Grupo criado na pandemia liga donos de restaurantes a consultores em Santos
Amigos que ajudam amigos é o nome do grupo que salvou alguns do fechamento
Não é difícil andar pelas ruas e perceber que alguns bares e restaurantes fecharam. No lugar deles, restou apenas uma grande e fria placa de “aluga-se”. Porém, como dizem é na hora da crise que a criatividade se destaca. Foi a partir dessa vontade que surgiu o grupo Amigos que ajudam amigos.
A iniciativa reuniu proprietários de restaurantes com profissionais de marketing, finanças, RH, mídia digitais etc. Formou-se então uma teia que conecta pequenos empresários, muitos com anos e anos de experiência, mas que estavam a ponto de ver seus negócios morrerem por conta da pandemia.
Até o mês passado, a estimativa média desses empreendedores era que seus faturamentos estavam em cerca de 30% do que era antes de março, valor muito abaixo do necessário, mas ainda muito melhor do que zero, como ficaram em abril, pior mês da pandemia, segundo eles.
Hoje, a iniciativa tem mais de 300 donos de estabelecimentos auxiliados. Dentro do grupo, a média de falência é de 1%. Idealizador do Amigos que Ajudam Amigos, o empresário Luiz Fernando Elias Felipe conta que os resultados foram muito além do que imaginava.
“No início, a intenção era trocar ideias, só que foi crescendo. Veio gente de todas as áreas, de finanças a RH. Além do grupo no WhatsApp, fizemos um Instagram, que virou uma plataforma de divulgação e aprendizado para os estabelecimentos”, diz Luiz, que não possui restaurante, mas atende esse setor implantando sistemas de informática. Agora, há lives toda terça-feira, às 20h, com algum especialista ou pessoa envolvida na área.
Luís Augusto Iba foi um dos que teve seu negócio salvo graças ao grupo. Ele lembra que, assim como seu restaurante, o Arriba Maria, dezenas de outros colegas estavam na mesma situação: à beira de um precipício.
"Alguns eram concorrentes e dividiam a mesma clientela, mas compartilhavam informações estratégicas, planos e energia para seguirmos em frente. Ao nosso lado estavam os especialistas e consultores que nos entregavam bússolas e, no meio das avalanches de dúvidas, nos traziam luz. Sinceramente, não sei se eu estaria com meu restaurante aberto atualmente se não fossem estes 5 meses de convivência no grupo.
As dicas foram essenciais. Em seu caso, houve mudança no menu de delivery, que antes era uma cópia do cardápio do salão. “O grupo me ajudou a perceber que tempos diferentes exigiam novas opções. Mudei radicalmente os pratos. Porções individuais, com pequenas alterações, passaram a atender famílias”.
O mesmo aconteceu com a empresária Roberta Pinto Corrêa, dona do Jardim Santista Dog Bar. Ela foi uma das primeiras a entrar, assim como Luis Fernando. A cada dia, ela diz, aprende uma coisa diferente.
“O que me ajudou bastante foi poder contar com alguns colegas que estavam com seus negócios abertos , com a compra de alguns produtos meus que estavam próximos do vencimento. Não perdi os produtos e consegui reverter em dinheiro. O mais importante deste grupo é a união e a troca de informações e ideias. Na minha visão, foi imprescindível para a motivação e aprendizado”.
Projeto cria selo de desconto
O casal Thiago Araújo e Jeniffer Coutinho estão se adaptando à pandemia desde o começo e agora estão montando uma rede de apoio com comerciantes da vizinhança, no Boqueirão, em Santos. A ideia é criar uma rede de descontos entre eles. O cliente que comprar produtos em um dos estabelecimentos participantes automaticamente ganha um selo para aproveitar o desconto em outro restaurante dessa rede.
O casal Thiago Araújo e Jeniffer Coutinho (Foto: Matheus Tagé/AT)
“O projeto se chama #ValorizeBoqueirão</CW> <CW0>e dará descontos para as pessoas em todas as lojas participantes. Um divulga o outro e todos se fortalecem. Quando um cliente compra no comércio local, gira a economia, contribui com a segurança e facilidade de encontrar tudo o que precisa perto de casa”, afirma Jeniffer Coutinho.
Ao menos outras cinco empresas do bairro aderiram à campanha, entre vários segmentos: Vera Aparecida da Silva (contabilidade), Entregas da Pam, Adelson Baracho Cabeleireiros, Haddock Pizzas e Ateliê de Pintura em Cerâmica Alê Volpe.
O casal possui restauranteo Cozinha, no Boqueirão. Antes da quarentena, o espaço se chamava Nosso Bolo, justamente por causa dos doces que vendia. Aos poucos, as coisas foram mudando. Ele já comercializava, aos fins de semana, pratos como frango assado, copa lombo, linguiça.
A pandemia fez ele mergulhar no mundo on-line. Começou a fazer mais pratos durante a semana, com delivery e entender mais de como chegar aos clientes através das redes.
Hoje, já há planos de expansão para as entregas, que acontecem do canal 1 ao 7, por enquanto. Eles querem chegar à Zona Noroeste, local, aliás, onde o negócio surgiu, há pouco mais de três anos.
