Mas duvido que sejamos os únicos a conviver com essa pulga atrás da orelha. Fato é que gato escaldado tem medo de água fria. E tá pra nascer entre nós quem não tenha vivido trauma do tipo. Os santistas, que sonharam com o título brasileiro de 1995, que o digam.
Enfim, alimentando esse fogo eterno dos embates entre foi ou não foi está não só essa área nebulosa em que pairam todas as interpretações e também um sem fim de câmeras que podem, a depender do ângulo em que estão postas, nos convencer facilmente de uma coisa ou de outra. Não queria ser o anunciador dessa nada alvissareira realidade. E peço desculpas se por acaso ainda restar nesse mundo alguém que não tenha feito essa constatação. Eu, ao menos, já me peguei muitas vezes mudando de opinião na mais perfeita sintonia com as alternâncias de ângulos. E chega a me dar arrepios lembrar disso porque a partir daí é possível – acompanhado de imagens – criar a narrativa que se queira para um lance, um jogo. A final do Paulista mostrou bem isso com o tal pênalti marcado em Endrick. Não há de ser, creio, um fato isolado desta nossa era infinitamente tecnológica e dada a desafiar pontos de vista. Tento, na medida do possível, adequar meu modo de ver o futebol a todas as orientações que soam por aí com certo ar de pregação.
Tenho dúvidas monstruosas a respeito de muitos lances analisados sem pestanejar pelos mais experientes intérpretes do jogo. Na maior parte das vezes sofro mesmo é quando as mãos e braços insistem em entrar no jogo. Entendo que se trata de um esporte de contato, aceito os jogos de corpo, mas, quando um braço entra em cena deslocando alguém, minha mente ultrapassada tende ainda a achar que foi falta, que foi pênalti, que foi claro. Mas pode ser apenas uma falta de atualização da pouca inteligência nada artificial que me foi dada a carregar na cabeça. E que me faz pensar que está mais do que na hora de os comentaristas de arbitragem terem a elegância de darem seus vereditos só depois de resolvido o lance em campo. E aí sim opinarem se foi ou não foi.