Novos desafios da maturidade: "De repente acordei grupo de risco"

A pandemia fez uma geração ativa e cheia de planos se ver limitada e confinada

Por: Joyce Moysés  -  13/09/20  -  15:05
Geração mais velha, super ativa, se viu dentro do grupo de risco
Geração mais velha, super ativa, se viu dentro do grupo de risco   Foto: adobe stock

A pandemia escancarou a questão da longevidade. Colocou no holofote as pessoas de 50 anos para cima, com variados efeitos. De acordo com especialistas como Layla Vallias, cofundadora da consultoria Hype 50+ e uma das coordenadoras da pesquisa “Tsunami Prateado” (maior estudo brasileiro sobre a Economia da Longevidade), muitos verbalizaram assim: “eu fui dormir muito bem, graças aos movimentos dessa nova longevidade - como os perennials e ageless -, mas acordei grupo de risco; e isso gerou impactos na minha rotina, no meu trabalho na minha família”.


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uita gente que não sentia tanto esse marco do envelhecimento, de repente se sentiu mais velho, por causa dessa denominação “grupo de risco”. Segundo Layla, afloraram sentimento de medo, pensamentos sobre a finitude (tanto que o número de testamentos aumentou nos últimos meses). “Entretanto, sob o ponto de vista do mercado, a maioria das empresas que não enxergava esse público (como consumidor, acima de tudo) passou a enxergar. E isso fez com que a revolução da longevidade, sob o ponto de vista econômico (a chamada economia prateada), não andasse para trás.”


Adaptação de lojas e aplicativos Quando Layla começou a estudar a economia prateada, em 2015, falar sobre o público 50+ gerava em grandes marcas varejistas a resposta comum “ah, não é meu público-alvo”. Mais recentemente, a Hype 50+ ouviu de clientes empresariais: “eu tenho de adaptar minhas lojas, porque estão chegando pessoas dos grupos de risco e preciso atender com segurança”. Também aplicativos de delivery/transporte perceberam que o número de pessoas maduras consumindo seus serviços subiu muito e começaram a atender demandas específicas de usabilidade e outras facilidades.


É fato que houve uma inclusão digital “forçada” por precisarem desde pagar contas pela internet até conversar com filhos e netos por videochamada, apesar de uma parcela da população madura já utilizar ferramentas online. Em compensação, funcionários dessa faixa etária foram os primeiros a ser demitidos, reforçando que há vários tabus a serem quebrados pelas lideranças empresariais. “A economia do bico tornou-se mais presente entre os maduros, e um dos motivos é que muitos receberam de volta filhos adultos, para morarem todos sob o mesmo teto, por causa da pandemia.”


Layla conta ter ficado preocupada quando, no início da pandemia, viu na internet vários memes preconceituosos e irônicos envolvendo gerações. Mas há especialistas no mundo todo apontam que descortinar preconceitos significa um passo relevante para reflexões que levam a mudanças de pensamento e de comportamento. Muita gente assumiu essa causa, trouxe para a mídia...


Ser visível, socializar e se divertir Em 24 de setembro, às 16h30, esse tema será debatido no painel “Economia prateada: a revolução da longevidade”, dentro de uma programação extensa do CriAtivar - 1º Festival Internacional Santista de Criatividade, Inovação e Sociedade. Nele, Layla pretende dar a mensagem de que “o público 50+, 60+ continua ativo dentro do possível, quer deixar de ser invisível como consumidor e busca reinvenção com novas atividades, tanto para ter renda extra quanto para socializar e se divertir”.


Vão participar ainda Mórris Litvak, fundador da MaturiJobs; e Luiz Fernando Garcia, fundador do hub NEXTT 49+, na capital. A mediação será de Lúcia Helena, cofundadora do Lab4D, laboratório de inovação em economia criativa e negócios sociais em Santos. Para Mariana Nobre, curadora do CriAtivar e fundadora do Atelier do Futuro, o tema da nova geração de maduros – sobretudo os que vivem em Santos – entrou no festival justamente para quebrar paradigmas e desconstruir a imagem de que valorizar a qualidade de vida significa ser inerte.


“É possível ter uma rotina mais equilibrada, com tempo para si e para os seus, com possibilidades de fruição, aprendizado, criação e prazer sem ser alguém que ‘jogou a toalha’”, avalia Mariana, acrescentando que o preconceito etário deve ser combatido. “Essa passividade e inutilidade são repertórios antigos sobre o envelhecer. Falar sobre essas questões – do lugar físico ao simbólico – é


oxigenar o tema; apresentar os novos olhares e as proposições sobre uma vida longeva”, continua a curadora, empolgada.


Sobre o festival CriAtivar Organizado pela DCovas Projetos Culturais e Corporativos, LAB 4D e Zopp Criativa – com curadoria do Atelier do Futuro e realização do Governo do Estado de São Paulo, via Programa de Ação Cultural (PROAC) –, esse 1º Festival Internacional Santista de Criatividade, Inovação e Sociedade foi pensado para colaborar com o ecossistema de Economia Criativa e acontece em convergência com a Santos Criativa, selo adotado pela cidade. Vale lembrar que o município passou a integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), na categoria Cinema, em 2015.


Anote na agenda: de 24 a 27 de setembro, mais de 40 atividades gratuitas (como painéis, mostra de design e bate-papos) serão transmitidas pelas redes sociais do CriAtivar (@festivalcriativar). Toda a programação on-line está alinhada a quatro eixos temáticos: 1. Cidade Criativa; 2. Tecnologia, Inovação, Negócios e Empreendedorismo; 3. Futuro, Sustentabilidade, Impacto e Cidadania; e 4. Criatividade, Cultura e Arte.


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