Leonardo Bittencourt fala sobre viver Daniel Cravinhos nos filmes sobre o Caso Richthofen

Desde o lançamento, os longas não saem do top 3 do Amazon Prime Video

Por: Stevens Standke  -  24/10/21  -  09:21
 Ator ficou conhecido após ter participado de Malhação, em 2018
Ator ficou conhecido após ter participado de Malhação, em 2018   Foto: Studio B. Art/Divulgação

Leonardo Bittencourt se tornou conhecido pelo grande público em Malhação: Vidas Brasileiras, em 2018. Agora, vive um novo boom em sua carreira, pela interpretação de Daniel Cravinhos nos filmes A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais, que foram lançados no Amazon Prime Video no início do mês e narram os fatos que antecedem um dos crimes mais famosos do País, o Caso Richthofen – um dos longas mostra a história pela óptica de Suzane von Richthofen (interpretada por Carla Diaz); o outro, a versão de seu ex-namorado, Daniel Cravinhos. Na entrevista a seguir, o ator amazonense, de 27 anos, é fanático por futebol e das dificuldades que teve de superar para conquistar o seu espaço no mercado.


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Você, por acaso, teve receio de interpretar o Daniel Cravinhos?


Eu fiquei muito interessado em participar do teste para esse papel, porque a primeira coisa que fiz foi analisar o roteiro e, nessa hora, já percebi o cuidado de todos os envolvidos no projeto para tentar ser fiel ao máximo ao processo, recontando o crime como foi documentado pela Justiça. Eu não hesitei em interpretar o Daniel, pois estava justamente num momento em que queria dar uma virada na minha carreira e fazer uma mudança de prateleira, sabe? Eu andava buscando um personagem com carga dramática profunda, algo diferente de tudo o que andava fazendo.


A ideia inicial era lançar os filmes no cinema?


Exatamente. Os dois longas foram projetados para estrear simultaneamente no cinema, em 2 de abril de 2020, oferecendo um formato que nunca havia sido explorado. Estávamos, inclusive, nos programando para viajar pelo País para divulgar os filmes. Mas, por conta da pandemia, tivemos de adiar tudo, até que se decidiu que os longas seriam lançados no Amazon Prime Video.


O que você tem achado da repercussão desse trabalho?


Por se tratar de uma história de interesse público, de um crime que, quase 20 anos depois, as pessoas tentam entender o porquê e continuam sem resposta, eu esperava que os dois filmes despertassem a curiosidade do público e estimulassem um novo debate sobre o caso. O que aconteceu foi que, desde que A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais foram lançados no início do mês, eles têm ficado na primeira ou na segunda posição do top 3 dos conteúdos mais assistidos do Amazon Prime Video. Sem falar que, nas duas primeiras semanas, houve um aumento de 350% nas pesquisas na internet sobre o crime. Também tem a repercussão nas redes sociais. As pessoas elogiam bastante o elenco, em especial a minha interpretação e a da Carla (Diaz, que fez Suzane von Richthofen). Apesar de o trabalho em Malhação ter me trazido um retorno bem legal na internet, sinto que esses filmes foram como se eu tivesse furado uma bolha e atingido uma outra parte do Brasil. E esse trabalho não trouxe convites apenas para mais projetos no Amazon Prime Video, ele abriu as portas para outras oportunidades, que não posso comentar ainda.


Chegou a conhecer os irmãos Cravinhos e a Suzane von Richthofen?


Ninguém da equipe teve qualquer tipo de contato com os envolvidos no caso. Até porque, além de não haver o interesse ou a necessidade, o roteiro estava cheio de detalhes. Os filmes se concentraram nos depoimentos do Daniel e da Suzane, e para nos prepararmos, ainda tivemos um material de estudo baseado no que as pessoas que conviveram com o casal falaram à Justiça. Para completar, participamos de um workshop com a Ilana Casoy, que não só assina o roteiro com o Raphael Montes como também é uma criminóloga. Ela acompanhou o julgamento e a reconstituição do crime. Com tudo isso, nós conseguimos absorver dados e referências mais do que suficientes para compor os personagens.


E como foram as filmagens?


Rodamos os filmes em 2019 em 33 diárias, período considerado bem curto em comparação a qualquer outra produção. Quando se trata de filmar dois longas ao mesmo tempo, então, nem se fala...A gente aproveito muito a logística das locações e dos figurinos. Por exemplo, quando fomos filmar no Ibirapuera (em São Paulo) como o Daniel e a Suzane se conheceram, fizemos primeiro a cena de um filme e na sequência as do outro. Isso pode parecer um pouco complicado, mas nos guiou bastante para que sentíssemos, de fato, as diferenças entre as versões contadas pelo Daniel e pela Suzane.


Você também vai aparecer na série Temporada de Verão, da Netflix. O que pode adiantar desse projeto?


O seriado foi pensado para o contexto que vivemos, de pandemia, em que carecemos de conteúdos leves para assistir em família. Temporada de Verão se passa em um hotel de luxo que fica em uma ilha paradisíaca. O meu personagem, o Rodrigo, é o herdeiro daquele empreendimento e o antagonista da história. A série está prevista para 2022. Já gravamos tudo em São Paulo, Ilhabela e Guarujá. Enfrentamos as dificuldades trazidas pela pandemia. Conforme as mudanças de fase (do Plano São Paulo), tivemos de interromper as gravações e, depois, retomá-las. Fora os protocolos que nós obedecemos: uso constante de máscara, testagem periódica, redução no número de pessoas no set... Quando alguém adoecia, a equipe inteira ficava em alerta.


Foi difícil deixar Manaus, a sua terra natal, para tentar a sorte no Rio de Janeiro, quando tinha 19 anos?


Eu resolvi largar a faculdade de Publicidade – antes disso, já tinha tentado fazer Administração –; aí saí de casa e me mudei para o Rio, com a ajuda da minha mãe. Fui atrás do sonho de ser ator, mas confesso que não fazia ideia do que era exatamente a profissão. Foi um período de descobertas. Passei quase por um choque de realidade, por causa do contraste entre a vida que levava em Manaus e a rotina que comecei a ter no Rio. Para ajudar, um ano e meio depois de mudar de cidade, o meu pai faleceu. Tive de lidar com isso tudo sozinho, no Rio. Foi uma fase bem difícil, em que pensei em desistir várias vezes, porque não é uma profissão fácil. Só que, sempre que estava perto de abandonar tudo, a vida dava um sinal de que devia continuar persistindo. Desde que eu me formei até a pandemia, não parei de trabalhar, o que, infelizmente, não é uma realidade comum na carreira de ator. Poucos colegas que se graduaram comigo seguem atuando na área.


Quando você teve certeza de que seria ator?


Desde pequeno, gosto de exercitar o meu lado criativo. Eu era o tipo de criança que amava ver televisão, mas que, em vez de assistir aos conteúdos infantis, preferia os filmes, séries e programas em geral. Na hora de brincar com os amigos, queria reproduzir o que via na TV e, junto com um colega que cursou Publicidade comigo, propunha para a turma um jogo de improviso, de contar histórias. Com o tempo, passei a escrever roteiros e enredos para as apresentações de trabalhos da escola. Por exemplo: para uma atividade de Inglês, por mais que o foco não fosse contar uma história, eu bolava um vídeo de cinco, dez minutos com uma trama. Era prazeroso fazer isso; nem imaginava que, um dia, iria me tornar ator. Ainda passei a frequentar aulas extracurriculares de teatro, que o colégio oferecia, e fiz um curso livre na Universidade Federal do Amazonas. Mesmo assim, só fui ter contato para valer com o teatro no Rio de Janeiro, onde, por um período, cheguei até a montar um grupo de improviso.


O que mais lembra dessa época?


Em Manaus, não é comum alguém seguir a profissão de ator. Quando eu estava em uma crise durante a faculdade, os meus amigos perguntaram o que eu gostava de fazer. Respondi que amava interpretar, improvisar, mas que aquilo não era uma realidade possível na nossa cidade. Eles, então, questionaram onde eu conseguiria trabalhar atuando. Foi a partir dessas perguntas que decidi ir atrás de escolas de Artes Cênicas. Entrei em contato com algumas e fui estudar no Rio de Janeiro. Outras coisas aconteceram nesse processo. Para você ter ideia, faltando duas semanas para me mudar, descobri que não ia poder ficar mais na casa de um amigo, como havia me programado. O meu primeiro teto no Rio foi a casa da madrinha da irmã da minha tia. Essa é a realidade de muita gente que vem para a cidade tentar ser ator. Me formei em 2016 na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e, em 2017, fiz um musical, com o qual viajei o Brasil e que me rendeu o convite para participar da Oficina de Atores da Globo. Na sequência, passei no teste para a temporada de 2018 de Malhação e me tornei conhecido pelo grande público.


É verdade que foi jogador de futebol por um período?


O futebol, na realidade, foi a minha primeira paixão. Logo depois de aprender a andar, já estava jogando bola. As primeiras lembranças que tenho da minha vida são essas, com o esporte. Até os 12, 13 anos, eu achava que seria jogador profissional de futebol. Cheguei até a viajar para São Paulo, para teste em clube, e disputei campeonatos de futsal no Amazonas. Quando descobri que um garoto de 10 anos que não tem uma formação de base é considerado defasado, percebi que o meu sonho de viver do futebol não seria possível. Foi o primeiro choque de realidade que eu tive. Mantenho a minha conexão com o esporte torcendo pelo São Paulo. Sou fanático, acompanho tudo do meu time.


Tem alguma outra paixão?


Gosto de cantar. Encaro isso mais como um hobby. Tenho um projeto com um amigo de Manaus de elaborar arranjos para músicas de gêneros como forró, sertanejo e pop, e assim, criar versões delas com pegada rock’n’roll, estilo que escuto bastante. Já temos músicas definidas e alguns esboços, só que anda complicado para conciliarmos as nossas agendas e a distância. Afinal, eu moro no Rio e o meu amigo, em Manaus.


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