Sevilla, um exemplo de organização a ser seguido

Há 20 anos, o time espanhol era rebaixado à segunda divisão e nadava em dívidas; hoje, ajeitou as contas e virou um bicho-papão em copas

Por: Bruno Rios  -  02/10/20  -  18:20
Atualizado em 02/10/20 - 18:39
Na Liga Europa 2019/2020, o Sevilla venceu a favorita Inter de Milão e conquistou o torneio pela 6ª
Na Liga Europa 2019/2020, o Sevilla venceu a favorita Inter de Milão e conquistou o torneio pela 6ª   Foto: Divulgação/Uefa

Após comentar o sucesso administrativo e esportivo do Independiente Del Valle, do Equador, na semana passada, procurei pensar em algum outro clube que tenha recentemente passado por semelhante transformação, excetuando-se os multimilionários empurrados à glória pelo cofre abastado de seus donos. E um nome me veio à cabeça na hora: Sevilla. 


Com uma estrutura infinitamente inferior na comparação com Real Madrid, Atlético de Madrid e Barcelona, os principais times da Espanha, o clube usou e abusou da criatividade para figurar atualmente em outro patamar. Se, no ano 2000, o time foi rebaixado para a segunda divisão espanhola, em 2020 celebra o fato de ter conquistado dez títulos nesse intervalo de tempo. 


Além de não gastar mais do que recebe (pareço repetitivo, mas é que o caos financeiro dos times brasileiros me deixa em choque, pois eles fazem exatamente ao contrário disso), o clube da Andaluzia contou com um profissional único, que inspirou outros trabalhos na Europa e impôs um método vencedor: Ramón Rodríguez Verdejo, o Monchi. 


Ele foi um goleiro mediano do clube que se aposentou na virada do século. Assim que foi nomeado dirigente, montou uma rede absurda de olheiros pelo mundo e reformulou o sistema de contratações do time. Após ajudar a colocar as contas em dia e evitar a venda do estádio para quitar dívidas, viu seus ousados passos renderem ótimos frutos. 


Em todas as temporadas, o serviço de Monchi e seus assistentes é exatamente o mesmo. Na primeira metade, entre agosto e dezembro, o objetivo é ver o maior número possível de partidas na Espanha, Inglaterra, Brasil, França, Alemanha, Portugal e onde mais haja bola rolando e algum sinal de talento dentro das quatro linhas. 


Quando chega todo mês de dezembro, o Sevilla tem catalogados de 400 a 450 jogadores, de todo o planeta. A partir daí, há um pente-fino e, no fim da temporada, é encaminhada ao treinador do time principal uma relação com sete atletas por posição, para ver quais deles se encaixam no que é necessário. Depois disso, há o início das negociações. 


Assim, o clube evita problemas como a indicação de jogadores que só o técnico conhece e gastos acima do que as finanças permitem (a equipe de Monchi não coloca na lista de 450 nomes craques consagrados e caros como Messi, Salah e Cristiano Ronaldo, por exemplo), além de permitir uma séria pesquisa sobre virtudes e defeitos dos atletas. 


Hoje, está claro que esse método deu certo. Na galeria de troféus, em duas décadas, são seis taças da Liga Europa, sendo a última delas conquistada em agosto, duas Copas do Rei, uma Supercopa da Espanha e uma Supercopa da Europa. Foram contratados e revendidos posteriormente Daniel Alves, Júlio Baptista, Keita, Rakitic, Negredo, Gameiro e Bacca, entre outros nomes. 


De uma equipe que estava na segundona, o Sevilla se tornou copeiro, rei da Liga Europa e exemplo, tendo seu método administrativo copiado em diversas agremiações mundo afora. Sob comando do técnico Julen Lopetegui e a bênção de Monchi, quem ousa duvidar que mais taças poderão chegar às galerias do clube? Eis a prova de que, cada vez mais, uma boa gestão faz a diferença no futebol. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter