Um mundo digital com cabeças analógicas

O mundo real agora é totalmente digital. E se você não acredita, não deve ler esse artigo

Por: Maxwell Rodrigues  -  17/04/24  -  06:00
Vivemos em um mundo onde a realidade física se mistura à realidade digital e já nem conseguimos mais saber o que é real ou irreal
Vivemos em um mundo onde a realidade física se mistura à realidade digital e já nem conseguimos mais saber o que é real ou irreal   Foto: Reprodução

Todos notamos que o ambiente que estamos inseridos foi alterado desde a criação da internet. Lembro da época em que muitos não acreditavam que essa ferramenta iria comandar as vontades, desejos e o rumo das pessoas e dos negócios. A mudança foi tão gigantesca que muitos ainda estão atordoados e sem entender o que está acontecendo.


Quando tratamos do tema mão de obra, é sabido que o colapso iminente de profissionais de tecnologia da informação e desenvolvimento de sistemas disponíveis, para o setor portuário, já bate em nossa porta. O tema é tão preocupante que podemos observar atores do setor portuário apoiando iniciativas de outros setores, como o bancário, em busca de mão de obra qualificada.


Será que os setores financeiro e bancário irão abrir mão desses profissionais. Qual a estratégia do setor portuário para não se tornar refém de tantas iniciativas que não trazem frutos ao nosso mercado. Uma miopia de entendimento está instalada.


O grau dessa miopia chega a ser alto. Esses profissionais não querem trabalhar no regime convencional de CLT, não possuem interesse em jornadas fixas de trabalho e, por fim, preferem receber seus dividendos em bitcoin. Regras que as empresas ainda não se habituaram e o tão conhecido “compliance” não permite tais opções de contratação.


A dimensão de transformação é tão gigante que hoje podemos fazer absolutamente tudo em um simples clique em nossa palma da mão. Quando olhamos para as iniciativas de integração de dados e aprimoramento de processos, ainda sofremos significativamente quando o assunto é o sistema portuário. Sistema de sistemas mesmo, onde softwares não se comunicam entre si e os dados não são disponibilizados entre entes anuentes e stakeholders.


Existem casos em que sistemas são implantados, mas para que haja liberação de algo é necessário imprimir o papel e entregar em alguma repartição ou empresa. Incrível né?


Isso me faz lembrar o dia em que tive problema com a internet da minha casa e ao ligar na operadora ela me orientou a abrir o chamado pelo aplicativo para resolver o problema. Pergunto: como abrir o chamado pelo aplicativo que depende de internet se estou sem internet. Não se pensa nos processos e principalmente em formas de interação com os usuários em ambientes simples, seguros e, acima de tudo, lógicos. Um pensamento de digitalizar as coisas ao invés de automatizar.


Vivemos em um mundo onde a realidade física se mistura à realidade digital e já nem conseguimos mais saber o que é real ou irreal. A confusão aumenta quando precisamos nos comunicar nas redes sociais. Uma enxurrada de conteúdo que muitas vezes são ineficientes, mas que proporcionam a sensação de pertencimento ao universo digital. Talvez seja legitimo, mas contraproducente.


O cenário portuário mundial obriga que as empresas se reinventem e se adaptem a evolução tecnológica. As empresas que já apostam nessa transição já colhem frutos em escala nacional ou internacional. Permitindo mais receitas, melhores práticas em se comunicar e, principalmente, sendo mais ágeis em seus negócios e em como atendem seus clientes e mercados.


Já não podemos ficar presos ao mundo físico e com pautas que já são superadas. O Porto de Santos não deixará de bater recordes de movimentação, apesar da falta de infraestrutura necessária e do esforço feito pelos players instalados no complexo portuário.


De outro lado é necessário entender que a iniciativa privada emplacou e destravou a pauta de concessões, mas isso gera reflexos e mais demandas. Não iremos sobreviver ao mundo digital com cabeças analógicas no comando. É importante abrir espaço para a nova geração e deixar com que ela faça parte desse processo de transição importante e necessário.


Elias Júnior é um jovem que toma posse como secretário de Portos na cidade de Santos e espero que ele traga o Porto de Santos para o mundo digital, com pensamentos tecnológicos e não analógicos.


Boa sorte, Elias!


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