Muito além das belezas naturais, Fortaleza dá exemplo de mobilidade urbana

Capital cearense implementou medidas que reduziram número de acidentes e ganhou destaque internacional

Por: Redação  -  05/12/21  -  14:39
Cidade conta com frota de 1,1 milhão de veículos, mas tem trabalhado na inversão de valores, privilegiando o cuidado com os pedestres, considerados como o lado mais frágil entre atores do ecossistema do trânsito
Cidade conta com frota de 1,1 milhão de veículos, mas tem trabalhado na inversão de valores, privilegiando o cuidado com os pedestres, considerados como o lado mais frágil entre atores do ecossistema do trânsito   Foto: Divulgação/Carlos Gibaja e Tatiana Fontes/Governo do Estado do Ceará

Uma cidade com uma frota de 1,1 milhão de veículos. Que, um ano antes do previsto, bateu a meta da ONU de reduzir pela metade a mortalidade no trânsito. Além disso, optou pelo investimento na priorização do transporte público, contando atualmente com mais de 128 km de faixas exclusivas, além de dois BRTs. Não são poucos os predicados que fazem Fortaleza, conhecida por suas belezas e vocação turística, também se tornar um exemplo na gestão da mobilidade urbana.


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Juliana Coelho, superintendente de Trânsito, narra as conquistas da capital cearense com orgulho. Para ela, tudo começou com uma mudança de mentalidade. “A cidade, assim como outras pelo Brasil, deu por muito tempo prioridade às pessoas que utilizam o transporte individual. De uns anos para cá, Fortaleza tem passado por uma grande transformação, com a inversão dessa pirâmide, dando prioridade para aquelas pessoas que são mais vulneráveis no trânsito (pedestres e ciclistas); depois para aqueles meios que transportam maior quantidade de pessoas (metrô, VLT e transporte público), ficando, em último lugar, quem utiliza transporte individual”, explica.


Ela conta que, com base em uma pesquisa realizada em 2019, com mais de 23 mil domicílios visitados, foram verificadas características do deslocamento na cidade. "Através dela, notamos que mais de 32% das pessoas realiza seu deslocamento a pé. Com isso, a cidade está tendo esse cuidado a mais com essas pessoas, que são bastante expostas ao tráfego dessas vias, e que 65% desses deslocamentos são realizados por meio de transporte sustentável (a pé, coletivo ou bicicleta)".


Pedestre como prioridade


Juliana conta que, em alguns locais, tem sido adotada não só a faixa normal, mas travessias elevadas (lombofaixas), que possuem um respeito maior. Foram implantadas 80 em áreas com maior concentração de pedestres. “O motorista é "obrigado" a obedecer. Tem que estar tudo bem alinhado: fiscalização, educação e ações de engenharia", argumenta.


Sensível


A prioridade para os pedestres também é revelada em outras iniciativas. “Percebendo também que o pedestre é o mais sensível do trânsito em relação à segurança viária, estamos expandindo alguns projetos. Um deles é o Projeto Caminhos da Escola, no entorno das escolas de Ensino Fundamental e Médio. Temos a adoção de áreas de trânsito calmo. Todo o centro de Fortaleza possui hoje uma velocidade limitada a 30 km/h”, acrescenta a gestora.


Além da implantação de medidas, existe em Fortaleza um grande acompanhamento de gestão de informações, com relatórios expostos à população de forma bem impactante e que permitem o acompanhamento desses resultados obtidos. "Fazemos, ainda, o monitoramento, com mais de 900 câmeras, identificando fatores de risco dos condutores e pedestres, acionando agentes de trânsito, controle dos semáforos em tempo integral e fiscalização eletrônica", enumera Juliana.


Motociclistas, entre a consciência e respeito


Na contramão da queda de usuários nos ônibus, as motocicletas ganharam espaço nas ruas, especialmente em meio à pandemia. No entanto, os acidentes vieram na garupa. De acordo com o Infosiga, sistema do Governo do Estado gerenciado pelo programa Respeito à Vida e Detran.SP, o Estado de São Paulo registrou crescimento de 45,5% nos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas durante a pandemia.


De abril de 2020 para junho de 2021, o número de ocorrências saltou de 4.877 para 7.097. Já em relação a óbitos foi registrado aumento de 13,5%, com 133 fatalidades de trânsito em abril de 2020 e 151 em junho de 2021.


Fortaleza achou um meio de lidar com essa questão. Juliana Coelho relata que foi analisado o que aconteceu durante esse período de pandemia. (2020/2021) no comportamento do motociclista. "Teve um incremento na frota de Fortaleza, em relação ao uso da motocicleta, mas também teve um aumento no número de entregadores por aplicativo nesse período. O que a gente constata nas operações de fiscalização é que grande parte deles não possui nem carteira de habilitação. A moto, na maioria das vezes, é furtada e não possui placa. Então, estamos fazendo um trabalho forte de fiscalização", ensina.


Levantamento da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) aponta que a média de acidentes com mortes em Fortaleza caiu pelo menos 67% em vias que tiveram a velocidade readequada entre 2016 e 2020. A mudança da velocidade em ruas e avenidas da capital cearense com intenso fluxo de veículos - de 60 km/h para 50 km/h - é uma das estratégias utilizadas para fortalecer a segurança viária.


"Pensamos na fiscalização aliada à educação. Iniciamos, neste ano, um curso gratuito de pilotagem segura somente para motociclistas, justamente para levar a essa conscientização, essa mudança de comportamento. Já conseguimos formar oito turmas, com mais de 600 motociclistas formados. E a gente tem muita expectativa de que, por meio dessa formação, onde também apresentamos dados da realidade do hospital que faz o atendimento para estes traumas. Também estamos abordando essa realidade por meio de campanhas educativas com foco no motociclista. Não ele como vilão, mas como sendo a principal vítima desses acidentes", complementa Juliana.


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