Presença do dentista no hospital amplia sucesso de diagnósticos, dizem especialistas

Patologias como câncer de boca podem ter 90% de chance de cura se identificadas desde o início

Por: ATribuna.com.br  -  06/08/23  -  18:28
Denise Abranches, Sidney Neves e Fábio Alves atuam dentro de hospitais, na Capital. Eles defendem maior participação dos cirurgiões-dentistas na condução de casos médicos
Denise Abranches, Sidney Neves e Fábio Alves atuam dentro de hospitais, na Capital. Eles defendem maior participação dos cirurgiões-dentistas na condução de casos médicos   Foto: Sílvio Luiz/AT

Uma das mais graves patologias bucais é o câncer que, se tratado ainda no início, tem 90% de chances de cura. Segundo o presidente da Câmara Técnica de Estomatologia do Crosp, Fábio Alves, 70 % dos pacientes que chegam para serem tratados já vêm em estado avançado. “Proporcionalmente ao câncer de mama, o de boca mata muito mais”, disse.


Fábio participou do segundo painel do fórum, A presença do profissional de Odontologia no ambiente hospitalar.


O especialista avalia que, muitas vezes, os médicos sabem que o paciente está com um foco de infecção na boca mas, sem a ajuda de um cirurgião-dentista, não detectam onde está o problema. “Como poderíamos reduzir esses números? Se todos os pacientes antes de dar início a um tratamento oncológico passassem por uma avaliação prévia odontológica”.


Fábio afirmou que hoje, no Hospital A.C. Camargo, onde atua, o paciente que, por exemplo, vai fazer uma radioterapia de cabeça e pescoço passa antes de iniciar o tratamento oncológico pelo serviço odontológico. A avaliação bucal também é feita em pacientes que fazem transplante de medula, assim como os que vão iniciar tratamento quimioterápico em altas doses. “Infelizmente, muitas pessoas não têm essa oportunidade”.


Coração
Outro problema bastante comum levantado pelo especialista no seu dia a dia é a endocardite (infecção bacteriana que geralmente começa na boca, alojando-se no coração). “Essa doença pode levar a óbito se não for detectada a tempo por um profissional”.


Desse painel também participaram o cirurgião-dentista Sidney Rafael Alves, especialista em traumatologia bucomaxilofacial (especialidade da odontologia que diagnostica e trata doenças, traumatismos, lesões e anomalias) e membro da equipe do hospital Albert Einstein, além de Denise Abranches, presidente da Câmara Técnica de Odontologia Hospitalar do Crosp.


Idosos
Sidney Neves chamou a atenção do envelhecimento da população. “A população está envelhecendo e é muito comum chegarem aos hospitais pacientes vítimas de acidentes domésticos. Escorrega em casa e cai, machucando a face. Um profissional no hospital, especializado em bucomaxilofacial, facilita o encaminhamento desse paciente”.


Denise, que tem vivência intensa em UTIs, falou da sua experiência durante a pandemia, quando ficou ainda mais clara a importância de um cirurgião-dentista nos hospitais. “Tivemos um desafio muito grande para eliminar focos infecciosos que evoluíram, uma vez que os pacientes ficaram longe dos consultórios”.


Auditório do Grupo Tribuna teve a presença de profissionais da área e público geral
Auditório do Grupo Tribuna teve a presença de profissionais da área e público geral   Foto: Sílvio Luiz/AT

Prevenção
Baseada nos dados apresentados por Fábio Alves de que 90% dos cânceres bucais tratados inicialmente são curáveis, o especialista em estomatologia Sidney Neves foi questionado sobre os custos do tratamento quando a doença já está avançada. Ele pontuou que um câncer inicial é tratado, em geral, com apenas uma modalidade de tratamento. “Ele pode ser tratado por cirurgia ou radioterapia. Já aquele câncer mais avançado, o paciente vai precisar de cirurgia, radioterapia e, às vezes, quimioterapia. Muitas vezes não se consegue curar um doente. A cirurgia no câncer inicial não é mutiladora. O paciente mais avançado pode perder a língua, parte da mandíbula, parte da maxila. Então, além do tratamento, nós entramos com a reabilitação. Às vezes não é muito simples fazer as reconstruções, então, os valores são muito maiores”.


Fábio ainda alertou que o tabaco e o álcool ainda são bastante responsáveis pelo câncer bucal. Encerrando o painel, Denise Abranches deu conselhos aos novos profissionais que querem seguir o caminho de cirurgiões dentistas em UTIs: “É preciso se ter em primeiro lugar inspiração, depois estudar muito, entender de todos os quimioterápicos e ser conhecedor de todas áreas da saúde, porque a interação em um ambiente de UTI é permanente”.


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