Conceito do Cinema Novo é atualizado com ideias na cabeça e celular em mãos

Em tempos onde celulares registram tudo o que acontece em nosso entorno, nunca tantas imagens foram produzidas e compartilhadas

Por: Egle Cisterna  -  01/10/20  -  13:31
  Foto: Divulgação

Pode-se dizer que a máxima do cineasta e expoente do Cinema Novo, Glauber Rocha, que dizia que para fazer cinema bastava “uma ideia na cabeça e uma câmera nas mãos”, foi atualizada com sucesso. Em tempos onde celulares registram tudo o que acontece em nosso entorno, nunca tantas imagens foram produzidas e compartilhadas. 


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E é justamente sobre a possibilidade de expressão em formato de documentário produzido pelas câmeras dos smartphones que a cineasta Andrea Pasquini vai tratar no workshop que ela traz à 5ª edição do Santos Film Fest - Festival Internacional de Cinema de Santos (SFF), na próxima segunda-feira, das 15 às 18 horas. 


“A produção de imagens está muito grande. As câmeras de celular, hoje, têm uma qualidade que permite que essa imagem possa perdurar. Normalmente, eu falo de documentários para cinema, mas, desta vez, resolvi falar para quem não é da área, para que possam transformar um simples registro numa forma de expressão”, explica Andrea, que há 25 anos dirige e produz filmes e conteúdo audiovisual, como os documentários Os Melhores Anos de Nossas Vidas, premiado no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, 2003, Fiel, finalista no Prêmio Sesi Cinema de 2009 e Homem Centenário. 


Ela fala que as pessoas, muitas vezes, ficam com dúvida sobre o formato do material. “Em laboratórios que faço, as pessoas ficam na dúvida, por exemplo, se dá para usar um material interessante que elas captaram, mas que não foi em 4k. Claro que dá. A gente fica muito pautado pelo padrão Netflix e HBO, mas o que conta é o registro, a história”, afirma. “A minha intenção no workshop é mostrar como você consegue dar um passo a mais e como transformar o seu registro, tendo um ponto de vista, uma expressão.” 


A cineasta lembra que no festival de curta-metragem É Tudo Verdade, parte dos filmes foi feita com celular. Esse fenômeno de documentários feitos com celulares não acontece apenas com amadores e nem está restrito ao período de pandemia. Neste ano, o cineasta cearense Karim Aïnouz levou o filme Nardjes A. ao Festival de Berlim. Na produção, ele acompanha com seu celular uma jovem militante na Argélia, terra natal de sua família, durante uma revolução pacífica naquele país. 


A cineasta afirma que esse movimento vem crescendo nos últimos anos no País. “O momento político está fazendo com que quem trabalha com documentário e cinema, tenha redução de recursos. Às vezes, temos urgência de contar uma história e impossibilidade de recursos. Mas, em alguns casos, também pode a ver com o perfil de quem faz”.


Andrea acredita que o isolamento pode impactar o conteúdo dessa produção. “São seis meses dentro de casa e isso vai afetar a minha forma de pensar e de produzir. O resultado disso vai vir brevemente, com filmes mostrando mais solidão, empatia e direitos humanos mais aflorados”,acredita. 
O workshop já preencheu as 20 vagas disponíveis, mas há lista de espera, caso haja alguma desistência. Os interessados devem se inscrever em https://www.even3.com.br/SantosFilmFest2020. O encontro acontecerá em sala fechada da plataforma de videoconferência Zoom. O Santos Film Fest segue até o próximo dia 6, com apresentação de filmes, entre mostras competitivas e retrospectivas, atividades formativas, palestras e workshops. O evento é gratuito e on-line. 


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