Navio-bomba ou navio-tanque. O que é correto afirmar?

É preciso criar uma conscientização generalizada a respeito da operação e divulgar amplamente todo o processo realizado

Por: Maxwell Rodrigues  -  06/03/24  -  06:00
Os navios com gás natural liquefeito (GNL) recebem o nome de “bomba”
Os navios com gás natural liquefeito (GNL) recebem o nome de “bomba”   Foto: Alexsander Ferraz/AT

De acordo com a literatura internacional, o potencial inflamável do gás natural liquefeito (GNL) é amplamente conhecido. No seu manuseio, quando existe a transferência de grandes volumes, podemos ter vários desfechos. Talvez por isso, os que fixam a atenção na especulação e no medo, imediatamente rotularam os navios com esse produto como “bomba”. Mas ele é uma bomba?


Bomba, segundo o dicionário, é quando falamos em armamento: um artefato de destruição ativado por carga explosiva, lançado a partir de bocas de fogo terrestre, aeronaves, navios de superfície ou manualmente ou aparelho preparado para produzir uma explosão.


Em pirotecnia: um artefato construído por uma carga de pólvora negra e um estopim que detona com estampido. Já em engenharia mecânica: máquina ou dispositivo para elevar o nível de um líquido ou fazê-lo fluir em determinada direção ou para comprimir gases ou torná-los rarefeitos. Por fim, em engenharia mecânica marinha: nome para definir equipamento de esgotar porões e no Sul do País, trata-se de um canudo ou madeira para sugar o mate de cuia do chimarrão.


Pela definição apresentada, ao menos a meu ver, não podemos usar o termo navio-bomba e sim navio-tanque. Contudo, é evidente que qualquer cidadão que resida em nossa região continuará preocupado com a operação desse navio e com respostas que devem sempre estar à disposição de toda a sociedade.


Situações como a que ocorreu na Ultracargo, em Santos, em 2015, preocupam qualquer pessoa. Apesar de tantas garantias na oportunidade, um incêndio de proporções gigantescas ocorreu em nossa região. Talvez por isso muitos não queiram a operação desse tipo de navio tão próximo de áreas habitadas e que isso só ocorra em milhas náuticas de distância do nosso continente.


Se não devemos chamar de navio-bomba, é preciso criar uma conscientização generalizada a respeito da operação e divulgar amplamente todo o processo realizado e quais medidas de segurança são tomadas. Assim, o tão temido navio-bomba pode deixar esse nome e passar a ser chamado de navio-tanque.


Além do navio, convivemos com gasodutos e outros produtos que podem se tornar um risco enorme para todos. Cabe não só para às autoridades, mas às empresas portuárias, desenvolverem, administrarem, gerenciarem, mostrarem, convencerem e o que mais for necessário fazer a fim de garantir total sentimento de segurança e a própria segurança. Pessoas se sentem seguras quando possuem o sentimento de que algo é seguro. Afinal de contas, onde existe fumaça, existe fogo, já dizia o velho ditado.


Precisamos, nesse momento, parar de fazer comparações com o ocorrido em Beirute, de especular implicações catastróficas para a região e para o meio ambiente, de fomentar um ativismo que leva de nenhum lugar para lugar nenhum.


Devemos, desde já, uma vez que o navio chegou, cobrar medidas preventivas, mobilizar todos em prol da segurança e do meio ambiente, agir junto aos operadores e autoridades para que nada ocorra em nossa região. Caso ocorra, será em um piscar de olhos e nada veremos se considerarmos o potencial anunciado e alarmado por tantos. Eu não quero pagar para ver, até porque, se ocorrer, não dará tempo nem de ver, não é mesmo?


Para finalizar, queria compartilhar uma reflexão pertinente para todos do nosso setor e que pode ser um bom desafio para que juntos possamos findar com esse apelido dado ao navio-tanque: “Pessoas de pavio curto são as que mais ganham apelidos indesejados. Ao se irritarem com facilidade quando lhes apontam uma qualificação desabonadora, concorrem para que o apelido pegue rapidamente. Nem precisa ser um apelido. Basta que seja uma estória que incomoda. A reação de desagrado ganha repercussão e passa a ser explorada de forma depreciativa”.


Vamos apagar o pavio?


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