Mãe e empreendedora, Juliana Goes acaba de lançar seu segundo livro

Uma das pioneiras em produção de conteúdo digital, a santista é referência em gestão emocional e estilo de vida

Por: Fernanda Lopes  -  22/04/24  -  15:49
Além de atuar como mentora, Juliana é master practitioner em PNL, estudou ioga, meditação e terapias integrativas
Além de atuar como mentora, Juliana é master practitioner em PNL, estudou ioga, meditação e terapias integrativas   Foto: Divulgação

Empreendedora, escritora e palestrante internacional, a santista Juliana Goes é uma das pioneiras na criação de conteúdo na internet brasileira. Referência em inteligência emocional e carreira digital, é mãe de dois, cofundadora do app Zen e da marca Ornnaly e impacta diariamente mais de 2 milhões de pessoas.

Além de atuar como mentora, é master practitioner em PNL, estudou ioga, meditação e terapias integrativas. É vice-campeã mundial de patinação artística, participou do BBB8 e está à frente do Juliana Goes Podcast, que figura entre os conteúdos mais ouvidos na categoria educação no Spotify. Ufa, é muita coisa, mas não acabou.

Juliana acabou de lançar o livro Esqueça Sua Melhor Versão (Gente Editora), em que derruba crenças estabelecidas e julgamentos de que temos que buscar versões idealizadas de nós mesmos, quando nossas vulnerabilidades podem ser valiosas.


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Você começou na internet fazendo vídeos de maquiagem, de forma pioneira. Depois deu uma guinada para o caminho do bem-estar. Foi uma chavinha que virou de uma vez só ou aconteceu aos poucos?


Foi aos poucos. Estudando o comportamento há mais de 10 anos, percebo que as chaves não viram da noite para o dia. Muitas vezes a gente não é capaz de perceber os sinais nos avisando que algo está se passando e precisamos recalcular a rota. Naquela época, lembro que muitos dos caminhos onde encontrava conforto emocional passaram a não ser tão eficientes. Percebi que muitas vezes não é uma maquiagem que vai ser a responsável por fazer a gente se sentir melhor. Quando a ferida é profunda, precisamos ir por outros caminhos. Esse foi um primeiro estalo: “Será que o que eu faço contribui mesmo de forma profunda? Poderia contribuir mais?” Foi aí que começou essa história de repensar a maneira como eu servia. Eu já estudava programação neourolinguística e a partir do autoconhecimento me permiti falar mais sobre o que eu sentia de verdade. Quando abri essa vulnerabilidade, muita coisa mudou e conexões profundas passaram a ser feitas a partir da internet. Houve muita identificação.


O que quer dizer Esqueça Sua Melhor Versão? Como fazer isso e por quê?


Esqueça Sua Melhor Versão quer fazer um alerta. Um alerta ao movimento da melhor versão, que inconscientemente ou subconscientemente tem causado, especialmente nas mulheres, mais ansiedade, mais pressão. Inclusive pressão estética, social. Exige mais ainda de pessoas que já estão extremamente sobrecarregadas, desacreditadas, desconectadas de si mesmas. Então elas vão lá, idealizam a melhor versão que nem existe, nem sabe se vai existir. Acredito que olhando para o valor que já temos é que conseguimos lapidar a nossa versão atual, que não é descartável. Muitas vezes a gente passa uma vida buscando essa versão idealizada, criando ainda mais frustração sobre quem somos atualmente. É abraçar as nossas singularidades, entendendo que as nossas sombras nunca vão invalidar o nosso potencial, nossos pontos fortes. Nossas sombras são nuances importantes para que a gente possa entender os pontos de melhoria. E por que fazer isso? Para que haja uma relação conosco de autorrespeito, de amor próprio, de autoestima. É olhando para o agora, abraçando quem somos e entendendo como podemos dentro do possível melhorar, mas a partir do autocuidado, e não de um lugar em que a gente se odeia, se julga e se critica de forma incessante.


Livros de auto-ajuda e perfis especializados fazem parecer fácil mudar o rumo da vida, se valorizar, se reinventar. Mas sabemos que é complicadíssimo, frustrante. Como fazer isso se esse primeiro passo foi em falso? Como persistir?


De fato, eu não acredito em romantizar o autoconhecimento. É algo que levo para as minhas alunas, que levo para as minhas mentoradas. Autoconhecimento precisa de fibra, de garra, de coragem. Tem que estar disposta a olhar para quem você verdadeiramente é. Olhar para suas sombras desconfortáveis. Autoconhecimento é sobre sentir muito mais. Sentir, inclusive, as emoções desconfortáveis e aprender a canalizá-las, a lidar com elas. Eu repensaria para as pessoas que tiveram uma primeira experiência frustrada. Deram esse primeiro passo em falso. Eu ressignificaria essa relação do objetivo do autoconhecimento. Qual a intenção que a pessoa tem com o autoconhecimento? Não é viver uma vida sem problemas, mas é ter mais capacidade de lidar com o que for necessário. Inclusive, com os nossos dilemas maiores, interiores. É ser capaz de perceber que estamos criando a nossa realidade o tempo todo. A partir da mentalidade que temos e a partir da inteligência emocional, muitas vezes, que não temos. Acredito nesse caminho de ressignificar o autoconhecimento. Não como sendo um mar de rosas, pelo contrário. Mas como sendo um mar que vai estar oferecendo tormentas, mas eventualmente momentos incríveis de reconexão, de redescoberta, de ressignificação, de renascimento. Um dia de cada vez. Há picos e vales nesse caminho.


A cobrança hoje, com redes sociais, vidas expostas e uma certa positividade tóxica, está enorme. É como se todos precisassem ser felizes o tempo inteiro. Como escapar dessa armadilha?


Uma das críticas que meu livro faz é sobre a positividade tóxica. Claro que ser grato é extremamente importante. Inclusive, há estudos em que é analisado o impacto da gratidão na vida das pessoas e, de fato, elas criam uma perspectiva mais positiva. As pessoas que vivem a gratidão naturalmente vão buscar por onde reconhecer, enaltecer aquilo que elas já têm, aquilo que elas já são. É um treino. E ser uma pessoa grata não quer dizer agradecer por tudo o tempo todo. A gente vai sentir raiva, frustração, medo. Essas outras emoções desconfortáveis precisam ser validadas como parte do jogo. Não é porque você ficou com muita raiva e soltou ali um xingamento que é uma pessoa pior. Na verdade, percebo que a emoção parada adoece. Acredito na vulnerabilidade. Ela é um contraponto da positividade tóxica. Te coloca num lugar em que você sabe que vai sentir. Precisa de muita coragem e força para ser vulnerável.


Como é conciliar os papéis de empreendedora, influenciadora, escritora e ainda mãe?


Ah, é uma loucura, né? Aquela história de “como você faz para dar conta de tudo”, eu sempre respondo com “não dando, né?” Nem busco dar conta de tudo, mas eu... (Só um minuto, filho. Esse daqui é caca. Esse está velho). Inclusive, estou respondendo com meu filho aqui do lado. Ele está querendo tomar um chá frio que ficou na caneca. Entendo que, todos os dias, busco muito mais validar que fiz o meu possível e que eu estou numa constante aprendizagem sobre o que é a minha prioridade. Equalizando as intensidades. Não adianta brilhar na minha carreira e me tornar uma mãe mais ausente. E sim, fisicamente, eu acabo estando ausente por conta de palestras nacionais, internacionais, mas sei que quando eu estou com os meus filhos estou junto mesmo. Aprendi a apreciar a qualidade. Acaba vindo uma culpa, mas hoje consigo ter uma relação mais saudável com a culpa. As vozes interiores que a gente ouve, acha que são nossas, não são. Muitas vezes vêm de repetições do passado, da cultura em que a estamos inseridos. Essa voz que te critica, te julga, não é sua. O dia que aprendi que não somos nossos pensamentos foi libertador.


O que você pode falar para mulheres que se veem no limite da pressão para serem fortes, boas mães, boas profissionais e boas parceiras?


Não tem julgamento pior do que aquele que você recebe repetidas vezes de você mesma. Então, o mundo vai te cobrar. Vai te oferecer caixas nas quais você não cabe mais. Te exigir ser forte, poderosa, bem-sucedida, bonita. Só você sabe o quanto tem aí dentro, o quão inteira você está para, de fato, atender a essas expectativas. Que você possa estar do seu próprio lado, porque não adianta ter uma rede de apoio, pessoas que te amam. Se você não está do seu próprio lado, falando “o que eu preciso hoje, o que eu posso, o que tenho disponível”, e validando isso... É preciso cuidar muito bem do diálogo interno. É com você que você acorda. É com você que você vai dormir. É a relação mais longa e duradoura. Quando a gente passa a se tratar melhor, para de aceitar menos do que merece.


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