Port Community System e os desafios para avançar

Projeto depende, essencialmente, da disposição da comunidade portuária em colaborar e adaptar suas práticas comerciais

Por: Roberto Paveck  -  30/04/24  -  06:40
  Foto: Matheus Tagé/Arquivo AT

Recentemente, uma reportagem do Jornal A Tribuna, intitulada “Port Community System ainda avança lentamente nos portos brasileiros”, ressaltou os desafios e a lentidão enfrentados pelo projeto no País. Embora reconhecido como um marco para o desenvolvimento portuário, o Port Community System (PCS) ainda enfrenta obstáculos significativos em sua adoção. Diante do tempo e dos recursos empreendidos, torna-se essencial compreender a verdadeira complexidade do PCS e, principalmente, como encontrar maneiras de avançar.


Conceitualmente, um Port Community System pode ser descrito como uma plataforma eletrônica neutra e aberta que facilita o intercâmbio de informações entre as partes interessadas, sejam elas públicas ou privadas. O principal propósito de um PCS é otimizar custos e tempo. Por exemplo, uma pesquisa realizada em 2009, pela Universidade de Rijeka, na Croácia, evidenciou que a adoção do PCS por uma comunidade portuária resultou em economias de até 39% no fluxo de documentos, afetando a lucratividade de toda a comunidade.


Contudo, apesar dos benefícios, o PCS é um projeto diferente de outras iniciativas tecnológicas. Para começar, sua implementação não pode ser simplesmente imposta, pois, em sua essência, o PCS representa uma forma de inovação colaborativa. Portanto, esse é um projeto que depende, essencialmente, da disposição da comunidade portuária em colaborar e adaptar suas práticas comerciais estabelecidas a um novo modelo.


De forma prática, desenvolver um PCS demanda uma compreensão profunda das atividades dos diversos entes que atuam no porto, além da reestruturação dos procedimentos existentes. Está é uma tarefa que requer um esforço considerável. Primeiramente, porque uma comunidade portuária representa um ecossistema complexo, composto por diversos atores, cujos interesses nem sempre estão alinhados. Em segundo lugar, é altamente provável que cada entidade tenha desenvolvido seus sistemas e processos, sem considerar a possibilidade de integração futura.


Por isso, o principal desafio do PCS é fomentar a cooperação entre as organizações que atuam numa comunidade portuária. Entidades, que muitas vezes são concorrentes no mercado e que, frequentemente, relutam em investir em iniciativas que envolvam a participação externa. Nesse contexto, a experiência internacional evidencia que os esforços devem estar direcionados, inicialmente, para um projeto de convencimento.


Nessa perspectiva, apesar dos argumentos robustos a favor do PCS, será necessário realizar estudos detalhados para identificar os investimentos necessários, integrações requeridas e, principalmente, os benefícios para cada entidade envolvida. Além disso, o envolvimento ativo do governo e das autoridades portuárias na definição de um propósito comum, bem como, na criação de um ambiente imparcial, será fundamental para o sucesso do projeto.


Por fim, é preciso compreender a real complexidade do Port Community System, um empreendimento multidisciplinar, de longo prazo e que não tem espaço para atalhos. Esse entendimento permitirá direcionar a atenção do “quando” para o “como”, promovendo uma abordagem mais pragmática do PCS. Reconhecer essa realidade será essencial para avançar, pois, apesar dos desafios, o PCS permanece como uma das melhores apostas para alcançar a prosperidade coletiva.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter