Corrida espacial tenta desvendar vida extraterrestre em Marte

Emirados Árabes Unidos, China e EUA enviaram sondas em direção ao Planeta Vermelho, local em que cientistas creem que formas de vida antigas podem ter deixado marcas em rochas

Por: Eduardo Brandão  -  19/08/20  -  17:19
Planeta vermelho é alvo de três missões espaciais exploratórias
Planeta vermelho é alvo de três missões espaciais exploratórias   Foto: Gred Shirah/NASA

“Existe vida em Marte?”, indagava, no começo dos anos 1970, o cantor e compositor britânico David Bowie (1947- 2016). Quase meio século depois de ‘Life on Mars’ estourar nas paradas de sucesso, o Planeta Vermelho está no centro de uma corrida espacial envolvendo três gigantes agências espaciais planetárias em busca de evidências que podem reescrever os livros de história: as missões exploram eventual comprovações em rochas de seres vivos habitaram o astro. 


Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos aproveitaram a breve janela em que o globo vizinho fica mais próximo da Terra para lançar sondas exploratórias. A missão: comprovar hipóteses científicas de que haveria existência de vida extraterreste em Marte.  


As três missões espaciais foram enviadas ao Planeta Vermelho no mês passado e só devem pousar no solo local em fevereiro de 2021. As aeronaves espaciais são dotadas de robôs devem responder a uma pergunta que mexe com a imaginação da humanidade assim que teve início o mapeamento dos cosmos: existe — ou já existiu — vida fora da Terra? 


O último lançamento ocorreu na manhã do dia 30 de julho, e foi realizado pela Agência Espacial Norte Americana (Nasa). A sonda Perseverance subiu ao céu no alto do foguete Atlas V, para um voo de sete meses pelo espaço. Considerada uma das mais ambiciosas viagens espaciais do atual século, o equipamento tecnológico tem como destino a cratera Jezero. 


O local é apontado por cientistas como o ponto de um antigo lago, podendo sinalizar evidências de vida primitiva fora da Terra. O robô de custo bilionário buscará sinais de vida antiga nas rochas e sedimentos espalhados por toda a bacia da cratera. Trata-se, atualmente, de um ponto gélido e inóspito da geografia de Marte. Contudo, cientistas acreditam que o local já foi úmido nos primórdios da formação do astro vizinho. 


“O Perseverance, ou Perseverança, é um robô de seis rodas, o quinto enviado pela NASA com a finalidade de buscar evidências atuais de vida em Marte e registros de fósseis de bactérias muito antigas. Planejado para pousar na cratera Jezero, com 40 quilômetros de diâmetro e 500 metros de profundidade, que teria sido um lago há bilhões de anos atrás, um lugar com maior chance de ter evidências, caso tenha existido vida por lá”, explica o professor do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Paulo Sergio Bretones.  


Ator Robert Downey Jr. foi o responsável por anunciar a homenagem
Ator Robert Downey Jr. foi o responsável por anunciar a homenagem   Foto: Reprodução/Nasa

Ele explica que o robô é composto por um braço mecânico, 23 câmeras e microfones, para coletar amostras do solo de Marte e trazer para estudos na Terra. O conjunto de instrumentos sofisticados examinará as rochas da cratera em busca de impressões biológicas, permitindo coletar rochas que serão trazidas à Terra por outra sonda, que será enviada ao planeta vermelho na próxima década. 


Bretones acredita que a operação com bandeira norte-americana poderá auxiliar nas missões futuras com fins exploratórios ao planeta vizinho, ainda sem data.  


“O Perseverance fará experimentos em cerca de 687 dias terrestres, ou um ano marciano, parecido com o rover Curiosity, da NASA, que pousou lá em 2012 e com recursos mais avançados. Também pode contribuir para missões tripuladas no futuro, com experimentos para obtenção de oxigênio da atmosfera, com maior porcentagem de gás carbônico e levando trajes espaciais para testá-los”, diz. 


A alta tecnologia envolvida na operação tem um custo salgado: o mais novo robô a caminho de Marte custou US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 12,96 bilhões).  “Nossa estratégia é estudar o passado remoto, uma época em que acreditamos que Marte e a Terra eram muito mais parecidos”, afirma Ken Williford, cientista adjunto do projeto do Laboratório de Propulsão a Jato (“JPL”, na sigla em inglês) da Nasa.  


Com a missão não tripulada, ele acredita poder ter evidências para “descobrir sobre nosso lugar no universo? “Estamos sós? Sempre estivemos sós?”. Se tudo correr certo, ao regressar à Terra, a sonda permitirá que os cientistas determinem se Marte já abrigou ecossistemas próprios ou descartarem essa hipótese. 


Demais sondas 


A primeira missão de 2020 com destino à Marte foi lançada pelos Emirados Árabes Unidos em 19 de julho. Na ocasião, a sonda Al Amal, (Hope em inglês ou Esperança em português) partir do centro espacial de Tanegashima, no Japão, pelo foguete H-IIA, com destino ao Planeta Vermelho. 


Bretones explica que o dispositivo com cerca de uma tonelada, é uma parceria da NASA com a Agência Espacial Europeia (ESA), com o custo de U$ 2 bilhões (R$ 11 bilhões). “O objetivo é estudar a atmosfera de Marte, sua dinâmica em ciclos diários e sazonais e como varia o clima em diferentes regiões, suas causas e perda de atmosfera”.  


No dia 23 de julho, a China lançou a sonda Tianwen-1, que significa “perguntas para o céu”, pelo foguete Long March 5, ou Longa Marcha, na ilha de Hainan.  


O equipamento tem três partes: um orbitador para obter imagens e dados, girando ao redor de Marte; um módulo de aterrissagem e um rover, um robô com controle remoto para analisar o solo do planeta, com o uso de energia solar e pesando cerca de 240 quilos. A missão pretende estudar os campos gravitacional e magnético de Marte, sua estrutura geológica, morfologia, características do solo, composição da sua superfície, ionosfera e clima. 


Bretones indica que, desde os anos 1960, foram lançadas mais de 40 missões para Marte. Apenas a metade chegou ao destino final com sucesso, como as sondas: Viking 1 e 2 em 1976, Mars Pathfinder e o minijipe Sojourner em 1997, Mars Odyssey em 2002, os rovers Spirit e Opportunity em 2004, Phoenix em 2008, Curiosity em 2012 e a Mars Insight em 2018.  


“As missões espaciais sempre incentivam jovens, tecnologias, estudos, cooperações e seus gastos são questionados. Estudos das características e condições do planeta Marte nos levam a refletir sobre a valorização do nosso planeta e o cuidado que precisamos ter, principalmente no contexto atual, para a preservação do meio ambiente e da vida na Terra”, finaliza. 


Logo A Tribuna
Newsletter