Mundo da Bola: Sobre manipulações

Textor literalmente tem se esforçado sobremaneira para colocar fogo no circo

Por: Vladir Lemos  -  04/04/24  -  06:21
  Foto: Reprodução/X

Tivesse a derrocada do Botafogo no Campeonato Brasileiro do ano passado se dado de modo menos evidente, com lances desses cabeludos, polêmicos, talvez fosse mais fácil entender onde quer chegar o americano John Textor, dono da SAF que adquiriu o clube há pouco mais de um ano.


Não é o caso, pois o time figurativamente se desintegrou depois de liderar o torneio a maior parte do tempo. Duas realidades tão díspares que eu também não tiraria a razão de quem viesse a desconfiar que a evolução meteórica do time carioca tivesse por trás algum método menos ortodoxo. Até porque somos livres para desconfiar, o que é infinitamente diferente de acusar sem provas.


Textor literalmente tem se esforçado sobremaneira para colocar fogo no circo. De onde é possível concluir também que, ou ele sabe verdadeiramente de coisas que ninguém sabe, ou tem sido um inconsequente.


Entre as declarações que deu, me chamou atenção ter dito que enviou o material que tinha para a CBF para em seguida dizer que, tendo feito isso, não saberia dizer exatamente quem o recebeu. E assim imprudentemente apontou para clubes como o Fortaleza, o Palmeiras e o São Paulo. Todos bradando em uníssono que irão tomar as atitudes judiciais cabíveis.


Quando riscou o primeiro fósforo, apontou um suposto esquema de manipulação de resultados. Acusação que levou todo mundo a crer que teria se dado no universo em que o clube dele transita. Eis que o americano, que fez fortuna na indústria do entretenimento, quando todos esperavam a bomba, veio com uma conversa de que o caso teria se dado em um divisão menor, infinitamente menor. Intimado a apresentar as provas, não o fez e acabou denunciado pela procuradoria-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Ao descumprir a decisão, foi denunciado em artigo que prevê pena que pode ir de 90 a 360 dias de suspensão.


É de se supor também que, tendo colocado parte de sua fortuna no futebol brasileiro e dando de cara com indícios de que o mesmo estaria sendo manipulado, decidiu que a melhor tática seria colocar a boca no trombone. Até onde entendi, os relatórios que forneceram os dados para que Textor tomasse pra si o papel de acusador são frutos da tão falada inteligência artificial. Vai saber o que não daria para afirmar cruzando dados a respeito de tudo o que acontece em campo.


Impossível que como homem de negócios experiente que é não tenha notado o quanto tudo foi feito de modo a causar impacto. Se há manipulação, outros clubes podem estar interessados em saber como ela anda se dando. Poderiam ser parceiros de ações coordenadas. O que me faz crer que Textor considera que forçar esse assunto na mídia seria, ao menos, parte da estratégia ideal.


Como não nasci ontem e sou por natureza um sujeito desconfiado, começo a acreditar que pode não ser apenas coincidência que tudo isso venha à tona justamente no momento em que uma CPI no Senado se prepara para investigar a fundo a manipulação de resultados no futebol brasileiro. A criação da comissão foi requerida pelo ex-jogador Romário, atualmente senador pelo PL do Rio, que por sua vez embasou o pedido em relatórios de uma empresa que analisa dados em tempo real a fim de encontrar movimentações suspeitas em casas de apostas e que colocou sob suspeita 109 jogos do Brasileirão do ano passado.


Resta saber como se comportará John Textor até o próximo dia 15, quando será julgado no STJD.


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