Cantor e compositor Cleverson Luiz celebra 30 anos de carreira em Santos

Artista sobe ao palco do Teatro Municipal com show Trajetória e mostra que não se trata só de música, mas de história

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  08/05/24  -  15:46
Cleverson deseja deixar um legado musical, para que possa ter a chance de mudar vidas, assim como a música mudou a sua própria vida
Cleverson deseja deixar um legado musical, para que possa ter a chance de mudar vidas, assim como a música mudou a sua própria vida   Foto: Reprodução/ Instagram

Tudo começou no ônibus da linha 6, entre a Cidade Náutica e o Centro de Santos. Trinta anos depois, o itinerário desse ônibus leva ao palco do Teatro Municipal Braz Cubas (Av. Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias, Santos), sexta-feira, às 21 horas. É lá que o cantor e compositor Cleverson Luiz vai celebrar sua trajetória no samba.


“Nesse show, estou conseguindo colocar no palco tudo o que vi quando era adolescente, quem me influenciou musicalmente e me fez acreditar que poderia viver da música”, diz, emocionado. Cleverson se refere especialmente aos grupos Tempero e Família, precursores em Santos, ainda na década de 1980, do boom nacional do pagode, já nos anos 90. Também são convidados o grupo Da Melhor Qualidade, do qual Cleverson foi integrante. E da nova geração, estará no palco a cantora e compositora Rafa Laranja.


Cleverson gravou oito álbuns nesses 30 anos, seja com o Da Melhor Qualidade ou na carreira solo que abraçou em 2010. Essa história estará toda resumida no palco do teatro. Porém, ela começa lá atrás, em um ônibus intermunicipal.


Samba do fundão
Aos 17 anos, Cleverson era um promissor meia direito da AD Guarujá. Mas também cantava em festas. Quem acha que samba e futebol andam de mãos juntas, vai ter que rever seus conceitos. Como as festas terminavam de madrugada, era difícil se apresentar para todos os jogos, no dia seguinte cedo.


“Comecei a escolher as partidas: ia contra Santos, Juventus, que eu sabia, eram times que tinham olheiros”, confessa. Certo dia, o treinador o botou contra a parede: ou uma coisa ou outra, os dois não dá. Nem precisou de uni-duni-tê, Cleverson escolheu a música. Mas como ainda faltava a música escolhê-lo, foi trabalhar em uma torrefação no Centro de Santos.


A cada manhã pegava o circular 6, no Conjunto Tancredo Neves, na Cidade Náutica. Sentava no fundão. A cada ponto, iam subindo uns conhecidos. Um puxava o batuque, o outro chamava na voz e assim encorpava o samba. De manhã e à noite, quando voltava pra casa.


“Na ida, o ônibus passava no Jockey; na volta pelo Jardim Nosso Lar. Aí o pessoal pedia pra cantar um samba do Reinaldo, Onde Está, que começava: ‘Será que o vento destruiu/O nosso lar/Vai ver que a chuva conseguiu escoar/Um amor de se eternizar’. Essa canção estará no show, sábado”.


Do ônibus para o palco...
Certo dia, no batuque do ônibus, um amigo perguntou se Cleverson não queria ir no ensaio de um grupo de samba, quem sabe cantar uma ou outra música? Ele topou. No dia, todos já estavam aquecidos no samba, a campainha da casa tocou. Ao atenderem, se depararam com um homem que gostou do som e os convidou para abrir um show da Eliana de Lima, daí a alguns dias, na quadra da Escola de Samba X-9.


“A Eliana estava no auge, tinha umas mil pessoas lá. Eu saí do fundo do ônibus direto para um palco desse tamanho”, sorriu. O grupo era o Samba di Fato, que daria origem ao Ousadia.Com eles, em 1993, Cleverson entraria em estúdio pela primeira vez, para gravar Amor Sofrido. “Essa música tocou no rádio”.


Logo depois, a consagração veio ao ser convidado para integrar o Da Melhor Qualidade. O primeiro álbum, Paixão Fatal, saiu logo depois. Do grupo, guarda muitos memórias boas. Uma delas é especial: o dia em que tocaram com Beth Carvalho.


“Era gravação de Os Melhores do Ano, um álbum ao vivo, de sucessos. Acompanhamos a Beth em Andança. Eram 20 mil pessoas fazendo um barulho ensurdecedor. Tivemos que parar e pedir ao público para não gritar, porque estava vazando o áudio”, recorda. “Depois, tivemos um show em Campinas. No ônibus, eu pensava: ‘já posso morrer, cantei com a Beth Carvalho!”.


Não, não pode: ainda tem muito o que cantar, especialmente se for para cumprir o que mais deseja: “quero construir um legado e ajudar as pessoas, influenciá-las”. Nascido e criado até os 12 anos no Morro São Bento, em Santos, teve o coração dilacerado ao retornar anos atrás, já famoso. Ao encontrar um amigo de infância e conversar sobre a vida, soube dele, encabulado, que havia sido preso por roubo tempos antes. Perguntou de outros colegas da turma: muitos tiveram o mesmo destino.


“A gente jogava bola, eles não matavam mosca na infância. O que aconteceu com o mundo enquanto eu fui a São Paulo?”, pergunta-se, incrédulo. “Nós tivemos as mesmas opções. Eu escolhi a minha”. A opção de encantar e embalar sonhos, que já se estende por 30 anos de estrada. E que renova uma esperança a cada show: “desejo ajudar a transformar as pessoas pela música, como a música me transformou”.


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