tribuna
Newsletter