Reflexões sobre empreendedorismo

Se você quer empreender, aprenda a trabalhar sua mente para isso

Por: Rodrigo Paiva  -  26/12/23  -  06:39
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Em todo final de ano, é natural que façamos uma avaliação do que se passou em nossa vida pessoal e profissional, preparar resoluções para o ano vindouro e, com tudo isso, avaliar o que deu certo e nossos desejos futuros.


Eu venho pensando há algum tempo em escrever sobre empreendedorismo, contar um pouco da minha história, dos desafios e das frustrações ao longo de mais de 15 anos como empreendedor. Em 2022, esse desejo se tornou uma resolução de Ano-Novo e, por caminhos pelos quais eu não esperava, surgiu agora essa oportunidade.


Nunca pensei ter um perfil de empreendedor ou empresário. Nos 12 primeiros anos de carreira, sempre trabalhei para empresas como funcionário, ocupando as mais variadas posições. Busquei nesse período entender a lógica do funcionamento dessas empresas, quer tecnicamente, quer comercialmente, quer politicamente (interna e externamente). Mas, no fundo, nunca pensei em alçar voos diferentes daqueles de me desenvolver em uma carreira corporativa tradicional. Nem mesmo em projetos onde havia a necessidade de combinar técnica e comercial esse desejo foi latente.


Em 2010, fui convidado a fazer parte de uma grande empresa global de consultoria, sendo o líder de portos no Brasil e coordenando as ações comerciais na América Latina. Meu objetivo era criar a área de consultoria portuária aqui e depois galgar novos rumos fora do País. Foi então que minha carreira mudou. Exatos 26 dias após me juntar a essa empresa, recebi a notícia de sua venda para outra gigante norte-americana. Uma semana depois estávamos reunidos com o time do novo dono, com as principais posições já preenchidas. Mas, as coisas não são tão simples. Em um ou dois meses, percebeu-se o potencial de nossa unidade, que já contava com backlog maior do que a unidade adquirente. No fim, nos tornamos o braço portuário da companhia no Brasil.


Apesar dessa mudança, era nítido naquele momento que a fusão entre as empresas estava confusa e muito mal comunicada internamente. Muita dificuldade em se definir rumos e objetivos. Nenhum feedback aos líderes regionais, o que acabou por me fazer tomar uma das mais difíceis decisões da minha vida: rescindir meu contrato de trabalho.


Estávamos em um momento bastante positivo da economia e, no fundo, eu tinha claro que logo conseguiria um novo emprego tradicional. Foi então que a vida me mostrou o caminho do empreendedorismo. Fui convidado por uma grande construtora para prestar serviço como PMO de um projeto envolvendo ao menos sete empresas projetistas, um cliente estrangeiro e a própria construtora.


Sem muita pretensão, aceitei o desafio, apesar de ter um horizonte curto. Foi então que comecei a entender as oportunidades que estavam surgindo. As demandas começaram a aumentar e iniciei a agregação de mais profissionais para atender às demandas naquele momento.


Foram meses com uma angústia e um medo diferentes. Será que é esse caminho que quero seguir? Como serei um empreendedor se nunca me preparei para isso? Quais os desafios? O que me espera? Como agregar pessoas competentes? Como vender nossa expertise se nunca fui comercial? Enfim, havia mais dúvidas do que certezas.


Meu caminho não foi tradicional, não foi planejado. Talvez essa surpresa que a vida me apresentou tenha dificultado muito o início do meu desenvolvimento como empreendedor. Mas, certamente, me tornou um profissional mais completo.


Se você pensa que empreender é colher louros e vitórias, está bastante enganado. Colhemos muito mais derrotas. Vivemos na adversidade. Trabalhamos com a incerteza a maior parte do tempo. Nosso modo de pensar muda, nosso objetivo é sobreviver no longo prazo, de forma inteligente. Então, se você quer empreender, aprenda a trabalhar sua mente para isso. Procure ajuda especializada e mantenha sua saúde mental em dia. Os desafios são grandes.


Por outro lado, o propósito de vida, as pequenas vitórias diárias (e aqui não importa o tamanho ou qual, são vitórias, aprenda a saboreá-las), a liberdade profissional, o desejo de melhorar e fazer melhor, a satisfação de ver um cliente feliz, superam as inúmeras adversidades.


Essa satisfação profissional talvez preencha até mais do que o resultado financeiro. É algo supreendentemente bom saber que seu cliente deseja continuar trabalhando com você no longo prazo. E o mais importante, saber que sua equipe, as Pessoas (com P maiúsculo) estão engajadas, focadas e felizes. Enfim, trabalhamos com seres humanos, que tem seus problemas e desafios, seus medos e angústias, como nós. Um conselho: nunca subestime os medos alheios, sempre esteja aberto a ouvir, a ajudar e a ser uma pessoa e não um chefe. Humanize-se.


Por último, tenha resiliência. Isso é diferente de insistência. Para ter resiliência, é preciso entender o contexto em que você está vivendo. Ter um plano, saber como executá-lo e saber ouvir, aprender com erros, voltar e se reorganizar. Buscar soluções diferenciadas, sair da mesmice. Cair e levantar, mas com sabedoria. Não seja insistente se o mercado está te mostrando que daquela forma você não terá sucesso. Aprenda, seja flexível, se molde. E seja feliz! Não existe receita mágica. Nunca acredite nisso. Existe trabalho, suor, aprendizado. Mas, no final, procure ser feliz, não todos os dias, pois isso é impossível, mas a cada pequena vitória. Feliz 2024 a todos!!


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