Questionar é a solução, apontam especialistas

Convidados de A Região em Pauta entendem que desenvolver senso crítico, por meio da educação midiática, é fundamental

Por: ATribuna.com.br  -  03/03/24  -  22:54
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De forma unânime, os especialistas que participaram de A Região em Pauta afirmaram que a solução para a desinformação é desenvolver o senso crítico dos usuários da internet. Eles também ressaltaram que aprender a questionar os conteúdos não é coisa somente para os jovens, mas é necessário para indivíduos de todas as idades. Desta forma, desconfiar do que se vê ou ouve no mundo digital tem de passar a ser um estilo de vida.


A presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, disse que não é necessário “ser cético 100%, mas precisa-se praticar ceticismo saudável”, aprender a duvidar de todo conteúdo que chega via WhatsApp, redes sociais ou outros meios. A cofundadora e gestora do Instituto Devir Educom, Andressa Luzirão, concordou. “Vivemos em um contexto de superabundância de informação, um mercado de fake news. Nossos jovens, crianças e muitos adultos são vítimas. Então, devemos ter olhar atento, criterioso, cauteloso e começar (a duvidar) desde a infância. É possível desenvolver, pouco a pouco, o olhar crítico e reflexivo em nossas crianças. Na infância, começa a cidadania”.


Por falar nos pequeninos, o jornalista, educador, escritor, ex-consultor da Unesco e mestre em Inteligência Artificial e Ética Alexandre Le Voci Sayad falou que os colégios possuem papel essencial para capacitar os jovens. “Proteger contra (os riscos da internet) inclui a educação midiática na escola. Ela é cada vez mais fundamental”.


Patrícia também acha que as crianças têm de aprender, desde cedo, a lidar com este mundo digital. Ela chega a dizer que, a partir dos três anos, qualquer pessoa já deve ser desenvolver a capacidade de duvidar. No entanto, engana-se quem pensa que o foco de toda a educação midiática são os jovens. Na verdade, pessoas de todas as idades necessitam, sistematicamente, trabalhar esta habilidade.


“No fundo, isso tem de ser hábito. Checar a informação é um hábito, não só disciplina escolar. É como escovar o dente ou lavar a mão. A gente tem de consumir informação saudável”, declarou Sayad.


Por isto, a presidente do Palavra Aberta salientou que existe a “necessidade de todos nos educarmos ao longo da vida”. Contudo, Andressa citou que a sociedade precisa entender uma coisa: embora muito se fale de notícias falas, esta não pode ser a única preocupação da população global.


“Não é só discernir o que é fake, mas ler nas entrelinhas, ter prensamento crítico, reflexivo, de entender o que influencia, impacta minha vida”, frisou.


Por fim, o deputado estadual Caio França (PSB), que presidiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra fake news na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), também destacou a importância de as pessoas não acreditarem em qualquer conteúdo sem, antes, tentar confirmar as informações. “Não tem bala de prata para resolver a desinformação. É um processo. O combate (a este problema) e pessoas serem mais criticas têm de ser permanente”.


Professores devem ser capacitados


Os convidados de A Região em Pauta concordaram que a solução para que a sociedade seja educada midiaticamente passa pelos professores. Existe o entendimento de que somente com a capacitação destes profissionais, os estudantes serão conduzidos, corretamente, a analisar e criticar conteúdos. Por Esta razão, habilitar os docentes é considerada uma tarefa essencial.


Esta é a visão, por exemplo, da presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco. A estudiosa afirmou que a falta de preparo daqueles que tratalham nas escolas é o primeiro dos desafios que precisam ser superados, a fim de que a população aprenda a consumir informações via internet. “Precisamos formar professores. Este é um gargalo que temos de enfrentar”, declarou, dizendo que os novos pedagogos devem sair das faculdades com “esta habilidade, para formar o aluno, levar a educação midiática ao estudante”.


Por sua vez, o coordenador do Núcleo de Educomunicação da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo e criador do projeto Imprensa Jovem, Carlos Lima, disse que a preparação dos docentes vai contribuir para que eles aprendam a ouvir seus alunos. “Se você não forma, culturalmente, o professor, ele não vai aceitar a opinião do estudante, não vai fazer o estudante trabalhar junto com ele”, explicou o especialista.


  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Jovens devem ser ouvidos, diz professor


É preciso dar voz ao jovem. Esta é a constatação do coordenador do Núcleo de Educomunicação da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo e criador do projeto Imprensa Jovem, Carlos Lima, que entende que as instituições de ensino, muitas vezes, não deixam os alunos se expressarem. Uma mudança de postura é vista por ele como essencial, para que crianças e adolescentes saibam lidar com o que veem na internet e pelo mundo.


O convidado de A Região em Pauta não apontou, somente, a necessidade de uma mudança de postura por parte dos educadores. O especialista também disse qual é a solução, a fim de mudar o quadro atual: investir em trabalhos como o Imprensa Jovem, que ocorre na capital paulista, e o Devir Comunicação, presente nas unidades municipais de ensino (UMEs) Avelino da Paz Vieira e 28 de Feveiro, em Santos. Ambos são projetos de educomunicação, que usam meios de comunicação no processo educacional.


“Em projetos assim, o estudante tem voz. A escola precisa de projetos de educomunicação, de educação midiatica, para ouvir os estudantes e trazer novas abordagens. Assim, os alunos vão construir conhecimento e conquistar apoio que a escola precisa na comunidade”, disse.


Segundo Lima, em São Paulo, envolver os alunos em trabalhos com mídia trouxe benefícios, como a diminuição da violência. De acordo com a cofundadora e gestora do Instituto Devir Educom, Andressa Luzirão, isto acontece pelo fato de o intuito dos trabalhos ser ensinar crianças e adolescentes a se comportarem corretamente tanto fora quanto dentro dos colégios.


“Como principal objetivo, temos o bem viver em sociedade. O que encontramos nas redes sociais é o discurso de ódio, violência, desrespeito. Então, precisamos ressignificar nossa comunicação de modo amplo”, afirmou.


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