50 anos da Revolução dos Cravos

Ademir Pestana. Presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência e vereador em Santos

Por: Ademir Pestana  -  25/04/24  -  06:56
  Foto: Unsplash

A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos e Revolução de Abril, conflito ímpar na história da humanidade, foi um movimento popular e militar cujo ápice aconteceu em 25 de abril de 1974, colocando fim à ditadura salazarista que vigorou por 41 anos em Portugal. Fala-se muito sobre a Revolução dos Cravos, um dos mais importantes acontecimentos históricos da década de 70, mas em se tratando de democracia, o bastante nunca será suficiente, em especial, para não esquecermos das lutas por sua conquista e mantê-las vivas em nossas atitudes.


Em meio ao mundo conturbado por conflitos, mais que dantes é tempo de lembrar que a democracia só existe com respeito e tolerância às diferenças, independentemente de onde o regime político no qual a soberania é exercida pelo povo está instalado. A celebração pelos 50 anos da Revolução dos Cravos é uma boa oportunidade para nós, brasileiros, especialmente a sua esmagadora maioria descendente de portugueses, refletirmos sobre o que viveram nossos parentes próximos com as consequências financeiras do regime salazarista (António Salazar Oliveira, que chefiou o governo de Portugal no período de 1933 a 1968, e Marcello Caetano, que deu sequência ao governo ditatorial) e o desgaste das guerras coloniais no continente africano.


Contra a vontade do povo, o governo salazarista mantinha, apesar do alto custo financeiro e de vidas, a guerra para manter as então colônias portuguesas na África: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Essa guerra e a grave crise econômica fizeram com que a insatisfação se intensificasse. Poucas eram as famílias que não tinham, no mínimo, um filho nessas guerras e o empobrecimento do país caminhava a largos passos.


Em 25 de abril de 1974, houve uma revolução cultural com cravo (flor) e música tingindo e dando o tom da coragem e união de um povo. Os principais símbolos foram os cravos, colocados nas pontas das baionetas dos militares, e a música Grândola, Vila Morena, a senha que anunciou o começo da revolução. Falando ou escrevendo dessa forma, parece que foi simples, fácil, rápido. Muito pelo contrário. Desde os anos 60, artistas populares tentavam envolver a população em manifestações para uma consciência política através da cultura, notadamente pela música, para reivindicar seus direitos. Tarefa árdua porque o país praticamente agrário não estava aberto à cultura de massas. Portugal, de literatura vasta, mas praticamente voltada à elite, tinha no fado a canção típica do país, seu modelo (o que continua e para sempre) não se abrindo à música popular, muito menos de protesto.


Mas esses artistas plantaram a semente. Isso ficou evidente em 1974, quando a revolução já estava alinhada pelo Movimento das Forças Armadas, formado em maioria por capitães que participaram da guerra colonial. Contando com o apoio dos civis, a união pela democracia teve seus momentos decisivos marcados pela questão cultural, quando os responsáveis pelas estratégias para isolar o governo usaram músicas como senhas para orientar o povo sobre a movimentação dos revolucionários. E para isso fizeram uso do meio de comunicação mais popular à época, o rádio. Foi por ele, em 25 de abril de 1974, que se ouviram as senhas confirmando a arrancada da revolução festejada com música e distribuição de cravos aos militares e à população. E pela democracia, celebremos todos os dias.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter