Retrospectiva de frases velhas para um bom ano novo

Todo final de ano é assim: há a tendência de se embrenhar no passado para verificar o que ficou para trás

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  29/12/23  -  06:31
  Foto: Pixabay

Todo final de ano é assim: há a tendência de se embrenhar no passado para verificar o que ficou para trás, o sonhado que não virou realidade ou os planos que vingaram e deram frutos. Também pode ocorrer o contrário: atirar-se em ânsias ao futuro, já planejando o que virá, quando virá, como virá. Menos difícil se as expectativas dependerem só de cada um. Porém, quase sempre, a concretização dos desejos está diretamente ligada à boa vontade de terceiros, quartos, quintos... perde-se em um emaranhado que, ao fim e ao cabo, por falta de definição melhor, resume-se por destino.


Não pretendo hoje nem fazer as contas das perdas e ganhos do que passou, tampouco desenhar as tabelas de Excel para amanhã. Mas também não quero me sentir deslocado das tradições brasileiras — humanas? — de fim de ano, de passar a régua no 31 de dezembro. E como aqui, neste canto de página, lidamos com a palavra, pretendo fazer uma retrospectiva de ditos e frases que se falavam outrora, mas que em grande medida saíram de moda. Para além deste 2023 que já dobra a esquina, minha retrospectiva é a da memória das palavras, de muitos anos velhos.


Mas será o Benedito, leitor? Não creio: se o Benedito ainda cá estivesse, talvez não se preocupasse tanto com a dúvida que a interjeição com seu nome pressupõe. Ela passará, e o que hoje parece beco sem saída amanhã é dia de sol. Mas quando nem que a vaca tussa parece favas contadas em prol da impossibilidade, eis que surge o milagre e vira tudo de cabeça para baixo: seja a chegada do carro novo na garagem ou, quem sabe, um pouco mais de paz neste mundo que anda tão conturbado. Mas vai que a vaca não tussa mesmo, aí o jeito é evocar outro bicho, em água que passarinho não bebe, para afogar, não digo as mágoas, mas a verdade irrefutável de que dinheiro não dá em árvore. Sendo assim, para cada macaco no seu galho, de grão em grão é que a galinha da prosperidade há de encher o papo.


Quanto à esperança, que já carrega o lastro de ser a última que morre, pode ter o fim adiado ainda mais se ancorada em “quem sai aos seus não degenera”. Aqui temos o tal copo meio cheio, meio vazio, pois o pessimista acreditará que a maldade se perpetua ao sempre sair aos seus. Prefiro o olhar otimista, que manterá o mundo de pé quando todo o resto já houver degenerado. E sigamos com esperança, pois, se quem tem boca vai a Roma, faz um caminho mais longo aquele que fala pelos cotovelos — e corre o risco até de ir parar onde Judas perdeu as botas.


Cruz-credo, que Deus nos livre da maledicência e da fofoca. Àqueles que se entregam a essas práticas, saibam: quem com ferro fere com ferro será ferido. E vão pentear macaco! Pois daqui para frente, em 2024, sem botar a carroça na frente dos bois ou arrumar sarna pra se coçar, com a certeza inabalável de que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, o desejo é o de fazer muitos negócios da China, sem esquecer, porém, de que nem tudo que reluz é ouro. Como não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, quero desejar a todos, agora, um feliz Ano-Novo e deixar um conselho para 2024: se quem não tem cão caça com gato, mais vale um pássaro na mão do que dois voando.


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