No jardim sonoro de Leandro Bertolo cabem muitos canteiros. Se as flores são de vários matizes, a espécie é uma só: a boa e velha MPB, que passeia desinibida pelas 11 faixas de A Flor do Som, novo álbum do cantor e compositor gaúcho, como as abelhas em busca do néctar.
A começar pela faixa de trabalho, homônima ao álbum, parceria com a mulher, Bianca Marini – que divide com ele os vocais em algumas faixas. Nela, pela suave animação do arranjo rítmico – e harmônico –, há semelhanças com os melhores momentos dançantes de Gil e Djavan. Mas, atenção: semelhança, no caso, não é cópia; é, antes, inspiração.
Na segunda faixa, o samba –igualmente suave – Momentos Felizes, o arranjo nos faz voltar mais ainda no tempo, nessa busca por referências. Há ecos ali da Bossa Nova em seus primórdios, notadamente de Tom Jobim.
As alamedas desse jardim são sinuosas, mas coesas: não dá pra se perder em faixas como Rotas do Sonhar, um afoxé; ou na balada Adormecido Coração; há, ainda, bolero, frevo pop (em Luz do Amor, dueto com Bianca), tudo com essa aura de suavidade, garantida sobretudo pelos arranjos, que confere a coesão ao ‘paisagismo’.
Aliás, é digno de nota, quando há uma tendência à fragmentação, em que o conceito de álbum anda relegado a um limbo na seara da música, Leandro mostra coragem de lançar justamente um trabalho com essa ambição de unidade – e, também, no formato físico, em CD, lançamento independente e distribuição nacional pela Tratore.
Também é encontrado nas plataformas usuais de música (Deezer, Spotify, YouTube Music).