Reconhecimento a José Bonifácio

Eunice Tomé. Jornalista e escritora

Por: Eunice Tomé  -  20/04/24  -  06:54
  Foto: Reprodução

Coitado do país que não reconhece seus heróis e seus ídolos. Não valoriza seus feitos em prol do desenvolvimento, da cultura e do povo. E se transforma em um lugar raso, sem expectativas e sem exemplos para as futuras gerações. Por motivos não explicados ainda, talvez os políticos, essa ingratidão tem ocorrido, em especial com o herói e Patrono da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva.


Aqui na nossa cidade de Santos, berço de seu nascimento, e onde deixou algumas marcas, o sentido de orgulho a esse estadista é pouco presente, não fosse o empenho de dois idealistas e defensores ferrenhos do reconhecimento desse homem público que atuou em várias áreas da vida nacional. Arlindo Salgueiro, que há 30 anos fundou o Movimento Pró-Memória de José Bonifácio, e integrando-se depois, José Geraldo Gomes Barbosa, ambos levantando bandeiras e lutando pela implantação do Memorial e pelo Pantheon dos Andradas. Outras reivindicações estão no bojo de medidas, mas caminham em passos lentos e com pouco interesse de autoridades e entidades culturais e históricas.


Apesar de poucas perspectivas de realização, a dupla não esmorece e continua a clamar por providências de medidas que elevem o nome de um brasileiro ilustre, nascido em 13 de junho de 1763, com forte influência na ato histórico da independência, mas que incomodou as elites em sua época. Quando deputado da Assembleia Nacional, defendeu os projetos de reforma agrária e a libertação dos negros, atitudes que o levaram à cassação e, mais ainda, seu afastamento do país, indo para a França, na condição de exilado (1823/1829), exatamente nas cidades de Bordeaux e Talence.


Não abandonando o idealismo e a determinação, Arlindo Salgueiro e José Geraldo Gomes Barbosa, depois de muitas lutas e contatos, recentemente procuraram o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) na busca de uma intervenção junto ao Itamaraty, com credencial diplomática, para que pudessem ser recebidos na França e facilitar as pesquisas nessas duas cidades e lá podendo desvendar os feitos e atuações de José Bonifácio enquanto esteve exilado, por seis anos.


Como resultado dos contatos diplomáticos, as prefeituras de ambas as cidades francesas encaminharam ofícios, onde colocaram-se abertas a receber os pesquisadores e admiradores de José Bonifácio, o que acontecerá a partir de amanhã.


Fora essas pesquisas externas, o Movimento Pró-Memória tem um rol de reivindicações para fomentar e engrandecer a imagem desse vulto nacional. O que o Movimento pleiteia, no entanto, são medidas efetivas, em especial transformar o Pantheon dos Andradas em Patrimônio Histórico Nacional. Na área da educação, para servir de exemplo e orgulho das novas gerações.


Somente com a realização dessas e outras pautas estará se dando o devido reconhecimento a quem de direito, por ter sido declarado, em 2016, por lei do então deputado federal João Paulo Tavares Papa, o Patrono da Independência do Brasil.


Ele, de sua parte, era um homem simples, deixando evidente essa sua personalidade ao não aceitar os títulos de Marquês nem a Comenda do Cruzeiro do Sul, e pedir a dom Pedro I que, quando da sua morte, fosse colocada uma pedra tosca sobre sua sepultura, com um verso do português Antônio Ferreira: “Eu desta glória só fico contente, que minha terra amei, e a minha gente”.


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