Diga ao povo que fico!

Se é para o bem de todos e felicidade geral do porto, estou pronto!

Por: Maxwell Rodrigues  -  27/09/23  -  09:32
Três portos brasileiros foram estudados em trabalho recente: Aratu (BA), Rio Grande (RS) e Santos
Três portos brasileiros foram estudados em trabalho recente: Aratu (BA), Rio Grande (RS) e Santos   Foto: Matheus Tagé/AT

A expressão que titula a coluna de hoje se deve a uma célebre frase de dom Pedro, então príncipe-regente do Brasil, que na época integrava um reino unido com Portugal e Algarve, em 9 de janeiro de 1822: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico". Mas, para compreendê-la melhor, é necessário conhecer o contexto em que foi dita.


Em 1807, com o intuito de expandir seu poder sobre o continente europeu, Napoleão Bonaparte planejava a invasão do Reino de Portugal. Para escapar dos franceses, a família real portuguesa se transferiu no começo do ano seguinte ao Brasil, que se tornou o centro do Império Português.


Embarcando no túnel do tempo e chegando aos dias de hoje no Porto de Santos, Anderson Pomini foi garantido no cargo de diretor-presidente da Autoridade Portuária. Por outro lado, Márcio França e Fabrizio Pierdomenico foram substituídos no comando do Ministério de Portos e Aeroportos e na Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, respectivamente. Não estamos aqui para julgar valores nem cada mudança dentro do setor. Contudo, precisamos refletir a respeito do que tantas alterações acarretam para o dia a dia dos portos.


Napoleão, dentro do contexto histórico, visava o poder e com isso tomou as atitudes que eram necessárias à época. Já Pomini, desde sua chegada ao Porto de Santos, agradou com sua postura e a abertura na interlocução com todos os setores. Projetos foram anunciados, propostas acabaram colocadas na mesa e a expectativa do setor aumentou com a possibilidade de solução de problemas que perduram por décadas.


Antes da mudança no comando do Ministério de Portos e Aeroportos, integrantes do setor publicaram cartas e manifestos - e as mídias sociais ficaram inundadas - com pedidos de “fica” para França e Pierdomenico. Afinal de contas, inúmeras mobilizações já haviam sido feitas, seja por meio de encontros, reuniões ou eventos, o que proporcionou uma visão dos planos do Estado e do que viria pela frente.


Contudo, após seis meses, o Governo Federal resolve mudar o rumo e muitos saem desenfreadamente para conhecer o novo ministro, tentando, assim e de novo, entender como o leme da embarcação chamada Porto vai navegar pelos próximos meses ou anos. Alguém arrisca um palpite? Mudanças sempre são bem-vindas, mas também é necessário entender o esforço necessário para realizar todos os alinhamentos cada vez que um novo ministro é indicado, substituído ou alterado.


Silvio Costa Filho chega à pasta de Portos e Aeroportos diante de diversos desafios e, quem sabe, com a certeza da garantia de pelo menos ter tempo para esquentar a cadeira. Já Mariana Pescatori é muito conhecida no setor e já provou seu valor e todo conhecimento que possui para comandar a Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários. No Porto de Santos, Pomini irá continuar com sua habilidade de agregar todos e deve realizar aquilo que ficou inicialmente planejado na gestão de Márcio França.


Tudo isso pode ocorrer se todos não sucumbirem ao que Napoleão se entregou: a fome pelo poder. Se assim ocorrer, os planos para os portos do Brasil ficarão restritos a compras de passagens e reservas em hotéis para posses de novos ministros, ao invés do agendamento de reuniões produtivas e frutíferas que contribuam para o efetivo desenvolvimento e realização daquilo que já deveria ter sido feito há mais de 20 anos.


Mudanças são sempre bem-vindas, mas precisamos mudar sem esquecer o que realmente nos motiva. Mudar para agradar não é mudança. Temos de mudar em nome da evolução, e que seja por nós, o setor portuário. Sem partido, sem interesses individuais e com propósito. Rumo à evolução. Boa sorte aos que chegam. Esperamos que consigam realizar tudo o que é preciso ser feito!


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