Mundo da Bola: A dívida da dúvida

Vou seguir nossa conversa partindo de uma manchete novamente

Por: Vladir Lemos  -  08/02/24  -  06:22
  Foto: Pixabay

Vou seguir nossa conversa partindo de uma manchete novamente. Boa demais para deixar passar sem uma reflexão. Creio que vocês irão entender.


Já vimos de tudo no futebol. Times que não têm dinheiro fazendo contratações bombásticas. Time sendo campeão quando os balanços sugerem a bancarrota. Enfim, vigora no mundo da bola um quê de tudo é possível. E verdadeiramente é. Não fosse assim não teríamos visto como já vimos, e muito, times se impondo no cenário nacional com grandes títulos, grandes esquadrões, grandes faturamentos e tudo isso virando pó pouco tempos depois.


Qualquer semelhança com o Santos não terá sido mera coincidência. Um ciclo perverso que sempre jogou a favor do faturamento. Costumo brincar com meus amigos, toda vez que damos de cara com algo nessa linha, dizendo o seguinte: “Quem gosta de futebol somos nós, eles gostam de dinheiro”.


Veja, do ponto de vista dos negócios, no mundo da bola tanto faz se um time está sendo montado ou desmontado. O que importa é o dinheiro girando, as comissões. Se puder desmontar e montar de novo, então, talvez seja melhor ainda. E se não fosse assim – com essa economia que desafia a lógica –, as dívidas já teriam inviabilizado a história de praticamente todos os nossos clubes. Mas há sempre uma mão a lhes salvar, um mirabolante plano de refinanciamento bancado pelo governo – leia-se com a nossa grana – cuja eficácia até aqui foi sempre uma espécie de naufrágio. Não há freios. Vivemos agora a era das SAFs.


Mas as manchetes, estas mesmo de onde tenho extraído o caldo da nossa prosa, estão fartas de exemplos que jogam na nossa cara que ser empresa nunca foi sinônimo de beatitude. Vira e mexe, um balanço contábil estremece o mercado com rombos bilionários que experts em auditoria não conseguiram farejar. Vai explicar. Por essas e outras, costumo brincar com meus amigos dizendo também a eles que tenho a impressão que, se um dia o mundo acabar, poderá não ter sido em virtude de uma poderosa bomba, ou algo que o valha, mas por causa da economia com essa lógica absurda que passou a ser o cerne dela.


Posso até admitir que muito foi feito no sentido de não deixar os cartolas impunes. Reconheço o empenho em se criar mecanismos que passassem a permitir que a lei fosse atrás deles e que passassem a responder com os patrimônios particulares uma vez constatada a falcatrua. A pergunta é: sabes de algum que no final das contas se viu na condição de ter de entregar o que tinha?


Mas não digo que não andamos. O que digo é que, até o final da semana passada, duvidava, ou melhor, jamais imaginei que um dia daria de cara com uma manchete como aquela. Que dizia que o Bahia, graças a um aporte feito pelo seu agora parceiro grupo City, tinha quitado 79% das suas dívidas. Se quitarão estas para no futuro fazer outras é o que veremos.


Afirmei aqui tempos atrás que, olhando a tabela do Brasileirão, era possível ler que uma maneira diferente de gerir o futebol andava dando as caras e colocando entre os times ditos grandes outros mais modestos que outrora não teriam esse fôlego. Não apostaria que o mundo do futebol será saneado, mas sou obrigado a dar o braço a torcer que não esperava isso dele.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter