“O ideal é que cada ministério ou secretaria legisle em sua área”, disse, exemplificando: “Na educação, existem dados dos alunos, de crianças e adolescentes. Eles são úteis, pode-se avaliar uma região inteira da cidade. Mas, são dados de crianças e adolescentes. Como lidar com essa dicotomia? Nada melhor que o MEC (Ministério da Educação) para fazer isso. Por que o Parlamento interferir? O MEC pode se regular neste sentido. E como controlar o fluxo de informação que circula internacionalmente sobre o país? O Itamaraty tem de criar uma barreira. É difícil jogar isso para o Congresso”, considerou.
Apesar disso, Sayad destacou que chegar a uma lei eficiente não é um problema brasileiro. “A Europa passou por isso. Porém, o que aprovaram tem coisas interessantes”.
Segundo ele, um dos pontos positivos da legislação do Velho Continente é atribuir sempre ao homem a responsabilidade da tomada de decisões, ainda que as máquinas tragam análises e diagnósticos. “Não estamos no ponto de deixar a decisão final ser do algoritmo”.
Além disso, os europeus discutem acabar com procedimentos de reconhecimento facial. “Existe um movimento para (banir) em cinco anos”.
Confiança
O deputado estadual Caio França (PSB) esteve no evento e deu sua opinião sobre o Congresso criar uma legislação para a inteligência artificial. Em sua explanação, ele disse acreditar que os parlamentares têm condições de elaborar uma boa legislação. “Penso que o Congresso tem boas cabeças, e eles utilizam referências de outros lugares. Claro que, quando vai fazer legislação com temas muito atuais, ainda sem um histórico, busca-se em outros lugares, para saber como foi, resultados, o que serviu de positivo e o que foi negativo. Estes são assuntos que não vão ter uma lei que vai resolver o problema como todo. É necessário um conjunto de medidas, que vão nos fazer ter ferramentas para melhorar a convivência em sociedade”.
Ai
Como mencionado por Sayad, a LGPD teve por base uma medida criada na Europa. Trata-se do Regulamento Geral de Proteção de Dados — no original, General Data Protection Regulation (GDPR) —, que foi concebido em meados de 2012, tendo sido assinado somente em 2016. Apesar disso, a legislação só entrou em vigor em 2018.
Já existem movimentos de algumas autoridades públicas no sentido de criar leis que preparem a população para ter um bom convívio no ambiente digital. Uma das iniciativas é do deputado estadual Caio França (PSB), autor do projeto de lei 45/2022, que institui a Semana Estadual de Educação Midiática.
Comentando sua proposta, o parlamentar admitiu que ela não é suficiente para que haja a conscientização geral a respeito do tema. Entretanto, França entende que a medida vai ajudar no processo para que este tipo de educação se espalhe por São Paulo.
“Ela é uma forma de chamar atenção. Sei que uma semana é pouco perto do que a gente precisa. Porém, se conseguirmos fazer (ações) para o Ensino Fundamental II e o Médio, onde os jovens conseguem ter mais acesso ao telefone e são propagadores de notícias, penso que é caminho adequado”, falou.
O deputado acredita que seu projeto será aprovado até o próximo mês de outubro. “Hoje, está na Comissão de Educação, mas já temos parecer favorável. O projeto estará pronto para ser votado em um ou dois meses. No plenário, creio que não teremos dificuldade. Estou esperançoso”.
A vice-prefeita de Santos, Renata Costa Bravo, afirmou que o município debate a criação de uma legislação própria, para que a educação midiática se torne política pública. E, enquanto estudos são executados neste sentido, a prefeitura tenta obter o selo de cidade midiática da Unesco. Caso isto aconteça, o local poderá receber recursos de fora do país.
Buscando avançar neste contexto, a Secretaria de Educação (Seduc) se debruça sobre o tema, tentando implementar a norma. Embora a legislação ainda não tenha sido elaborada, alguns aspectos já estão decididos. Um deles é levar a educação midiática a todas as unidades educacionais.
“Estamos fazendo a discussão da lei municipal e de onde fazer implantação, na grade curricular, da educação midiática”, disse, ressaltando que o Executivo planeja abrir espaço no orçamento, inclusive, para capacitação de professores. “Ao longo deste ano, precisamos deixar estabelecido, para que em 2025, eles participem desta formação”.