Camada de Ozônio: professores do litoral e capital explicam importância da guardiã da vida na Terra

No Dia Internacional da Preservação da Camada de Ozônio, saiba o porquê ela é vital para os seres vivos

Por: Ágata Luz  -  16/09/22  -  14:37
  Foto: Arte/AT

Formada por gases atmosféricos a quilômetros de altitude, a camada de ozônio filtra e impede a passagem de raios ultravioleta para a superfície do planeta. Ou seja, é essencial para a vida na Terra. Por sua preservação, um acordo foi adotado por diversos países em 16 de setembro de 1987: o Protocolo de Montreal. Para celebrá-lo, a data virou o Dia Internacional da Preservação da Camada de Ozônio.


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“A radiação solar na faixa do ultravioleta (UV-B) é absorvida na camada de ozônio, provocando a quebra da molécula em gás O2 e O, que, posteriormente, reagem produzindo nova molécula de O3. É um processo natural de destruição e recuperação da camada de ozônio baseado na absorção da radiação ultravioleta”, descreve o professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Fernando Ramos Martins.


Físico com doutorado em Geofísica Espacial, ele explica que qualquer aumento da quantidade de radiação que atinge a superfície tem “efeitos potencialmente nocivos à saúde humana, aos animais, plantas, microorganismos, materiais e à qualidade do ar”.


Para os seres humanos, os prejuízos podem ser devastadores pelo potencial de causar mutações genéticas. “Essas mutações acabam fazendo com que a gente tenha o risco aumentado de desenvolvimento de câncer”, ressalta o biólogo professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, Alexander Turra.


Fernando, por sua vez, cita o risco de dano à visão. Segundo ele, cada 1% de diminuição na camada de ozônio corresponde de 100 mil a 150 mil novos casos de catarata no mundo. Além disso, há prejuízos também ao sistema imunológico. “Um problema potencialmente grave em áreas onde doenças infecciosas são comuns”.


Danos gerais

Mas não é só a vida humana que pode sofrer os danos. De acordo com Fernando, há estudos que mostram que a qualidade das colheitas agrícolas também é afetada. Oceanos e ambientes marinhos também são impactados.


O UV-B consegue atingir profundidades maiores nos oceanos e prejudica os estágios iniciais do desenvolvimento de peixes, camarão, caranguejo e outras formas de vida aquáticas e reduz a produtividade do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática”.


Protocolo de Montreal

A data homenageada relembra a adoção do Protocolo de Montreal, que, segundo Fernando, é “um exemplo de sucesso da integração entre a Ciência e Políticas Públicas na aplicação de ações que visem suporte à vida em nosso planeta”.


O acordo surgiu entre as décadas de 70 e 80, quando cientistas começaram a suspeitar e detectar o aumento na incidência da radiação ultravioleta na atmosfera, que estava associado com a redução da espessura da camada de ozônio. “Os níveis de UV-B em 1994 estavam cerca de 8% a 10% mais elevados do que 15 anos antes”.


Alexander explica que as discussões começaram a se intensificar e levar a uma série convenções, como a Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio, que gerou as bases para que o Protocolo de Montreal entrasse em vigor. Adotado em 1987, ele entrou em vigor dois anos depois.


“Foi o primeiro e único acordo ambiental da ONU (Organização das Nações Unidas) a ser ratificado por todos os países, fato ocorrido em 2008. Apesar do sucesso alcançado, estudos e o monitoramento da camada de ozônio permanecem associados com as questões ambientais e climáticas do planeta”, diz Fernando, explicando que o acordo foi atualizado em 2016 com a adoção da Emenda Kigali, que busca reduzir os HFCs utilizados para substituir os gases danosos à camada de ozônio em diversas tecnologias e aplicações.


Alexander complementa dizendo que o Brasil segue as orientações para substituição ou banimento dos produtos que trazem danos para camada de ozônio. “Isso é muito importante e é uma ação que o Brasil tem feito historicamente. Nesse sentido, está alinhado com o mundo”, ressalta.


Apesar de o acordo ser considerado suficiente pelo profissional, o biólogo considera fundamental que as pessoas não percam a referência desse movimento e, por meio da cidadania, conhecimento e ciência, se tornem agentes de transformação do planeta.


O UV-B consegue atingir profundidades maiores nos oceanos e prejudica os estágios iniciais do desenvolvimento de peixes, camarão, caranguejo e outras formas de vida aquáticas
O UV-B consegue atingir profundidades maiores nos oceanos e prejudica os estágios iniciais do desenvolvimento de peixes, camarão, caranguejo e outras formas de vida aquáticas   Foto: Pixabay

Como preservar

Para Alexander, as formas de preservação da camada de ozônio envolvem a substituição do uso de alguns materiais. Antigamente, os clorofluorcarbonetos (CFCs) eram difundidos principalmente em sistemas de refrigeração, como geladeiras e ares-condicionados. “A perda desse gás para atmosfera fazia com que as moléculas fossem modificadas e a camada se enfraquecia”.


De acordo com o biólogo, escolher produtos livres de CFC contribui para a preservação da camada de ozônio. “Mas isso parte mais de uma política pública que proíba o uso dos compostos e estimule a substituição por outros”.


Porém, nem tudo é tão simples: hoje, o maior substituto são os hidrofluorocarbonetos, que induzem o aquecimento global. “É um problema sistêmico que depende de ações estruturantes, multilaterais e políticas públicas”, afirma o biólogo.


Fernando enfatiza a participação da sociedade nesse processo, com ações concretas. Entre elas, está optar por produtos que utilizam bomba em vez de frascos pressurizados e verificar se a embalagem informa se contém CFC ou similares danosos à camada de ozônio, assim como descartar freezers, geladeiras e unidades de ar-condicionado corretamente para evitar emissões de gases prejudiciais.


O professor ainda aconselha as pessoas a se atentarem para aquisição de madeira serrada, compensada e normal que não foram tratadas com brometo de metila. “As caixas ou produtos de madeira devem possuir um selo que demonstra o tratamento recebido”.


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