Dubladores dão voz e talento a personagens da telona e de séries

Invisíveis a nossos olhos, muitos profissionais, inclusive de Santos, fazem sucesso dublando heróis e heroínas

Por: Bruna Faro & Da Redação &  -  04/08/19  -  14:03
Raphael Rossatto é dublador de Star Lord, de Guardiões da Galáxia
Raphael Rossatto é dublador de Star Lord, de Guardiões da Galáxia   Foto: Divulgação

Desde pequenos, crescemos ouvindo a dublagem nos filmes. As vozes dos desenhos fazem parte da nossa infância e ficam guardadas em nossa memória afetiva. “Tenho muito apego com Rei Leão e lembro todas as falas. Foi um filme que me marcou muito. Lembro que assisti junto com meu pai e nós não tínhamos muitos momentos juntos”, declara o dublador Raphael Rossatto. 


O carioca interpreta o herói Star Lord, do Guardiões da Galáxia, e apareceu também nos últimos Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato. Este, por sinal, é o filme com a maior bilheteria da história. “Hoje em dia, dublando Enrolados, Frozen, tenho a possibilidade de marcar a vida de pessoas da mesma forma que aquelas vozes de 1994 me marcaram. Isso é muito emocionante”, conta o dublador, que ainda fez a voz de Flynn Rider, em Enrolados, e do Kristoff, em Frozen, mais recentemente.


“Não tem preço saber que estou fazendo a diferença na vida de alguém e, daqui 20, 30 anos, as pessoas lembrarão da minha voz com a mesma nostalgia e carinho que lembro das vozes da minha infância”, afirma.


Atualmente, Rossatto é um dos dubladores mais queridos do País, com 47,1 milhões de seguidores no Instagram (@raphaelrossattodub), por onde divulga seu trabalho. 


“Somos formadores de opinião”, acredita a dubladora e diretora de dublagem Adna Cruz. Santista, ela está há quase 30 anos no ramo e vive entre gravações e direções, ajudando a construir lembranças. Dá voz à atriz vencedora do Oscar Octavia Spencer, e a Abigail Griffin, a Abby, da série The 100, a qual dirigiu a dublagem. “É um trabalho totalmente diferente”.


O primeiro lugar onde Adna trabalhou com dublagem foi no estúdio DPN, na época instalado em Santos. Fundado em 1995 pelos sócios Pedro Luiz e Carlos Monteiro Neto, o DPN Santos (De Pedro e Neto Santos) foi um start na região para os interessados nesta arte. “Quando começou a dublagem no Brasil, eu já gostava. Com o advento da TV por aqui, corri atrás. Já era radialista e fazia a voz das chamadas da TV Tribuna”, relembra Pedro Luiz.


Hoje, eles seguem com o trabalho na Capital, onde recebem o casting de dublagem do Brasil e cuidam de grandes canais, como o Discovery Channel. “É uma profissão muito bonita, mas exige empenho”, declara o diretor da DPN.


Ser dublador


Um dublador é, antes de tudo, um ator. Rossatto, Adna e Luiz explicam que, para se tornar um profissional da área, é preciso se formar como ator, obter um DRT (registro profissional emitido pela Delegacia Regional de Trabalho) e fazer uma especialização. Luiz dá a dica: “Tem de visitar as casas de dublagem, começar com pontas em filmes para depois crescer”.


Depois de entrar no ramo, é bom se acostumar com a correria. “Eu dublo de segunda a quarta-feira no Rio, onde moro. Geralmente, das 9 até as 21 horas. Na quarta à noite, vou para São Paulo de ônibus e dublo quinta e sexta o dia inteiro”, relata Rossatto. Segundo Adna, é na hora que o dublador descobre o que fará. “São só alguns takes que você grava no dia, não é o filme todo. Às vezes, você grava uma série e nem lembra. É bem maluco”.


Qualidade 


Quando a série House Of Cards, da Netflix, estreou em 2013, foi dublada somente em seis idiomas. Quatro anos depois, o show Ozark disponibilizava sua versão em 25 línguas. Isto só mostra quanto a dublagem cresce, graças às plataformas de streaming


Segundo um dado divulgado pela Netflix em 2017, 84% dos brasileiros escutam a versão dublada na plataforma. Na América Latina, o Brasil é o país que mais consome produtos dublados na Netflix. A série mais vista é Arrow, com 93%. Já uma das mais baixas é House Of Cards, com 50%. Entre os filmes, o primeiro é Velozes e Furiosos 7, com 96%, enquanto o menor é Lion: Uma jornada para casa, com 66%.


“O número de pessoas que gostam de dublado é muito maior do que as que não gostam”, afirma Pedro Luiz. Para ele e Adna, a dublagem brasileira é considerada uma das melhores do mundo. “Por isso, é necessário manter sua qualidade”, defende Adna. 


“Quando perceber algo que não agrada, se manifeste nas redes sociais, comente que não achou legal”, pede a dubladora, ao explicar que, se nos acostumarmos com a dublagem mal-feita, o País não será mais um dos melhores na área. “A discussão deve ir além da curiosidade do mercado. A qualidade deve ser discutida, sempre”.


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