O calvário dos treinadores

Pode-se pensar o que quiser sobre o que viveu o jovem treinador Thiago Carpini

Por: Vladir Lemos  -  25/04/24  -  06:59
  Foto: Paulo Pinto/saopaulofc.net

Pode-se pensar o que quiser sobre o que viveu o jovem treinador Thiago Carpini em sua breve passagem pelo comando técnico do São Paulo Futebol Clube. O que não dá pra negar é que a história toda se desenrolou de forma um tanto cruel. A vida me mostrou – e quero crer que me ensinou – que profissionalmente pular etapas pode levar ao aniquilamento, ou provocar efeito colateral mais brando, mas ainda assim extremamente danoso. Ou seja, é de qualquer forma não recomendável.


O que é preciso lembrar é que se quem aceitou dar o pulo errou na hora de analisar a oportunidade, quem deu a oportunidade também não foi preciso na escolha. E o maior castigo desse tipo de situação é que quem dá o pulo, em geral, tem sempre mais a perder do que quem sugere que o pulo é, ou era, possível. Carpini não foi o primeiro e não será o último treinador que veremos nesse tipo de situação. É bem provável que ele tenha argumentos para desmontar minha teoria. Outras justificativas para explicar o que viveu. Mesmo porque deve se sentir um profissional preparado para grandes desafios. E não duvido que seja.


Mas a conquista da Supercopa e, arrisco dizer, mais ainda a quebra do tabu na arena corintiana mascararam o que seria a realidade que lhe esperava. Elevaram a expectativa e a exigência com o trabalho dele às alturas. Realidade que os resultados aquém do esperado só tornaram mais complexa, e que o argentino Zubeldía irá herdar pra valer hoje à noite. Interessante notar também que, apesar do vivido, a diretoria do time do Morumbi volta a apostar em um treinador jovem, ainda que mais rodado. Como ouvi em uma conversa outro dia, o futebol brasileiro tem sido pródigo em roubar o brilho de jovens treinadores que vão de grande promessa a profissional de dotes duvidosos em poucos jogos.


Tem sido intrigante acompanhar esse viés do futebol. Essa aposta insistente, desde a chegada de Abel Ferreira, em técnicos portugueses que aportam aqui como ele, sem um título sequer de relevância. Como é interessante notar que toda uma geração de treinadores mais rodada saiu de cena. E se veio Abel, foi porque antes dele tinha vindo Jorge Jesus, mas com 20 anos de janela e um punhado de títulos do futebol português.


Diante disso, volto a afirmar o que já afirmei, os clubes brasileiros deveriam pensar em formar treinadores. Uma íntima história com o clube talvez lhes servisse como escudo para ultrapassar essa fronteira imposta aos mais jovens. Mas tenho dúvidas porque em tempo algum a experiência foi garantia de permanência. Que a vida de treinador não é fácil, todo mundo sabe. O lendário Telê Santana, antes de se consagrar de vez com os títulos mundiais do São Paulo, esteve à beira de deixar o Tricolor depois de sentir a pressão da derrota em um clássico contra o Corinthians. O enredo da história é cheio de requintes.


E às voltas com essa questão do técnico são-paulino, lembrei do húngaro Bella Guttmann que nos idos de 1957 chegou ao Tricolor paulista dando toda pinta de que sabia muito bem onde estava pisando. Sua única exigência pra assumir o cargo foi a contratação de Zizinho, já um veterano praticamente. Pra quem não sabe quando se perguntava ao Rei Pelé quem era o tal ele sem titubear dizia: Mestre Ziza.


Ouvi gente por aí dizer que Zubeldía sabe onde está pisando. A ver.


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