Ronaldo Vaio: O tempo de nós

O tempo estica e encolhe ao sabor da consciência, o que foi ontem às vezes parece há muito

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  08/09/23  -  06:05
  Foto: Unsplash/Lukas Blazek

Cinquenta e duas semanas, 365 dias, 8.760 horas, 525.600 minutos. O tempo estica e encolhe ao sabor da consciência, o que foi ontem às vezes parece há muito, o que aconteceu há séculos, um sopro na ampulheta. Na verdade, esta crônica não é sobre o tempo em si, mas sobre o tempo que se constrói ao redor de nós dois: faz um ano que a vida aproximou, juntou, misturou de vez quem já vinha ensaiando um balé de iguais, mas tão iguais, que para um o outro enxergar bastaria um espelho.


O tempo brinca em uma valsa que nos enreda na pergunta: por que só agora? Apenas para receber a resposta: antes tarde do que nunca, pois se com o teu o meu caminho jamais houvesse cruzado, eu nunca teria sido o riso plácido que hoje sou, a cada manhã que o sol invade a casa da nossa vida. E se parece começar um sonho bom ao abrir os olhos, a realidade plácida dos dias que se seguem nesse calendário diáfano, meio que feito de tênues fios de algodão doce perdendo-se na brisa das horas, reafirma no concreto das coisas, seja a tevê da sala, a mesa da cozinha, a geladeira e o fogão, a indelével verdade de você e eu.


O tempo brincava de esconde-esconde quando você chegou: me escondia da luz, noites escuras sobre mim, fera sem rumo ou propósito, desaprumada. Hoje, solares, a noite é estelar no passeio das galáxias. O tempo é tão agora, que cabe até a borboleta preta e vermelha de ontem, na esquina de casa: vaga de propósitos, portanto com todas as possibilidades do mundo, pousou confiante e faceira na palma da tua mão, comigo, ao lado, observando o que na verdade jamais estaria à vista, sob as cortinas da doçura sugerida, um mundo que se salvou da extinção. Diáfana, a borboleta talvez não mais aqui esteja, mas o tempo congela o momento por trás da nossa retina, assim como a tua presença, no por dentro dos olhos, memória e alma, corpo.


Quem pensaria que no balanço dos dias, as palavras, uma depois da outra, de mãos dadas, iriam estar aqui hoje, decantando esta vida maior que só a combinação única de você e eu faz existir, para além dos sonhos, para além do tempo, para sempre devotada no altar de um templo de amor, hoje razão e virtude da nossa paz de cada dia.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter