Alimentação natural para o pet é tendência, mas precisa de atenção

Há quem diga que, se a alimentação natural não fosse melhor do que a ração, veterinários não a receitariam para animais doentes. Mas há verdades e mitos nessa quase sentença. O assunto, inclusive, divide opiniões até de especialistas. O que se pode afirmar com segurança é que a troca da dieta de um bichinho de estimação precisa ser sempre acompanhada por um veterinário especializado.

Luiz Roberto Biondi, professor e coordenador da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), explica que não defende a indústria das rações. Porém, conta que não pode deixar de citar que elas são alvo de estudos há anos. Mesmo assim, sabe-se que inúmeros tutores percebem melhoras em problemas de pele, lágrima ácida e outros males só com a mudança para uma dieta natural, que inclui verduras, legumes e alguma proteína – da sardinha à carne de porco.

Por isso, Biondi ressalta que o que mais causa preocupação não são as refeições indicadas por veterinários, mas o número de pessoas que resolvem trocar a alimentação do pet, buscando receitas de amigos, familiares e até mesmo da internet.

“Isso não falta. Em nível mundial, cresceu nos últimos anos a procura pela dieta mais adequada, natural, e essa preocupação passou a ser perseguida também para os pets. Como consequência, a gente tem visto problemas que não via há anos: descalcificação óssea e falta de equilíbrio entre os nutrientes essenciais, como cálcio e fósforo”.

Tem que ser individualizada
Quando um tutor leva seu pet para um veterinário especializado em nutrição animal, não há uma receita pronta de dieta a seguir. Tudo vai depender das necessidades de cada bichinho, não só levando em conta a raça, mas idade, peso, doenças pré-existentes e o histórico do animal. Um check up geral pode até ser solicitado, já que num exame de sangue é possível avaliar, por exemplo, a dosagem de algumas substâncias no sangue, descobrindo assim doenças não aparentes, para que não se agravem.

“O veterinário vai levar em conta se o bichinho é caseiro ou passeia bastante, se tem mais ou menos acesso à luz solar, se pratica mais ou menos exercícios, além das especificidades de cada raça. Os dálmatas, por exemplo, não metabolizam bem o ácido úrico”, explica o especialista.

A mudança alimentar nos gatos é ainda mais delicada que a dos cães. Isso porque, na natureza, os cachorros não são restritamente carnívoros. “Também consomem frutas, vegetais, mas o gato é 100% carnívoro. Se alimenta de roedores, pequenas aves e, se passa para uma dieta caseira errada, aumenta os triglicérides e não sintetiza muito bem algumas substâncias”, aponta o professor.

Mitos e verdades
Biondi explica que o motivo de se indicar a dieta natural a um cão doente não é porque ela é melhor. “Quando o animal está com a mucosa intestinal inflamada, o pior nutriente para ser metabolizado é a gordura. Então, a gente pede para os donos darem carne magra como peito de frango cozido. Além disso, há o risco de a dieta costumeira do animal ser rejeitada pelo organismo. Mudando a dieta, assim que ele melhora, é possível voltar à rotina habitual”.

O que mais levar em conta
É preciso levar em consideração, na mudança de dieta do animal por opção dos donos, o tempo de preparo, o custo dos ingredientes e o condicionamento do que é preparado, já que toda alimentação natural tem validade menor.

Os veterinários ainda explicam que é bom atentar aos costumes dos pets. Os gatos geralmente não aceitam bem muitas mudanças.

Os cães podem passar a rejeitar rações após provarem comida caseira – caso o tutor se arrependa, será criado um problema. Também é importante fazer – mesmo que de uma ração para outra – uma transição de, pelo menos, 15 dias para a inserção da nova dieta, acompanhada por um especialista. Isso evita problemas intestinais, para que a curto, médio e longo prazos, as alterações sejam positivas.