Arte preta carece de mais espaço, afirma produtor, em fórum de Cultura em Santos

Jamir Lopes defende mais ações e iniciativas focadas em difundir essas manifestações

Por: ATribuna.com.br  -  03/12/23  -  16:21
Lopes ressaltou que a arte do negro permeia toda a cultura do Brasil
Lopes ressaltou que a arte do negro permeia toda a cultura do Brasil   Foto: Sílvio Luiz/AT

A cultura negra, embora permeie as mais diversas manifestações brasileiras, ainda não tem o espaço ideal na sociedade. Este é o entendimento do produtor cultural Jamir Lopes. Para ele, é urgente aumentar a difusão da arte afro, para que esta receba mais apoio e seja mais apreciada.


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Iniciando seu discurso, ao falar a respeito das poucas oportunidades destinadas ao público preto, o especialista disse que existe uma contradição. Isso porque, como ressaltou, “a base da cultura nacional tem origem africana”. Aliás, ele chegou a destacar que “não por acaso, duas das maiores manifestações do país, o samba e o Carnaval, têm esta base”.


No entanto, para o convidado de A Região em Pauta, apesar de a “negritude” estar enraizada em todo o País, ela ainda não recebe o valor correto. Por isto, nem mesmo as ações decorrentes do feriado da Consciência Negra, que ocorrem sempre em novembro, não são suficientes.


“Entendo que muitos estados e cidades estão ampliando eventos (do povo negro). Claro que isto é importante, pois abre mais pontos de trabalho para artistas e produtores negros. Mas, isso tem de acontecer o ano todo, não só em novembro, porque quem é preto, é preto o ano todo, a vida toda”, declarou.


Para que a expansão desejada pelo especialista se torne realidade, de acordo com o próprio Lopes, é necessário que o poder público adote medidas concretas. “Precisamos de profundidade, não ficar na superfície. Senão, fica uma coisa muito para inglês ver, como foi a abolição (da escravidão) lá atrás. Uma professora da USP (Universidade de São Paulo) diz que temos dois dons: visão e querer enxergar. Só que enxergar é uma possibilidade, uma opção social, política, cultural e, principalmente, moral”, citou.


Preconceito
Jamir Lopes finalizou seu pensamento, afirmando que mais uma coisa é essencial, a fim de se mudar toda esta conjuntura: erradicar o preconceito. “O Brasil é racista (...) Existe uma artista americana de quem gosto, a Erykah Badu, que afirma que o mundo gosta da cultura negra, mas não do negro”.


Diante disto, o produtor voltou a falar que o poder público precisa agir, evitando ou impedindo a discriminação. “(Tem de ser algo) como a Lei de Cotas, que transformou o meio universitário. Hoje, 50% dos estudantes das faculdades públicas é das classes C, D e E, que tem a maioria de negros. Precisamos ter essa preocupação, pois é o que vai transformar o País”.


Diversidade
Jamir Lopes disse que a pouca valorização da cultura negra não é o único problema. O produtor acha que outra falha é a falta de diversidade em programações e produções. Para ele, este cenário é negativo e afeta o País como um todo.


“Temos de aprimorar a inclusão”, decretou, complementando: “A gente precisa de uma programação mais diversa. Tem de incluir mais negros e mulheres. Isso é fundamental”.


Ele falou, ainda, que existe um clamor geral por mudanças. “Cada vez mais, a sociedade e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) cobram que as instituições sejam mais diversas. É uma pauta que incomoda, mas nossa sociedade, uma das mais escravocratas, vai ser instigada”.


Concluindo, o especialista deixou um alerta. Segundo Lopes, a manutenção do cenário sem igualdade de oportunidades impede que a nação supere problemas. “Enquanto não formos mais diversos, nossa justiça social não será consolidada, a democracia não vai se consolidar”.


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