Criado para atender vítimas de violência doméstica, projeto de São Vicente é ampliado na pandemia

Mulheres Solidárias ampliou horizontes em meio à pandemia da covid-19

Por: Rosana Rife  -  05/10/21  -  17:18
Atualizado em 14/12/21 - 12:21
Desde março do ano passado, o Mulheres Solidárias também abriu os braços para quem foi afetado pela fome
Desde março do ano passado, o Mulheres Solidárias também abriu os braços para quem foi afetado pela fome   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O projeto Mulheres Solidárias nasceu há cinco anos, em São Vicente, com a missão de ser um porto seguro para vítimas de violência doméstica. Mas o surgimento da pandemia da covid-19 fez os horizontes serem ampliados. E, desde março de 2020, a instituição também abriu os braços para quem foi afetado pela fome, pelo desemprego e pela falta de acesso a serviços durante o fechamento das atividades econômicas.


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“Nosso acolhimento era a mulheres vítimas de violência doméstica. Tínhamos toda a estrutura para trabalhar com elas: advogada, assistente social, psicólogas, parceria com o Município, porque precisávamos encaminhá-las, muitas vezes, para uma casa de passagem, tirando-as das mãos do abusador. Com a pandemia, tivemos de mudar toda a estrutura do projeto”, explica a presidente do projeto e assistente social, Fabiana Mota, de 40 anos.


Foi assim que o número de cadastradas chegou a 1.200. O atendimento passou a ser destinado também a famílias que tiveram dificuldades em manter o isolamento social, porque não tinham a menor estrutura para isso. Na sede da instituição, na Vila Cascatinha, elas encontraram cestas básicas, bazar de roupas, cuidados com saúde mental e oficinas como panificação para encontrar uma fonte de renda. “Aqui a gente dá o peixe e também ensina a pescar”, avisa Fabiana.


Ela conta que a necessidade de ampliação do atendimento foi ocorrendo na mesma proporção em que a pandemia se intensificava. “Criamos programa para ajudar na alfabetização das crianças. As famílias não tinham dinheiro para comprar um pão, que dirá internet para as crianças estudarem”, menciona.


Organização
Quem chega ao local se depara com um salão organizado. O espaço, simples, é todo dividido para acomodar os serviços oferecidos. No bazar, logo na entrada, as roupas estão cuidadosamente dobradas ou penduradas em cabides. No canto dedicado à leitura, os livros estão organizados, guardados e bem conservados. “As crianças leem e devolvem para o lugar”, diz Fabiana.


E é em cada detalhe que se percebem a dedicação e o carinho dos organizadores e voluntários. Evelyn Pereira Teixeira, de 48 anos, se emociona ao contar como o Mulheres Solidárias foi uma luz em tempos difíceis. Ela mora no Dique do Sambaiatuba e cuida de quatro netos, com idades entre 14 anos e um ano e meio. A única fonte de renda para pôr comida na mesa é o Bolsa Família, insuficiente. A cesta básica é um reforço e tanto, e a programação de final de semana são diversão e lanche garantidos para os pequenos.


“Minhas crianças sempre vêm às atividades ao sábado e, quando acaba, tem um lanche. Graças a Deus, eles saem de barriga cheia, porque, às vezes, não tenho nem um pão.”


Para os adolescentes, as oficinas com informações destinadas a auxiliá-los a entender e se preparar para o mercado de trabalho se transformaram em uma porta para o futuro.


“Quando ele for trabalhar, já vai saber como se comportar e o que fazer. Moro em uma favela, e fica difícil terem um local para aprender. E, com a pandemia, ficou mais difícil.”


Tudo isso fez com que ela voltasse a sonhar com um futuro melhor para todos. “Quero que tenham oportunidades que eu não tive. Parei de estudar na 4ª série. Não tive um apoio para progredir. Faço tudo para que tenham um futuro melhor”.


Projeto garante cuidados e fonte de renda a frequentadoras
Projeto garante cuidados e fonte de renda a frequentadoras   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Empurrão que faltava
Foi por acaso que Alexandra Alves de Oliveira, de 49 anos, conheceu o Mulheres Solidárias. O encontro pode representar o empurrão que faltava para conseguir pensão por morte do INSS. As orientações da advogada Sandra Laurino, responsável pela área jurídica, têm sido fundamentais.


O marido de Alexandra foi considerado desaparecido, e entender a documentação necessária para acessar o direito não era tarefa fácil. “Se não fosse ela, eu não ia saber o que fazer.”


A advogada conta que essa é apenas uma das muitas orientações jurídicas prestadas às mulheres. Segundo ela, um dos objetivos é esclarecer quais são os direitos que elas têm e como acessá-los. “De uma forma simples, didática e humanizada para que possam exercer a cidadania delas.”


No caso de violência doméstica, que é a missão inicial do projeto, a situação é mais delicada. “Porque elas chegam muito fragilizadas, muito desestruturadas. A gente tem muito cuidado, verificamos a situação dela e quais medidas serão necessárias e, além de dar acolhimento, a direcionamos aos serviços necessários.”


Retorno
Para Sandra, que está desempregada e recolhe latinhas e material reciclável para levantar recursos para a família, o apoio tem sido importante. “Quando meu benefício sair, vou ajudar o Mulheres Solidárias. Adoro aqui. Já avisei para a doutora Sandra e para a Fabiana (presidente da instituição).”


Este é o espírito do projeto: ajudar quem precisa e estimular a solidariedade seja para agregar voluntários ou para que os assistidos se sintam estimulados a também estender a mão quando encontram o próprio caminho, conta Fabiana Mota. “Quando isso acontece, eles vêm aqui e dizem: ‘Não preciso mais. Pode colocar outra família no meu lugar’. É bonito de ver”, afirma, feliz, a presidente do projeto.


Programas
O projeto desenvolve dez programas, que incluem atendimento a idosos e gestantes.


“E tem o programa Mulher na Quebrada, em que conseguimos tirar da comunidade as mulheres que eram vítimas de violência e levar para uma vida melhor. Elas saíram daqui formadas, por causa das oficinas, e conseguiram um emprego. É o meu orgulho, porque chegaram destruídas, sem saber o que fazer, porque dependiam do parceiro, e agora só dependem delas mesmas ”, destaca a presidente da instituição, Fabiana Mota.


O Mulheres Solidárias tem outros seis núcleos em São Vicente e Santos, com auxílio de mais de 45 pessoas. Buscar doações e auxílio da comunidade são uma meta. Agora, se preparam ao Dia das Crianças.


Perfil
Mulheres Solidárias
O que é?
Um projeto que visa a ajudar mulheres vítimas de violência doméstica e, com a pandemia, estendeu os serviços para ajudar mães carentes durante a pandemia. Oferece programas diferenciados que vão de cesta básica a cursos para geração de renda. O projeto visa ao acolhimento, ao amor e ao empoderamento das mulheres.


Onde?
Avenida Alcides de Araújo, 650, Vila Cascatinha, São Vicente


Contato
Pelos celulares (13) 98129-1950 e (13) 98841-2493 (WhatsApp)


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