Cultura dos índios em Peruíbe é transmitida on-line

Projeto itinerante Vivência na Aldeia está na Tapirema, em Peruíbe; a pandemia trouxe novos desafios

Por: Bia Viana  -  17/04/21  -  17:40
Com o agravamento da pandemia, o projeto migrou para o digital
Com o agravamento da pandemia, o projeto migrou para o digital   Foto: Divulgação

Por meio do projeto Vivência na Aldeia, o Coletivo Cultive Resistência preserva a cultura indígena enquanto promove ações sociais para fortalecer a infraestrutura e autonomia das aldeias. O projeto surgiu no final de 2012, quando o coletivo participava ativamente do dia a dia das comunidades indígenas, mesclando eventos que trabalhavam construções ecológicas com ações culturais.


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Como um projeto nômade, a ação é levada para diferentes localidades. Atualmente, se encontra na Aldeia Tapirema, que faz parte da terra indígena Piaçaguera, em Peruíbe.


Com o agravamento da pandemia, o projeto migrou para o digital, resultando no Festival Vivência na Aldeia Online, transmitido diretamente da aldeia aos fins de semana de abril, sempre às 16h.


As atividades, ministradas ao vivo, são conduzidas pelas famílias da aldeia, envolvendo culinária indígena, brincadeiras, técnicas de sobrevivência na mata, roda de conversa com anciãs e anciãos, artesanato, espiritualidade, medicina das plantas, entre outras.


O projeto evidencia as expressões artísticas e ritualísticas, que preservam o sagrado, a história e a identidade étnico-cultural do povo Tupi Guarani.


Amizade


Segundo Josimas Ramos, representante do Coletivo Cultive Resistência e um dos organizadores do projeto Vivência na Aldeia, o trabalho com a Aldeia Tapirema tem sido um prato cheio de descobertas e ações conjuntas.
O coletivo está com este aldeamento há dois anos, desde quando a Aldeia Tapirema surgiu.


“A Aldeia Tapirema é nova, apesar de contar com famílias antigas. Eles estavam em outro aldeamento, mas migraram para a frente da praia, porque era um lugar que estava com muita especulação imobiliária e devastação. O projeto está com eles desde então. Estamos sempre no começo das aldeias, porque eles nos convidam para ajudar na construção”.


Essa relação de amizade e confiança é muito importante, pois estreita os laços na comunidade e possibilita ações mais assertivas. “Já estamos há quase dez anos convivendo com as famílias, e como a gente vem de outros movimentos sociais, nós tentamos ser muito honestos e transparentes com a comunidade”, afirma.


Nesse sentido, a forma de atuação preza pela horizontalidade, sem hierarquias. Um fator importante nessa abordagem é uma das integrantes do coletivo ter origem caiçara, com um dos avôs sendo amigo de uma anciã indígena da aldeia, a dona Catarina (leia mais abaixo). “Quando a gente descobriu essa relação isso nos fortaleceu muito, porque a dona Catarina tem uma admiração muito grande pelo avô da Andreza (Poitena), e isso trouxe uma confiança mútua muito maior”, contou Josimas.


O projeto está na aldeia há dois anos
O projeto está na aldeia há dois anos   Foto: Divulgação

Auxílio e Criatividade


A realização do evento em meio à pandemia foi um desafio, bem como a continuidade da ação social desenvolvida na aldeia. Para os membros do coletivo, que moram na reserva ecológica da Jureia, o contato com a comunidade poderia transformá-los em vetor da covid-19.


“Quando a pandemia começou, desenvolvemos um trabalho para informar as aldeias do perigo, de acordo com a gravidade da situação. Como as aldeias sobrevivem com a venda de artesanato e a visita de pessoas às feiras, tudo foi paralisado. Para solucionar, desenvolvemos um site onde pudéssemos colocar à venda os artesanatos da comunidade. Assim, as famílias poderiam continuar trabalhando na aldeia e seguir vendendo pelo site”.


Apoio


Com o avanço da pandemia e o aumento das necessidades, o coletivo organizou um esquema de crowdfunding, em que se pedia apoio às pessoas na forma de uma cesta básica, com alimentos típicos utilizados na cultura tupi-guarani e adquiridos de produtores locais, da área rural de Peruíbe.


Mas, no final do ano, quando os impactos da crise se alastraram e a quantidade de doações caiu, outros caminhos precisaram ser pensados. “Em reunião com a comunidade, pensamos em fazer novos projetos on-line. Assim que começou a vacinação e eles foram vacinados, passamos a fazer lives e outros projetos para gerar, não só renda, mas também retomar a autoestima”, conta.


Ao todo, foram três casos de covid-19 na comunidade, que vieram de visitantes. Os doentes foram isolados rapidamente para evitar a proliferação da doença.


Crianças


Em uma comunidade com 12 anciões, a vacinação garantiu um pouco de segurança. Porém, ainda há a preocupação com as crianças. Josimas e Andreza são os únicos responsáveis pelo ‘elo’ entre a aldeia e o mundo exterior, garantindo, dessa forma, menos risco de contaminação. “Sempre tomamos todos os cuidados. Vamos ajudá-los com as lives e eventos digitais, mas sempre com máscara, distanciamento e álcool em gel”.


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