Conheça histórias de pessoas que resolveram trocar de carreira para investir em hobby

Consultor dá dicas para ter sucesso na mudança

Por: Alcione Herzog  -  20/06/21  -  19:26
  Caroline Bertholini deixou o Jornalismo para montar seu negócio de paisagismo
Caroline Bertholini deixou o Jornalismo para montar seu negócio de paisagismo   Foto: Divulgação

Em tese, um hobby é aquela atividade praticada por puro prazer, algo que tem a capacidade de aliviar o estresse do dia a dia e nos conectar com nossa essência mais lúdica. Ao contrário do trabalho, que pressupõe uma certa regularidade, o hobby é algo esporádico, pois não exige uma rotina rígida de horários. A gente faz por ser bom e não necessariamente porque precisa daquela atividade para sobreviver. No entanto, a cada nova geração, as distâncias entre meios de sustento e atividades que trazem bem-estar têm se encurtado. É cada vez mais comum ver pessoas se ocupando profissionalmente com as suas paixões, seja por meio de carteira assinada, seja empreendendo.


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De um jeito ou de outro, uma coisa é certa: trabalhar com o que se gosta é sempre mais interessante. Porém, o grande desafio é fazer a atividade ser financeiramente viável. E isso pode demorar.


É nessa fase de transição que se encontra a ex-jornalista Carolina Bertholini. Há quatro anos, ela resolveu pedir demissão de uma emissora de televisão para se preparar para uma mudança radical: empreender na área de jardinagem e paisagismo. “Eu estava extremamente desapontada com a minha antiga profissão. Ela demanda muita dedicação e o que se recebe em troca não compensa nem de longe o tanto que a gente é absorvido”.


Depois de se dividir entre a rotina puxada no Jornalismo e os cursos de jardinagem, botânica e paisagismo, Carolina decidiu que era hora de mudar de rumo. Criou a Casa Azul Jardinagem e Paisagismo e passou a fazer e vender arranjos de plantas e terrários. “Desde os primeiros passos, muita coisa já aconteceu. Surgiram vários trabalhos, algumas parcerias, novas ideias e temos novidade à vista. Hoje, estou finalizando o semestre como educadora e, então, poderei me dedicar exclusivamente à Casa Azul”, comenta Carolina.


Ela e o companheiro, Sérgio, ainda não conseguiram equiparar os ganhos com as antigas profissões, mas comungam da mesma fé de que, dedicados 100% ao pequeno negócio, o sucesso será certeiro.


“Eu sempre tive as plantas presentes na minha vida. A minha avó possuía muitas. A minha mãe também é uma apaixonada e fez da casa dela quase uma selva. E estar em meio à natureza sempre foi o meu maior prazer. Então, comecei a transformar a minha casa também. Passei a empenhar muito tempo e dinheiro em trazer cada vez mais natureza para a minha vida”.


Em pouco tempo, Carolina preencheu toda a varanda de verde. Não havia um ambiente sequer do lar que não contasse com plantas. Um dia, ao chegar em casa, se deparou com um beija-flor. “Foi incrível viver aquilo. Me percebi absolutamente apaixonada por aquela transição. Portanto, eu comecei a me empenhar, estudar, pesquisar na internet, acompanhar referências, tudo em busca de compreender melhor esse universo para que as minhas plantas não morressem. No começo, era uma chacina”, lembra.


Já decidida a trocar de área e resolvida a se aprofundar em cursos ministrados em São Paulo, ela mudou de endereço. Subiu a serra e foi morar na Capital para poder ter mais condições de trabalhar e fazer as formações para o novo negócio.


“Encontrei uma casa que me dava a possibilidade de ter mais plantas, dos mais diferentes tipos. Um imóvel com quintal e sem prédios ao lado, onde eu posso aproveitar praticamente todo o espaço para ter plantas de sol pleno, meia-sombra e sombra”.


A coleção de espécies vegetais só aumentou. Atualmente, Carolina tem mais de 300 tipos. Com a pandemia, ela focou ainda mais em desenvolver o sonho de empreender no ramo e, no final de 2020, conseguiu se organizar melhor, finalizando o ano entregando dezenas de encomendas. “Quando eu entendi que conseguiria fazer daquele prazer também o meu sustento foi realmente como encontrar uma parte que faltava em mim. Até hoje, nem sei explicar o quanto é lindo ter me encontrado, ainda mais nesse caminho, que é, por si só, uma verdadeira poesia. Que sorte a minha!”


Para conhecer o trabalho de Carolina, acesse o perfil @casaazuljardinagemepaisagismo no Instagram.


No gingado do pole dance


Lorraine Pinheiro Lopes, de 33 anos, se divide entre o trabalho como psicóloga concursada na Prefeitura de São Vicente e as aulas que dá de pole dance. Por conta da pandemia, tem ministrado a modalidade de forma on-line e o estúdio que montou com duas sócias está temporariamente fechado, em conformidade com as normas sanitárias.


Lorraine conta que a sua relação com o pole dance começou há cinco anos, quando buscou uma alternativa de atividade física. Como nunca gostou de academia e da ginástica convencional, marcou um treino experimental da modalidade. Foi amor à primeira aula. “Mesmo sem conseguir fazer os movimentos mais básicos, saí com o pacote fechado para o resto do ano”.


O gosto por desafios e a rejeição à repetição de exercícios de musculação levaram a psicóloga a perceber que tinha encontrado um hobby perfeito para manter a saúde física e mental. Mas o que era para ser um cuidado com o corpo e um jeito de desestressar acabou virando uma oportunidade de negócio. “Eu gostava tanto de treinar que ia todos os dias da semana, exceto na sexta, único dia que não tinha aula no estúdio que eu frequentava”.


Cada vez mais animada com os avanços na execução dos movimentos, Lorraine e outras duas alunas – hoje suas sócias – resolveram alugar uma sala e comprar uma barra. A ideia era ter mais tempo para treinos, inclusive focando em campeonatos.


As meninas também criaram o blog Sou do Pole, para divulgarem vídeos e incentivarem mais gente a aderir à prática.


“No final, resolvemos comprar mais barras e eu doei uma que tinha em casa. Tecnicamente, evoluímos muito e pedimos para uma professora dar aulas para nós e para outras garotas que se interessaram em aprender. A professora acabou saindo depois de um tempo, pois morava longe e não conseguia conciliar os horários. Para não deixar as demais praticantes na mão, eu assumi as aulas”.


Naquele momento, Lorraine resolveu investir em capacitação, para se aperfeiçoar ainda mais para dar as aulas. E foi assim que naturalmente se tornou uma empreendedora no ramo esportivo. Com dois anos de estúdio e cerca de 20 alunas fixas, a ideia era pedir exoneração do serviço público e se dedicar integralmente ao pole, mas a chegada da pandemia e a proibição das atividades em academias acabaram adiando esses planos.


“O estúdio estava decolando e as minhas sócias também tinham planos de largar os seus empregos fixos para se dedicarem exclusivamente ao negócio. Agora, estamos aguardando para retomar aos poucos os treinos presenciais e vamos continuar construindo esse sonho”, promete sobre o estúdio, que pode ser conhecido no Instagram @soudopole.


Investindo na cozinha


A publicitária e empresária Harianne Barros, de 44 anos, é apaixonada pela culinária há longa data e, por ter a cozinha como um hobby, começou a sentir vontade de transformar aquilo em uma fonte de renda.


Empreendeu, então, montando uma pizzaria. Só que aí veio a pandemia de covid-19, que afetou significativamente o negócio e Harianne precisou se reinventar para compensar parte da queda de 80% no faturamento. “Fiquei deprimida, mas tive de me superar e utilizar a criatividade para manter a minha estabilidade tanto financeira quanto emocional”.


Mais habituada a exercitar o lado profissional na parte administrativa e burocrática da pizzaria, ela decidiu fazer uso do seu talento como cozinheira da família apaixonada por tira-gostos e pratos com frutos do mar. Assim criou o Um Teco de Sabor, delivery de petiscos e pratos especiais personalizados, aproveitando que as pessoas passaram a fazer reuniões em casa e com um número bem menor de pessoas.


“Percebi que as famílias e os amigos estavam resgatando a chamada comfort food. Passei a ofertar opções de petiscos que fazem parte da nossa memória afetiva, só que em uma versão mais gourmet. Deu supercerto”, conta Harriane.


Ela aceita encomendas para datas especiais como Dia das Mães, Páscoa, Natal, Réveillon, batizados, aniversários... E faz questão de frisar que prepara pessoalmente todos os cardápios, pois esse é o diferencial do negócio.


E a julgar pela quantidade de pedidos, acertou em cheio os paladares mais exigentes. “Faço tudo personalizado e estou amando perceber o retorno positivo. Quando a gente faz o que gosta, o trabalho passa a ser motivo de alegria, nunca uma obrigação”.


O cardápio está disponível no Instagram @um_teco_de_sabor.


Cuidados necessários


José Monteiro, analista do Sebrae, pondera que, como qualquer outro negócio, empreender fazendo o que gosta é importante, mas nem sempre se mostra sinônimo de sucesso imediato. Existe um grande risco de se frustrar, desperdiçar tempo e perder dinheiro, caso você aposte em algo inviável, pois, como qualquer outro processo de mudança, o caminho é repleto de armadilhas.


“É preciso entender que, ao escolher o hobby como negócio, não quer dizer que vai fazer somente aquilo de que gosta, como algumas pessoas pensam. Há atividades e processos que não são muito agradáveis, mas que precisam ser feitos. A experiência nos diz que a primeira grande armadilha é que, na ansiedade e no deslumbre, esquecemos de colocar a razão no lugar da emoção e não planejamos direito a mudança”.


Se você está pensando em converter o seu hobby em empresa, veja a seguir seis dicas do analista:


1. Avalie se realmente vale a pena: Normalmente não fazemos a conta do dinheiro recebido indiretamente via plano de saúde, vale-alimentação... Não lembramos que, como empresários, não vamos ter mais 13o salário, férias remuneradas, participação nos lucros etc. E uma reflexão deve ser feita: a minha futura empresa será capaz de me remunerar de maneira igual ou parecida com o que ganho hoje? Estou preparado para viver com menos, mesmo que temporariamente?


2. Monte um plano de negócios: Para responder as questões acima e planejar os passos é preciso elaborar um bom plano de negócios, baseado em pesquisa de mercado, fornecedores, perfil de cliente, valor do investimento, previsão de custos fixos e variáveis, estimativa de faturamento, definição do preço de venda, lucratividade. Só assim haverá mais garantias de que o sonho tem viabilidade financeira.


3. Respeite o compromisso: Outra pergunta frequente é: será que a diversão não poderá virar chatice quando tiver que encará-la de maneira profissional? Monteiro lembra que inserir hobbies em um cenário de prazos, cobranças e preocupações pode transformar o que era prazer em algo maçante. “Experimente fazer um ensaio de segunda a sexta-feira, talvez nas suas férias. Uma espécie de test-drive”, aconselha o consultor.


4. Desenvolva o perfil de empresário: Ao contrário dos negócios tradicionais, um hobby convertido em empreendimento exige ainda mais capacidade de reinvenção e ousadia. Em muitos casos, a mudança significa novos hábitos, abandonar o amadorismo e encarar a vida de gestor profissional. “Nem todo artista está pronto para gerir um negócio. É preciso ter perfil para vendas, ser ousado, confiante, capaz de ir atrás”.


5. Não deixe de se aperfeiçoar: Não adianta só gostar do que faz. É importante frequentar cursos e treinamentos que possam aperfeiçoar o seu talento natural. Novas técnicas e métodos para otimizar o tempo de trabalho nunca são demais. Quanto mais capacitação, mais preparada a pessoa estará para responder à concorrência e agradar a clientela.


6. E tenha paciência: O retorno do investimento pode levar um tempo e é sempre bom ter uma reserva financeira para conseguir esperar o tempo de maturação do negócio e a consequente volta do capital aplicado.


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