Medicamento vencido volta para farmácia: especialistas explicam riscos do descarte irregular

Retorno da droga ao local de compra é medida ‘simples’ e eficaz no cuidado socioambiental

Por: Thiago D'Almeida  -  16/07/21  -  11:19
  Medida 'simples' do nosso cotidiano pode fazer a diferença para o meio ambiente
Medida 'simples' do nosso cotidiano pode fazer a diferença para o meio ambiente   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Você sabia que os remédios, quando vencidos ou utilizados de modo parcial, devem retornar às farmácias, sejam elas públicas ou privadas? Pois é! Essa mudança no hábito dos brasileiros é necessária e vem sendo alvo de diversas campanhas e até leis federais nos últimos anos, com um só objetivo: minimizar o estrago provocado no meio ambiente pelo descarte de medicamentos no lixo comum.


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De acordo com projeções divulgadas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), a partir de estudos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Brasil conta atualmente com até 20 mil toneladas de medicamentos descartados por ano, seja por conta do vencimento ou do uso incompleto.


Principais danos


Esse número só reforça a necessidade de divulgação da cultura do caminho inverso do remédio, com as farmácias deixando de ser apenas um local para compra e se tornando polos receptores dos fármacos. A natureza agradece e o ser humano também, como explica a coordenadora do curso de Farmácia da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Marlene Rosimar da Silva Vieira.


“Vamos imaginar que eu joguei um remédio vencido no lixo da minha cozinha. Esse medicamento vai parar nos aterros sanitários, juntamente com o lixo comum. Isso pode gerar acidentes com pessoas que tiram seu sustento do lixo. Elas podem se deparar com o medicamento, fazer uso de maneira inadequada ou até mesmo se contaminar”.


No campo ecológico, os riscos também são grandes, frisa Marlene. “Caso ninguém mexa no medicamento, ele acaba no aterro sanitário e prejudica o meio ambiente. Isso vai para as nossas águas, contaminando-as. Alguns estudos apontam que o descarte indevido pode interferir na vida de populações que moram ao redor de um rio”.


Por tudo isso, ela destaca que o lixo de casa deve ser desconsiderado. “Quando o remédio vence, não se pode jogá-lo no lixo comum. Nem o reciclável é o caminho. A forma correta de se descartar um medicamento é levando-o até uma farmácia. Unidades de grandes redes ou até mesmo as menores, como algumas de manipulação, recebem o medicamento vencido e o direcionam para que ocorra a eliminação de forma adequada pelas empresas”.


Consequências


O coordenador de Politicas Ambientais da Secretaria de Meio Ambiente de Santos, Marcus Fernandes, aponta que o descarte inadequado de medicamentos pode gerar uma outra consequência preocupante, já denunciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS): o surgimento de cepas cada vez mais resistentes de bactérias, aumentando a necessidade de antibióticos potentes.


“Para se ter uma ideia do dano causado por esse descarte incorreto, um estudo feito em 2019 (publicado na revista Cientific American) indica que 1 kg de medicamento é capaz de contaminar 450 mil litros de água. Além disso, a concentração de antibióticos em alguns rios ao redor do mundo excede os limites de segurança em até 300 vezes”.


EXCEÇÃO


A coordenadora do curso de Farmácia da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Marlene Rosimar da Silva Vieira, lembra que, uma vez que o medicamento tenha sido usado por completo, sua embalagem pode ser descartada como outros utensílios do nosso dia a dia. “Se o remédio acabou, como um xarope, por exemplo, o descarte dessa embalagem vai proceder como se ela fosse um frasco de suco, podendo ser colocada no lixo comum, desde que esteja sem os restos do medicamento”.


ENTENDA O PROBLEMA


1 - A ORIGEM


Os principais canais de descarte irregular de remédios são o lixo comum e as pias ou vasos sanitários de nossas casas


2 - O CAMINHO


Quando colocados no lixo, eles são transportados por caminhões até os aterros sanitários. Lá, ficam em contato com o solo, o que afeta o lençol freático, e ainda se misturam com demais detritos, gerando gases poluentes. Quando jogados na pia ou vaso sanitária, percorrem as redes de esgoto, que até possuem tratamento, mas os resíduos podem ter contato com a natureza.


3 - O RETORNO


Dessa forma, o medicamento descartado de forma irregular pode retornar por meio da água da torneira, do poço ou da cisterna, na chuva tóxica, no alimento contaminado por eventualmente ser regado com água imprópria ou pela poluição.


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