Especialistas falam sobre os problemas à saúde associados à internet

Andressa Luzirão e Alexandre Le Voci Sayad participaram de encontro Educação Midiática, no A Região em Pauta

Por: ATribuna.com.br  -  03/03/24  -  13:06
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

"A gente vive em sociedade adoecida"

Frase é de Andressa Luzirão, que aponta falha do comportamento humano na internet


O comportamento das pessoas na internet comprova que a sociedade está doente. Esta é a conclusão da cofundadora e gestora do Instituto Devir Educom, Andressa Luzirão. A convidada de A Região em Pauta disse que elementos como exposição de crianças em redes sociais, racismo, negacionismo e outros aspectos denunciam que o ser humano se perdeu no uso da tecnologia.


O instituto que criou e dirige mantém um programa de educação midiática em duas escolas públicas de Santos, com o projeto Memórias em Rede. Por ter esse contato mais próximo com o universo virtual é que ela identifica uma série de problemas espalhados pela rede mundial de computadores.


Um dos exemplos utilizados por Andressa para fundamentar sua tese foi um aplicativo chamado Simulador de Escravos, no qual o usuário podia maltratar uma pessoa preta. “O que mais assombra são os comentários (de quem usou o aplicativo): ‘Ótimo jogo para passar o tempo, mas faltavam mais opções de tortura. Poderiam instalar opção para açoitar o escravo também’ (...) ‘Muito bom. Retrata bem o que eu gostaria de fazer na vida real’. “Isso é muito sério. A gente vê que o racismo estrutural é muito presente”, disse, informando que o Google já retirou este game do ar.


Ressaltando que “há um submundo da internet, que é perverso, cruel, violento”, a responsável pelo Devir Educom acredita que até mesmo familiares de crianças e jovens perderam a noção de suas atitudes no ambiente virtual.


“A trend (tendência) do momento é a do palavrão. Ela consiste em pais e mães dizerem a seus filhos que podem falar palavrão no banheiro. A mãe fecha a porta, e eles falam o que quiserem. Então, a criança vai lá e fica sozinha, sendo gravada. Depois, o pai e a mãe pegam o vídeo e jogam no TikTok. Qual é a necessidade de expor seu filho? Esta é uma rede que é um grande arquivo. O vídeo estará lá para sempre. Daqui a algum tempo, o filho pode ser alvo de bullying, chacota na escola”, frisou a jornalista.


Andressa afirmou que, embora a sociedade discuta soluções para notícias falsas, é preciso ampliar o horizonte, buscando resolver mais problemas. “Não é só trabalhar o que é fake ou não. Existe um universo que não conseguimos mensurar na internet”.


  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Algoritmos prejudicam o pensamento crítico

O jornalista, educador e escritor Alexandre Le Voci Sayad citou outro problema atual relacionado à internet: as escolhas que os algoritmos fazem, decidindo o que cada usuário consome e indicando quem ele deve seguir. Para o especialista, este mecanismo é prejudicial.


Primeiro convidado do fórum a tocar no assunto, Sayad afirmou que “o algoritmo de recomendação (presente, por exemplo, nas redes sociais) limita o mundo. Ele restringe a nossa visão e nos aproxima de quem é mais parecido conosco. Este é um impacto do pensamento crítico”.


O que o especialista quis dizer é que a tecnologia cria filtros que impedem os indivíduos de verem e consumirem conteúdos que divergem de seus posicionamentos e preferências. Isto, ressaltou o escritor, atrapalha qualquer pessoa de desenvolver a capacidade de analisar cenários distintos, a fim de se posicionar com relação aos mais variados assuntos.


Andressa Luzirão concordou, frisando que este quadro corrobora para que haja a disseminação de notícias falsas. “Vemos muita fake news nas redes sociais, por exemplo, sobre a crise climática, revelando um negacionismo muito grande em relação à causa ambiental. Isso gera bolhas informacionais. Os algoritmos segmentam o que consumimos e fortalecem nossos vieses, nossas visões e crenças”.


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