Estudos revelam a riqueza do patrimônio florestal hoje e no passado

Duas curiosas descobertas lançam luz sobre o passado e o presente do meio ambiente que nos cerca

Por: da redação E Revista Pesquisa Fapesp  -  26/06/22  -  16:41
Há mais de um milhão de anos, os buritis dominavam a paisagem paulistana
Há mais de um milhão de anos, os buritis dominavam a paisagem paulistana   Foto: Adobe Stock

Duas curiosas descobertas lançam luz sobre o passado e o presente do meio ambiente que nos cerca. A primeira demonstra uma surpreendente riqueza arbó-rea na América do Sul. Já a segunda revela como essa paisagem mudou ao longo de milhões de anos.


Vamos começar pelo passado. Graças ao estudo de uma cratera na região de Parelheiros (SP), provavelmente resultado do impacto de um meteorito, foi possível identificar espécies que hoje já não mais se adaptam à realidade do clima paulistano.


Conhecida como Cratera Colônia, a área, hoje ocupada por vegetação esparsa e ampla densidade populacional, já foi um lago há cerca de 1,5 milhão de anos. Aliás, foi por causa dessa característica que se tornou possível reconstruir esse passado, como revela a paleobotânica (que estuda registros fósseis vegetais) Marie Pierre Ledru, em entrevista concedida à Agência Fapesp.


De acordo com ela, a Cratera Colônia é um lugar único, pois, ao longo do tempo, ela sempre conservou a sua umidade, enquanto outras foram drenadas ou perderam essa característica com o passar do tempo. A umidade, diz Ledru, conservou os fósseis. E ao estudá-los, foi surgindo um passado bem diferente do atual. Na época em que o lago existiu, a região era composta por buritis, uma planta típica do nosso cerrado.


Hoje, resta apenas 1% do cerrado paulista, um bioma que, no início do século 20, ocupava quase 20% do território do Estado.


Com o tempo e as mudanças climáticas, os buritis deram lugar às araucárias, que são plantas de clima mais frio, subtropical, hoje mais predominantes na porção sul do País.


Em constante mudança, toda essa biodiversidade foi se adaptando. Há cerca de 500 milhões de anos, por exemplo, a América do Sul e a África formavam uma única porção de terra. Imaginava-se, portanto, que hoje, mesmo separados, esses continentes possuiriam uma flora similar. Mas é aí que vem a segunda descoberta, realizada por um grupo de cientistas sobre a liderança do biólogo brasileiro Pedro Luiz Silva de Miranda.


Para surpresa da equipe, mesmo com pouco mais da metade do tamanho do continente africano, a América do Sul possui quatro vezes mais espécies arbóreas do que a África.


Esse dado se baseia principalmente nas florestas úmidas sul-americanas, como a Amazônia e a Mata Atlântica, que reúnem nada menos do que quase quatro vezes mais espécies de árvores do que as matas africanas similares – porém, mais áridas.


Hoje em dia, esse rico patrimônio enfrenta outros desafios, entre eles a exploração descontrolada dos recursos hídricos. Em um planeta onde a água é cada vez mais um bem primordial e escasso, as constatações do presente e os estudos do passado são alertas para garantirmos o nosso futuro.


Camelo baiano
Camelo baiano   Foto: Adobe Stock

Camelos baianos
Um recente estudo de restos fósseis de um animal já extinto, mas que viveu há mais de 20 mil anos, levou cientistas brasileiros a identificar a presença de camelídeos onde hoje é o estado da Bahia. Esses animais seriam parentes próximos das lhamas e guanacos (foto), que vivem atualmente nos Andes e na Patagônia, em áreas do Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Os fósseis foram encontrados em Campo Formoso, um município do norte da Bahia, distante cerca de 400 km de Salvador. Atualmente, toda a região é formada por vegetação de caatinga. O animal foi batizado com o nome de hemiauchenia mirim. Em grego, hemi significa metade e auchenia, pescoço longo. Mirim vem do tupi e quer dizer pequeno. O nome da espécie faz referência ao seu tamanho reduzido quando comparado com o de outras criaturas do gênero. Com tamanho médio de 1,5 metro e cerca de 100 quilos, hemiauchenia mirim seria uma das menores formas conhecidas de camelídeos da América do Sul.


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