Num cenário competitivo, onde a crescente integração de novas tecnologias nas atividades cotidianas desafia tudo o que sabemos sobre as práticas atuais, a pesquisa científica, especialmente a aplicada, surge como uma aliada estratégica na busca por soluções concretas para os desafios enfrentados no mundo real. Nessa perspectiva, seria razoável esperar que os portos, enquanto setor estratégico para a economia, recebessem uma atenção substancial por parte da comunidade acadêmica.
Contudo, apesar dessa relevância, o que se destaca é uma curiosa falta de interesse na exploração de temas relacionados ao setor portuário. Como exemplo, o relatório “Panorama da Ciência Brasileira 2015 – 2020”, elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que apresenta uma visão geral da produção científica no Brasil, não faz menção a palavra “portos” em nenhuma das 200 páginas do documento.
Além disso, é interessante observar que mesmo os temas infraestrutura e logística, que potencialmente poderiam englobar os portos, não figuram entre os 35 principais clusters temáticos identificados pelo documento do CGEE, os quais representam aproximadamente 75% de toda a produção científica do país.
Essa constatação é especialmente preocupante por duas razões: primeiro, porque portos são elos centrais para a prosperidade econômica de qualquer país, e, como qualquer setor estratégico da economia, enfrentam desafios que seriam amplamente beneficiados pela pesquisa. Em segundo lugar, a ciência tem demonstrado um poder transformador imenso para outros setores estratégicos do Brasil. Um exemplo é o avanço significativo na produtividade do setor de agronegócio ao longo dos anos, impulsionado por pesquisa e inovação.
Diversos fatores podem explicar essa suposta falta de interesse, como a escassez de fontes de financiamento para pesquisa, em comparação com outras áreas temáticas, e a falta de conexão entre os pesquisadores e as organizações que atuam no setor. Em outras palavras, os pesquisadores tendem a se dirigir para onde encontram apoio e oportunidades. Essa lacuna não apenas destaca a necessidade de ação, mas também oferece uma oportunidade para fortalecer os vínculos entre a academia e o setor portuário.
Nesse sentido, a parceria entre a Autoridade Portuária de Santos (APS) e a Fundação Centro de Excelência Portuária de Santos (Cenep), para o fomento de até 70 bolsas para alunos de graduação, mestrado e doutorado desenvolverem pesquisa aplicada, é uma excelente notícia. Essa colaboração abre uma janela de oportunidades significativa para alunos e universidades, mas também oferece ao Porto de Santos recursos valiosos para enfrentar os desafios atuais e futuros. Por isso, é importante que as universidades aproveitem essa oportunidade.
Por fim, ao promover a pesquisa aplicada, os portos têm o potencial de impulsionar a inovação, a eficiência operacional e a sustentabilidade, enquanto as universidades ampliam sua influência para além do campus. Por isso, se formos capazes de reverter essa tendência, abriremos toda uma nova fronteira de oportunidades para que alunos e pesquisadores possam contribuir de maneira significativa para o progresso dos portos e, por consequência, para o desenvolvimento do Brasil.