O confronto do século deste ano

Passaram-se Natal e Ano-Novo, começa o confronto com a balança, digno dos MMAs da vida

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  12/01/24  -  06:31
  Foto: Unsplash

Passaram-se Natal e Ano-Novo, começa o confronto com a balança, digno dos MMAs da vida – sigla em inglês para Artes Marciais Mistas. Aliás, a pesagem é um dos atrativos pré-luta, com caretas, muxoxos e ameaças entre os contendores. Ainda assim, no MMA a balança é coadjuvante. No pós-festas, ela é o próprio ringue. E se no MMA todos lutam para ganhar o ‘cinturão’, no pós-festas o desejo é o de perdê-lo.


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O confronto com a balança é mais estudado, meticuloso, até se compara melhor a uma partida de xadrez do que à porrada desembestada dos MMAs. Tem lances como o do sujeito que, ao avistar uma farmácia no meio do quarteirão, já atravessa a rua, esquivando-se do golpe. Outro incauto opta pelo ataque cauteloso: antes de dar o bote, tira sapato, relógio, óculos, cinto, correntinha e dentadura. Existe ainda o tipo que se atira ao ataque sem medo, mas vai ajustando o centro de gravidade no umbigo pra ver se encolhe uns 100 ou 200 gramas.


Quer saber? Que luta sem sentido: pois uma derrota na balança pode ser fruto de uma grande vitória na vida. Questões de saúde à parte, o que é um quilo a mais comparado àquele dia na praia entre amigos, brindado a caipirinha, o verde do limão, mar do Taiti, mais uma, por favor, o sol escorrendo em fim de tarde por trás da Ilha Porchat? Um quilo é uma doce memória impressa no corpo.


E os dois quilos borbulhantes que derretiam do pernil direto para os flancos da barriga, quanto mais se acompanhasse o processo, de olhos vidrados no forno? Nada são se levarmos em conta a tarde inteira de preparo, entre o sal e o azeite, o limão e a pimenta, uma gargalhada cúmplice pelo calor na cozinha, a temperatura subindo, a cerveja transbordando no copo, aquele brinde amoroso pelo tempero ardente, a pitada certeira do amor – e eu não estou falando apenas do pernil, né, Luciana?


Ponha mais três quilos na conta da confraternização com amigos de longa data, rodando cerveja, batida, batata frita, pastel e as porções de memória, que encurtaram o tempo e fizeram de você 30 anos mais jovem em uma noite.


Amores flambados, amizades confitadas, sonhos glacerados... que peso! Se para tudo isso é preciso brigar com a balança, que haja guerra dia e noite! Pois, na ditadura da balança, meu regime será sempre o da democracia dos afetos.


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