Ripley, a minissérie que renova o clássico

Mesmo sendo baseada em uma história já muito conhecida e visitada, a produção tem um frescor de novidade

Por: Gustavo Klein  -  21/04/24  -  21:02
Andrew Scott tem uma atuação impecável com seu olhar frio e atitudes calculadas, dando uma nova versão ao personagem
Andrew Scott tem uma atuação impecável com seu olhar frio e atitudes calculadas, dando uma nova versão ao personagem   Foto: Divulgação/ Netflix

Mesmo sendo baseada em uma história já muito conhecida e visitada, a série tem um frescor de novidade que é acentuado pela soberba direção de Steven Zaillian (roteirista do clássico A Lista de Schindler), pela fotografia em preto e branco e em especial pela interpretação de Andrew Scott, ator de quem eu lembrava por seu lunático professor Moriarty da versão da própria Netflix para Sherlock Holmes.


Confesso que tenho uma certa antipatia por Patricia Highsmith, por uma razão bem pessoal: em uma grande votação entre os fãs para escolher o melhor autor de mistério do mundo, ela venceu, deixando meu favorito George Simenon em segundo e a favorita (aposto) de muitos leitores (Agatha Christie) em terceiro. Ainda assim, foi impossível não se empolgar. É difícil não reconhecer a grandeza quando se está diante dela!!


Scott tem cara de psicopata e por isso é uma escolha muito feliz para o papel. Ao contrário de versões anteriores, calcadas na sedução (Alain Delon) ou na violência crua (Matt Damon), seu Ripley não tem e não demonstra emoções. Seu olhar é frio e sem vida, suas atitudes são artificiais e calculadas, ele só se sente bem quando está enganando alguém. Uma personalidade mais próxima de sua versão literária original.


Seja nos pequenos golpes, que lhe rendem pouco mais do que centavos, ou nas grandes enganações como a que motiva sua viagem à Itália no primeiro episódio da série (são oito), Tom Ripley mente, engana, rouba, comete assassinatos e assume a identidade de suas vítimas sem grandes remorsos. Ripley é amoral: os conceitos de certo e errado simplesmente não existem.


Na história, Tom é mostrado aplicando pequenos golpes até que é encontrado por um detetive particular e então contratado por um grande empresário do ramo marítimo para encontrar seu filho, Dickie (Johnny Flynn) que está vivendo uma vida de luxo e excessos na Itália ao lado de sua companheira Marge (Dakota Fanning).


Ele viaja até o lugar, descobre seu alvo e rapidamente, sem nenhum aviso, faz o que acha necessário para se manter naquela vida, desafiando Marge e as autoridades italianas pelos sete episódios seguintes, em que Ripley é revelado como a criatura desprovida de caráter e de princípios que é, um especialista em enganar, matar e roubar, dos centavos pagos a um massagista à vida - inteira- de um playboy.


Uma série diferente de todas as outras que você vai encontrar por aí. Mais adulta, mais sóbria e também com um ritmo menos acelerado, mais pausada, pontuada, com uma tensão crescente e sem grandes pirotecnias. Algo que talvez não agrade o espectador mediano de seriados dos streaming mas que vai conquistar o coração de quem tem saudade de produções que pedem mais esperteza e inteligência do público.


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